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Plágio académico: o que está a falhar nas universidades?

O primeiro-ministro do Luxemburgo, Xavier Bettel, é o mais recente político acusado de plágio académico. Nos últimos anos, foram vários os governantes que estiveram debaixo do foco mediático pelas mesmas razões. Mais do que a condenação social, importa perceber um problema de fundo: o que está a falhar nas universidades para não detetarem estes casos?
Filipa Lino 06 de Novembro de 2021 às 11:00

Vinte anos é muito tempo? Talvez não o suficiente para apagar erros do passado. Sobretudo se a pessoa em questão ocupar um alto cargo público. Xavier Bettel, o primeiro-ministro do Luxemburgo, aprendeu essa lição da pior forma. Está a ser acusado de, em 1999, ter plagiado a quase totalidade da sua tese para obter um título académico equivalente a mestrado, na Universidade de Lorraine, em França.

 

A denúncia surgiu na sequência de uma investigação jornalística da revista luxemburguesa Reporter, que concluiu que 96% da tese, intitulada "Rumo a uma possível reforma dos sistemas de votação nas eleições para o Parlamento Europeu", foi escrita sem as devidas citações académicas, com base na cópia de excertos de dois livros, um artigo de jornal e quatro sites.

 

Confrontado com as acusações, Bettel não negou os factos. Admitiu que deveria ter escrito a dissertação "de forma diferente" mas que, à época, fez a tese com o melhor do seu "conhecimento e crença".

 

Por seu lado, a Universidade de Lorraine garantiu que "leva a sério a violação da integridade científica" e que "será realizada uma investigação sobre o conteúdo da dissertação" em causa. As possíveis sanções vão depender da conclusão da investigação. A universidade recordou, no entanto, que naquela altura as instituições "não estavam equipadas com o software antiplágio", de que atualmente dispõem.

 

Xavier Bettel não é o primeiro político a ser apanhado na armadilha do plágio académico. São vários os casos de governantes que vieram a público nos últimos anos, e alguns caíram mesmo da cadeira do poder.

 

Pál Schmitt, antigo Presidente da Hungria, renunciou ao cargo em 2012, quando a Universidade Semmelweis lhe retirou o doutoramento acusando-o de ter cometido plágio na sua tese sobre a história dos Jogos Olímpicos, defendida 20 anos antes. Também a Alemanha já assistiu a vários dos seus ministros serem alvo das mesmas acusações.

 

Franziska Giffey abandonou este ano o cargo de ministra da Família no governo liderado por Angela Merkel, quando voltaram a surgir suspeitas de ter cometido plágio no seu doutoramento sobre a União Europeia em 2010, na Universidade Livre de Berlim. As suspeitas eram recorrentes e, depois de uma nova avaliação, a universidade decidiu retirar-lhe o título académico. 

 

Antes, o ex-ministro da Defesa Karl-Theodor zu Guttenberg, doutorado em Ciência Política na Universidade de Bayreuth, e a ex-ministra da Educação Annette Schavan, que tinha um doutoramento em Filosofia, na Universidade de Düsseldorf, passaram pelo mesmo processo de afastamento dos cargos governativos por acusações de plágio académico nas suas teses de doutoramento.

 

Também Ursula von der Leyen, a atual presidente da Comissão Europeia e ex-ministra alemã da Defesa, teve em 2015 a sua tese de doutoramento em Medicina – defendida em 1991 na Universidade de Hanôver – posta em causa pelo Vroniplag, site especializado na deteção de fraude académica. Ao ser acusada de ter feito 23 observações no texto sem citar as devidas fontes, Ursula von der Leyen pediu a peritos uma análise independente à sua tese, defendida 25 anos antes. As irregularidades encontradas foram consideradas erros de citação e Ursula manteve o título académico.

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