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Teatro: Para quê tanta seriedade, senhores?

Olhar de criança, como quem vê o mundo pela primeira vez. Ricardo Neves-Neves quer cultivá-lo e fazer o teatro valer por si. Um encenador para descobrir em “A Noite da Dona Luciana”, no Teatro da Politécnica em Lisboa.

05 de Março de 2016 às 13:30
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Este é um ensaio tardio, daqueles que se arrastam para lá das quatro da manhã. "O teatro dentro do teatro, dentro do teatro, dentro do teatro". A senhora da limpeza – a Luciana que dá nome à peça – é assassinada. Quem é o culpado?

Jogo de suspeitas em curso, um policial de riso fácil. Pelas personagens, pelas situações, pelos figurinos. "É uma peça com uma estrutura aparentemente muito complexa, mas é uma comédia bastante leve". Não tivesse "A Noite da Dona Luciana" o dedo de Ricardo Neves-Neves na encenação.


Mais do que uma reflexão sobre a estrutura teatral, uma brincadeira. "Como trabalho muito noutros sítios, às vezes a levarmo-nos demasiado a sério, quanto tomo a iniciativa de fazer um espectáculo, gosto de me divertir. Com sentido de responsabilidade".


"Quando temos oportunidade de fazermos aquilo que queremos, de podermos brincar, acho que é tão…". Alguns segundos de hesitação. "Fixe", completa o encenador. Ricardo Neves-Neves gosta de aplicar a sua visão, o seu humor. Para ele, "absurdo" sabe a elogio.

Ricardo Neves-Neves gosta de aplicar a sua visão, o seu humor, aos espectáculos.
Ricardo Neves-Neves gosta de aplicar a sua visão, o seu humor, aos espectáculos. Bruno Simão


"Parece que o teatro só por si já não vale. Agora, o teatro tem de ter uma função ou missão. Isso aborrece-me um bocadinho. Gosto muito do teatro só porque é teatro. Não tem de ser de educação ou de comunidade, de denunciar uma fragilidade na sociedade ou na política".


O teatro está a ficar com muitas obrigações, "o que é uma restrição para os artistas". Seja pelas orientações políticas ou pelos compromissos das casas que encomendam os projectos. Aos 30 anos, Ricardo Neves-Neves quer manter o olhar de criança, o entusiasmo de estar a receber algo pela primeira vez, o sentimento de descoberta.


Em "A Noite da Dona Luciana" mistura essa ingenuidade e o "humor negro, com desvio para a perversidade", característico do argentino Copi. O texto – apresentado pela primeira vez na década de 1980 – chegou-lhe às mãos há quatro anos, aconselhado por Jorge Silva Melo. Depois, o "projecto foi amadurecendo" até chegar a cena.


No Teatro da Politécnica, em Lisboa, fica até 19 de Março. Seguirá depois numa digressão pelo país. "Fico muito frustrado quando apresento temporadas de dois ou três dias, depois de meses de trabalho e de um investimento financeiro e humano tão grande".


"O teatro estimula o pensamento, a forma como vemos o mundo e estamos na vida. E relativiza as nossas questões e problemas, de uma maneira mais simples". Se isso for feito com um sorriso nos lábios, tanto melhor. Ricardo Neves-Neves quer estar lá a aplaudir na primeira fila.

Sugestão
A Noite da Dona Luciana Texto de Copi
Encenação de Ricardo Neves-Neves
Interpretação de Custódia Gallego, José Leite, Patrícia Andrade, Rafael Gomes, Rita Cruz e Vítor Oliveira (Teatro do Eléctrico)

Onde
: Teatro da Politécnica, Lisboa
Quando: 24 de Fevereiro a 19 de Março
Quanto: dez euros, com descontos aplicáveis
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