Notícia
Reclames em néon: Património iluminado
A exposição Cidade Gráfica, inaugurada em Lisboa, alerta para o potencial patrimonial e de investimento do velhinho reclame em néon, que ganha agora direito ao lugar que merece.
A boa notícia é que o projecto não parou, e, aliás, cresceu a um ponto que permite, desde já, que todos possam participar na discussão. Efectivamente, da recolha de exemplos feita pelos designers, oitenta deles foram seleccionados e deram uma exposição, a "Cidade Gráfica", organizada em conjunto com o MUDE, que abriu agora no Convento da Trindade, em Lisboa. Optando por uma organização clássica e racional, a exposição está orientada por materiais comunicativos, nos quais se destacam as tabuletas de vidro, as placas de metais e as portas guarda-vento.
Realmente, vê-se nestes objectos a influência do vocabulário inglês "americanizado", que muda o nome dos locais comerciais, alguns para sempre, como a passagem do "café" para "snack-bar", mas também a teimosia de quem insiste em anunciar "em néon" estabelecimentos ou serviços cada vez mais anacrónicos.
No entanto, o grande contributo desta mostra e dos seus objectos é, sem hesitação, para o conhecimento que nos dá da vida económica e cultural da cidade, determinada sempre pelos interesses e influências dos seus habitantes.
A caça ao néon
A exposição "Cidade Gráfica" tem exemplares fantásticos, que marcaram Lisboa, como é o caso do que iluminava o Hotel Ritz e outros que fazem parte da memória e do imaginário dos lisboetas, e que são impossíveis de encontrar em outro lugar do mundo. Exemplo disso são os que pertenceram ao Rei das Fardas ou os de alguns oculistas independentes. Tanto assim é que o movimento lançado por Rita Múrias e Paulo Barata têm provocado, nos últimos meses, uma espécie de "caça ao néon", de que muito têm beneficiado os antiquários, especialmente da rua de S. Bento, e algumas casas vintage, que estão agora relativamente bem munidos de exemplares, apesar de estes serem vendidos rapidamente. O movimento de compra é feito quer para a decoração interior de casas comerciais, como para a mesma função, mas em casas particulares. É um bom movimento porque vai solidificando o investimento e a reciclagem permite a manutenção da memória.
*Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.