Notícia
Teatro: A incapacidade de respirar
E se, enquanto discutimos, lá fora tudo desabasse? E se, enquanto discutimos, perdêssemos a capacidade de respirar? Talvez os nossos "Pulmões" precisem de se habituar ao fim do mundo.
Quando Luís Araújo, algures no Verão de 2016, leu esta peça, ela parecia apenas uma "tragédia doméstica". Não que nisso houvesse qualquer desmérito. Percebeu-o numa segunda leitura da peça assinada pelo inglês Duncan Macmillan.
Desta vez, já tinha sido desafiado pela companhia Ao Cabo Teatro a criar um díptico sobre o fim do mundo. O antes e o depois do apocalipse. E, assim, "Pulmões" ganhou um novo fôlego. "Por baixo das discussões do casal, está o mundo lá fora a desabar", enquadra.
Uma das imagens que lhe surgem é a das comédias televisivas, em que esse contacto com o mundo real só acontece através das janelas. Um contacto breve, mas intenso, como a carreira do espectáculo no São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa, de 28 a 30 de Setembro.
Este casal na casa dos 30, Luís Araújo e Maria Leite, discute sobre ter um filho e o impacto que essa decisão - que parece tão pessoal, tão privada - pode ter no próprio mundo. Uma discussão frente a frente, face a face, num mundo onde tudo parece intermediado.
"Somos uma geração que cresceu com este ruído pós-modernista", reflecte Luís nesta conversa por telefone. Um ruído que parece impedir-nos de nos envolvermos verdadeiramente nas coisas do mundo, por mais que abanemos as bandeiras da ecologia, decidamos deixar de comer carne ou separar o nosso lixo.
É tempo não de sacudir responsabilidades, mas de compreender os limites da nossa relação intermediada com o mundo. "Eu sou parte do problema. É difícil tecer juízos de valor sobre a nossa própria geração", reconhece o criador. Sobretudo por vivermos imersos em incerteza, seja ela económica, política, ambiental ou social.
É como se perdêssemos o ar ou a capacidade de respirar. É mais angustiante, asfixiante, não saber o que aí vem. Mas, de alguma forma, aprendemos a viver assim e a procurar aquilo a que chamamos felicidade.
Utilizemos esse sentimento como linha de horizonte colectivo. Porque, se em "Pulmões" o mundo se prepara para o fim, o verdadeiro cataclismo só chegará no próximo ano. O díptico completa-se com nome de mulher e actriz, nome de longa tempestade: "Jane Fonda".
Desta vez, já tinha sido desafiado pela companhia Ao Cabo Teatro a criar um díptico sobre o fim do mundo. O antes e o depois do apocalipse. E, assim, "Pulmões" ganhou um novo fôlego. "Por baixo das discussões do casal, está o mundo lá fora a desabar", enquadra.
Este casal na casa dos 30, Luís Araújo e Maria Leite, discute sobre ter um filho e o impacto que essa decisão - que parece tão pessoal, tão privada - pode ter no próprio mundo. Uma discussão frente a frente, face a face, num mundo onde tudo parece intermediado.
"Somos uma geração que cresceu com este ruído pós-modernista", reflecte Luís nesta conversa por telefone. Um ruído que parece impedir-nos de nos envolvermos verdadeiramente nas coisas do mundo, por mais que abanemos as bandeiras da ecologia, decidamos deixar de comer carne ou separar o nosso lixo.
É tempo não de sacudir responsabilidades, mas de compreender os limites da nossa relação intermediada com o mundo. "Eu sou parte do problema. É difícil tecer juízos de valor sobre a nossa própria geração", reconhece o criador. Sobretudo por vivermos imersos em incerteza, seja ela económica, política, ambiental ou social.
É como se perdêssemos o ar ou a capacidade de respirar. É mais angustiante, asfixiante, não saber o que aí vem. Mas, de alguma forma, aprendemos a viver assim e a procurar aquilo a que chamamos felicidade.
Utilizemos esse sentimento como linha de horizonte colectivo. Porque, se em "Pulmões" o mundo se prepara para o fim, o verdadeiro cataclismo só chegará no próximo ano. O díptico completa-se com nome de mulher e actriz, nome de longa tempestade: "Jane Fonda".