Já se tornou comum ouvir dizer que os semicondutores, ou "microchips", as pequeníssimas placas de silício implantadas com circuitos eletrónicos, são o petróleo do século XXI. A comparação é válida pela sua relevância estratégica na economia mundial (eles são utilizados em praticamente tudo do nosso dia a dia, desde os telemóveis aos automóveis, passando pelos eletrodomésticos caseiros e, claro, os computadores) e pelo caráter decisivo que o seu controlo pode trazer na luta pela supremacia mundial. Económica, sim, mas também bélica. Ou não fosse a guerra cada vez mais uma questão tecnológica.
A pandemia de covid-19, com a escassez que trouxe destes minúsculos componentes sem as quais a vida moderna seria inimaginável, fez soar alarmes um pouco por todo o mundo. Fábricas a meio-gás, economias a arrastar os pés, dores de cabeça para empresários e políticos, fantasmas de desemprego para a mão de obra. De repente, até o cidadão comum começou a ouvir falar de "microchips" e a ter alguma noção da sua relevância na economia global. E então percebemos que o mundo inteiro está à mercê do que possa acontecer em meia dúzia de pontos do globo. Nem o petróleo consegue ser tão exclusivo.
Na verdade, conforme explica Chris Miller no livro "A Guerra dos Chips" (ed. D. Quixote, 2023), chegámos a um ponto em que pouco mais de uma mão-cheia de empresas controlam o maior negócio do planeta. Em primeiro lugar, quase todos os "chips" do mundo "usam tecnologia de três companhias sediadas nos Estados Unidos": a Cadence, a Synopsys e a Mentor (que pertence à alemã Siemens, mas tem sede no estado do Oregon, EUA). Depois, no processo de fabrico, e falando dos semicondutores mais avançados, os dois atores quase exclusivos são a Samsung (da Coreia do Sul) e a TSMC (de Taiwan). Esse fabrico depende de tecnologia de litografia EUV (que permite "imprimir" os circuitos na placa de silício) produzida apenas por uma empresa, a neerlandesa ASML, através da sua subsidiária Cymer, sediada em San Diego, Califórnia.
Os países com capacidade estratégica para influenciarem o mercado são, também, muito poucos. Os EUA vêm à cabeça, graças ao seu papel pioneiro na indústria, mas também alguns "dragões" asiáticos – Coreia do Sul, Japão, Taiwan e Singapura – onde se concentra a produção de semicondutores e de muitos dos aparelhos que os utilizam, com destaque para os smartphones, que absorvem um quarto do mercado de "chips" a cada ano que passa. Então e a China? A China é o "inimigo".