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Rui Costa: "O futebol continua a ser um negócio que atrai multidões e milhões"

Rui Costa diz que o melhor momento da sua vida futebolística foi a conquista do mundial de sub-20, o pior a final perdida do Euro 2004. E elege Maldini com o melhor futebolista com quem jogou.

10 de Março de 2017 às 11:10
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O futebol vive acima das suas possibilidades?

Faço este mês 45 anos, entrei para o futebol com cinco, sou profissional desde os 17 e meio e desde essa altura que oiço isso. E continua a ser a indústria que mais dinheiro gera ao longo do ano. Basta ver os resultados da UEFA. E, se continua a haver estas posses financeiras, nomeadamente em determinadas ligas e clubes, é porque continua a ser um negócio que atrai multidões e milhões.

 

A selecção portuguesa que foi ao Europeu da Bélgica-Holanda em 2000 podia ter ganho este Europeu de França?

Em futebol, não há "ses". E estes campeonatos não são jogos de Playstation, em que se pode voltar para trás.

 

Sente nostalgia em relação a isso?

Nostalgia, sentimos a cada momento que perdemos, porque isso fica para nossa carreira. Tive duas possibilidades de conquistar o título de campeão da Europa, quer na Holanda, quer em 2004 em Portugal, e fica uma mágoa, uma dor, uma revolta até, para o resto da vida. Isso não implica inveja, ou ciúmes, daqueles que acabaram de ganhar. Os que acabaram de ganhar estavam a representar-me a mim também enquanto cidadão português. E festejei como se nunca tivesse participado num jogo de futebol. Esta geração deu-nos uma alegria e trouxe para casa uma coisa que nós lutámos tanto para trazer. Se me pergunta se eu tenho orgulho daquilo que a minha geração acabou por construir, a resposta é que tenho o maior orgulho porque, entre 1984 e 1996, Portugal nunca esteve sequer perto de participar num Europeu. E, a partir da nossa geração, por mérito próprio e de todo o conjunto que trabalhou o futebol português na altura, deixámos de ser uma surpresa quando lá íamos para sermos uma grande surpresa se não estivéssemos presentes. E eu tenho a sorte e o privilégio de ter feito parte dessa geração.


E aí houve, por exemplo, um grande trabalho de Carlos Queiroz?

Com as duas selecções de sub-20 que foram campeãs do mundo e acabam por formar aquilo a que se chamou a geração de ouro do futebol português. Que acaba por ser aquela que abre portas para o estrangeiro e mantém a assiduidade de presenças nas grandes competições internacionais.

 

Como é que preenche a sua vida além do futebol?

Às vezes preencho com futebol.

 

Qual foi o melhor momento da sua vida enquanto futebolista?

Felizmente, foram muitos. Fui um privilegiado e continuo a sentir-me assim. Desde ser campeão do mundo de sub-20 por Portugal, em 1991, ainda para mais em Portugal. Sou um privilegiado porque bato o último penálti. Se nos meus sonhos eu pintasse um quadro a dizer o que queria, nunca me passaria pela cabeça pintar uma coisa tão bonita, como foi aquele dia para mim e para todos nós. Lembro-me que disse naquele dia que esperava vir a ser um grande jogador de futebol e ganhar tudo o que havia para ganhar no mundo, mas que tinha quase a certeza de que, ganhasse o que ganhasse a partir dali, nada me seria tão emotivo quanto aquele dia. E não por ter tido a felicidade de ser o último a bater o penálti, mas porque nenhum de nós estava pronto para aquilo. No íntimo, queríamos ser campeões do mundo, mas nenhum de nós estava pronto para jogar para 130 mil pessoas e se tornar estrela de um dia para o outro. Nós passámos do anonimato ao estrelato num dia. E quem é que estava pronto para uma coisa dessas? Ninguém. A partir dali, disse-o, tudo o que viesse a ganhar seria diferente. Seria sempre uma festa, um orgulho e uma emoção, mas nunca poderia ser como aquele dia. E, de facto, até acabei por ser campeão da Europa de clubes, e o título mais importante que tenho na minha carreira, mas quando sou campeão da Europa já estou pronto para o ser.


E o pior momento?

Há dois que são fatídicos para mim, não sei qual deles é que meto em primeiro lugar. Mas, na indecisão, meto sempre o Euro 2004 à frente, porque foi um título que me fugiu, porque estava a representar a selecção e porque foi uma oportunidade única que nós tivemos e acabámos por deixar fugir. A outra é também uma final da Liga dos Campeões, a minha segunda, Milan-Liverpool, estar a ganhar 3-0 ao intervalo e acabar por perdê-la nos penáltis é uma coisa que fica atravessada na garganta.

 

Diga-me um jogador com o qual jogou e que já não esteja no activo que gostaria de ter visto jogar no Benfica?

Felizmente para mim, joguei com uma elite muito grande. Mas o Maldini foi o melhor com que joguei à bola. Eu acho que é unânime. Se for perguntar às gerações que jogaram no Milan ou na selecção italiana na altura dele, acho que quase todos vão dizer que o Maldini era o melhor.

 

Porquê?

Uma, pela qualidade de jogador que ele tinha, outra, pelo carisma, pela forma como liderava enquanto capitão, pelo homem que ele é – é aquela pessoa de quem facilmente e rapidamente se diz que é um modelo, pela forma como treinava, pela forma como se empenhava, pela fome de títulos que tinha, apesar dos muitos que ganhou, mas um faminto com uma classe tremenda.

 

O futebol deu-lhe muitos amigos?

Deu. Nesse aspecto, o futebol tem uma coisa muito boa e outra muito má. Boa, porque lidamos com uma quantidade enorme de colegas e pessoas que acompanham as equipas, o que nos dá a oportunidade de criar amizades em todo o mundo. Por outro lado, como é uma carreira curta, e que muitas vezes obriga a transferências, deixamos de lidar uns com os outros e, como deve perceber, um jogador de futebol passa quase mais tempo com os colegas do que com a família. Criam-se laços de amizade e de companheirismo muito grandes.



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