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Reclames em néon: Património iluminado

A exposição Cidade Gráfica, inaugurada em Lisboa, alerta para o potencial patrimonial e de investimento do velhinho reclame em néon, que ganha agora direito ao lugar que merece.

03 de Dezembro de 2016 às 10:15
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Será que um letreiro, uma tabuleta, um reclame (como nós dizíamos e ainda dizemos por aqui) e um néon podem ser património? Há uns meses, não tivemos dúvidas em defender, neste espaço, que todos estes tipos de comunicação gráfica são não só património, mas um património histórico importante dos últimos cinquenta anos, pelo menos. A discussão foi trazida para esta página porque queríamos, na altura, chamar a atenção para o trabalho dos designers Rita Múrias e Paulo Barata, unidos desde 2014 no projecto Letreiro Galeria, que assenta exactamente na pesquisa, identificação e preservação destes artefactos, apenas na Grande Lisboa, para já.

A boa notícia é que o projecto não parou, e, aliás, cresceu a um ponto que permite, desde já, que todos possam participar na discussão. Efectivamente, da recolha de exemplos feita pelos designers, oitenta deles foram seleccionados e deram uma exposição, a "Cidade Gráfica", organizada em conjunto com o MUDE, que abriu agora no Convento da Trindade, em Lisboa. Optando por uma organização clássica e racional, a exposição está orientada por materiais comunicativos, nos quais se destacam as tabuletas de vidro, as placas de metais e as portas guarda-vento.

Os néons, o material dominante, estão expostos por tipos de fontes. Ao percorrer a exposição, ficam poucas dúvidas. Acreditamos que os néons devem receber a classificação de património já que a descodificação cultural e económica que permitem está longe de ser limitada.

Realmente, vê-se nestes objectos a influência do vocabulário inglês "americanizado", que muda o nome dos locais comerciais, alguns para sempre, como a passagem do "café" para "snack-bar", mas também a teimosia de quem insiste em anunciar "em néon" estabelecimentos ou serviços cada vez mais anacrónicos.

No entanto, o grande contributo desta mostra e dos seus objectos é, sem hesitação, para o conhecimento que nos dá da vida económica e cultural da cidade, determinada sempre pelos interesses e influências dos seus habitantes.

A caça ao néon

A exposição "Cidade Gráfica" tem exemplares fantásticos, que marcaram Lisboa, como é o caso do que iluminava o Hotel Ritz e outros que fazem parte da memória e do imaginário dos lisboetas, e que são impossíveis de encontrar em outro lugar do mundo. Exemplo disso são os que pertenceram ao Rei das Fardas ou os de alguns oculistas independentes. Tanto assim é que o movimento lançado por Rita Múrias e Paulo Barata têm provocado, nos últimos meses, uma espécie de "caça ao néon", de que muito têm beneficiado os antiquários, especialmente da rua de S. Bento, e algumas casas vintage, que estão agora relativamente bem munidos de exemplares, apesar de estes serem vendidos rapidamente. O movimento de compra é feito quer para a decoração interior de casas comerciais, como para a mesma função, mas em casas particulares. É um bom movimento porque vai solidificando o investimento e a reciclagem permite a manutenção da memória. 


*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.  

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