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Teatro: Privatizem-se os sonhos colectivos

Um país ficcional, um país real. Os dois encontram-se sob o mesmo, vendido a privados. Uma história para conhecer em palco. Primeiro em Almada, depois em Lisboa.

26 de Março de 2016 às 13:30
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Nunca se diz que é Portugal. Para bom entendedor meia palavra basta. "É um futuro próximo que, infelizmente, não estamos assim tão distantes politicamente". Um país onde já quase tudo foi vendido a privados. "A última privatização culmina numa enorme agitação social".

Eis o ponto de partida de "Homem Morto não Chora" do grupo Não Matem o Mensageiro. Mafalda Santos assume a encenação. "Há também um escândalo de corrupção que envolve o ministério. O ministro, apesar de se declarar inocente, pede a demissão."


A entrevista final do governante vai para o ar, encomenda pelo próprio. Privatizar era inevitável para ajudar um país à beira da bancarrota. O espelho de um país mais palpável do que a ficção pode dar a entender.


"Sentimos que as privatizações levadas a cabo recentemente lesam profundamente o país e as próximas gerações de uma forma que dificilmente se conseguirá inverter. Também já há pouco para privatizar". Mafalda Santos admite: este é mesmo Portugal.


"Homem Morto não Chora" quer afirmar-se como "uma chamada de atenção, uma caricatura, para as privatizações descontroladas e selvagens que têm sido feitas no nosso país, alienando aquilo que é património dos portugueses e não a propriedade de alguns políticos". Ganhar eleições não dá essa legitimidade, lembra a encenadora.


Falta a consciência e a força colectivas para que algo se inverta. "Infelizmente, as pessoas estão um pouco adormecidas e não se apercebem da gravidade daquilo que se está a fazer. Porque interessa aos políticos e aos meios de comunicação, que são controlados por grandes grupos económicos, que essa informação não passe muito clara e transparente".


As novas terminologias económicas só complicam essa compreensão. Os trabalhadores são colaboradores, os patrões são empregadores, os despedimentos são dispensas. "Uma tentativa de eufemização, uma escolha ideológica para mudar a forma como se vê a força do trabalho". Sem ingenuidades.


O pedido de desculpas, tímido, lá acaba por chegar à boca deste ministro ficcional. Na vida real, as coisas são diferentes. "Os nossos governantes devem muitas desculpas ao país. Por terem traído tantos valores conquistados com o 25 de Abril. Foram destruídos por governantes que tinham obrigação de defender, proteger e acarinhar a Constituição".


E não é por falta de noção ou inteligência. É tudo por uma questão de ideologia, posiciona a encenadora deste grupo assumidamente de teatro político. "Estar ao serviço da senhora [Angela] Merkel é incompatível com estar ao serviço dos eleitores". O balanço tende a pender sempre para um lado.


Mafalda Santos vê agora o país numa fase de viragem. "Há sinais positivos com este novo governo. Infelizmente, há muito a fazer e as medidas apresentadas agora não são suficientes. Um país evoluído precisa que a cultura esteja forte e ao acesso de todos. Em Portugal ainda não está". A manifestação segue no palco.

sugestão
Homem Morto não Chora Texto de António Santos 
Encenação de Mafalda Santos 
Interpretação de André Levy e André Albuquerque 

Onde: Teatro-Estúdio António Assunção (Almada), Comuna Teatro de Pesquisa (Lisboa) 
Quando: 24 de Março a 3 de Abril (Almada), 14 a 24 de Abril (Lisboa) 
Quanto: cinco euros
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