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Teatro: A incapacidade de respirar

E se, enquanto discutimos, lá fora tudo desabasse? E se, enquanto discutimos, perdêssemos a capacidade de respirar? Talvez os nossos "Pulmões" precisem de se habituar ao fim do mundo.

Pulmões - A peça encenada por Luís Araújo já passou por Guimarães, Porto e Braga. Depois de Lisboa, onde está apenas este fim-de-semana, ruma a Viseu, em Novembro.
29 de Setembro de 2018 às 14:00
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Quando Luís Araújo, algures no Verão de 2016, leu esta peça, ela parecia apenas uma "tragédia doméstica". Não que nisso houvesse qualquer desmérito. Percebeu-o numa segunda leitura da peça assinada pelo inglês Duncan Macmillan.

Desta vez, já tinha sido desafiado pela companhia Ao Cabo Teatro a criar um díptico sobre o fim do mundo. O antes e o depois do apocalipse. E, assim, "Pulmões" ganhou um novo fôlego. "Por baixo das discussões do casal, está o mundo lá fora a desabar", enquadra.

Uma das imagens que lhe surgem é a das comédias televisivas, em que esse contacto com o mundo real só acontece através das janelas. Um contacto breve, mas intenso, como a carreira do espectáculo no São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa, de 28 a 30 de Setembro.

Este casal na casa dos 30, Luís Araújo e Maria Leite, discute sobre ter um filho e o impacto que essa decisão - que parece tão pessoal, tão privada - pode ter no próprio mundo. Uma discussão frente a frente, face a face, num mundo onde tudo parece intermediado.


"Somos uma geração que cresceu com este ruído pós-modernista", reflecte Luís nesta conversa por telefone. Um ruído que parece impedir-nos de nos envolvermos verdadeiramente nas coisas do mundo, por mais que abanemos as bandeiras da ecologia, decidamos deixar de comer carne ou separar o nosso lixo.

É tempo não de sacudir responsabilidades, mas de compreender os limites da nossa relação intermediada com o mundo. "Eu sou parte do problema. É difícil tecer juízos de valor sobre a nossa própria geração", reconhece o criador. Sobretudo por vivermos imersos em incerteza, seja ela económica, política, ambiental ou social.

É como se perdêssemos o ar ou a capacidade de respirar. É mais angustiante, asfixiante, não saber o que aí vem. Mas, de alguma forma, aprendemos a viver assim e a procurar aquilo a que chamamos felicidade.

Utilizemos esse sentimento como linha de horizonte colectivo. Porque, se em "Pulmões" o mundo se prepara para o fim, o verdadeiro cataclismo só chegará no próximo ano. O díptico completa-se com nome de mulher e actriz, nome de longa tempestade: "Jane Fonda". 


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