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Paula Amorim, a sucessora

A 12 de Maio, a assembleia-geral de accionistas deu luz verde à nomeação de Paula Amorim como presidente do conselho de administração da Galp, um lugar que foi ocupado pelo pai, Américo Amorim, o maior accionista da petrolífera. Quem a conhece diz que está preparada para ser a sucessora do homem mais rico de Portugal.


Fortuna: 4502 milhões de euros
Principais activos: Galp e Corticeira Amorim
Paula Nunes
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Tal como o pai não gosta de dar entrevistas. Numa das poucas que concedeu classificou-se como "mais adepta do trabalho do que da gestão".   Entrou no mundo dos negócios através da Fashion Clinic, tem uma paixão por sapatos e gosta de uma boa refeição com os seus dois filhos. Odeia galinhas.  


É fanática por jóias, relógios, bons hotéis, malas Birkin. E não lhe perguntem quantos pares de sapatos tem. Apesar de ter começado cedo a trabalhar no império empresarial do pai, com 19 anos, quis pedalar a sua própria bicicleta de luxo. Mas tem consciência de que há luxos impossíveis de comprar. "Resolvo muitas coisas com dinheiro. Mas não resolvo com dinheiro o ter de ir para Milão e os meus filhos ficarem em casa a chorar por mim. Mais do que tudo: é um luxo ter tempo para estar com os meus filhos", confidenciou Paula Amorim, em Novembro de 2010, em entrevista à revista Máxima.

Na altura, tinham os seus dois filhos 12 e 8 anos, a mais velha das três filhas de Américo Amorim conciliava a presença na administração de algumas empresas da família com a gestão da sua Fashion Clinic, adquirida cinco anos antes. Um negócio que lhe deu independência financeira e o saber quanto a custa ganhar. "O respeito que tenho pelo meu dinheiro, pelo dinheiro da minha mãe e do meu pai é o mesmo. É dinheiro de alguém que trabalha. Compro tudo com o meu dinheiro. Sou auto-suficiente desde que tenho a Fashion Clinic", afirmou, orgulhosa, ainda à mesma publicação. "É o seu símbolo de iniciativa e independência. Um gosto pessoal que escolheu e pôs em prática totalmente sozinha", reforça um amigo sob anonimato.

Um percurso em nome próprio na construção de um império da moda e do luxo. Paula Fernanda Ramos Amorim, de seu nome completo, nascida a 20 de Janeiro de 1971 no Porto (46 anos), detém uma rede de quatro lojas da Fashion Clinic, que vende vestuário e artigos de luxo de marcas como Prada, Christian Louboutin, Miu Miu, Givenchy, Stella McCartney, Jimmy Choo ou Balenciaga, em Lisboa e no Porto, a que acresce uma franquia da italiana Gucci.


A Fashion Clinic, que pôs em prática totalmente sozinha, é o seu símbolo de iniciativa e independência. 


Da moda de luxo multimarca, o negócio de Paula Amorim expande-se agora para o lifestyle com a abertura, em Lisboa, paredes-meias com o Teatro Tivoli, do JNcQuoi. Inaugurado há pouco mais de um mês, o "je ne sais quoi", onde a empresária investiu quatro milhões de euros, junta três conceitos distribuídos por três pisos: um bar com muitos produtos "gourmet", a primeira loja Fashion Clinic dedicada ao público masculino e um restaurante, decorado com frescos centenários e um dinossauro velociraptor à escala real no meio da sala.

Todo este pequeno, mas luxuoso conglomerado, tem como chapéu a Amorim Luxury, sociedade liderada pela "chairman" Paula e o CEO, Miguel Guedes de Sousa (gestor ligado ao negócio hoteleiro), com quem se casou a 8 de Dezembro de 2012, feriado da Imaculada Conceição. O casamento decorreu no jardim da casa da empresária, no Porto. Conheceram-se em Marrocos, no luxuoso hotel de Amenjena, Marraquexe, onde Miguel trabalhou como director-geral.

Independente e vaidosa

É o segundo casamento de ambos. Paula Amorim casou-se, pela primeira vez, em 1995, com Rui Alegre, pai dos seus dois filhos. Alegre trabalhou no grupo Amorim enquanto foi genro de Américo, tendo sido o mentor da marca de centros comerciais "Dolce Vita" - expressão encantadora, mas que também remete para um preguiçoso significado de "dolce far niente". Após o divórcio, o ex de Paula meteu-se no negócio dos navios de cruzeiros (comprou o paquete Funchal) e faliu.

Já Miguel Guedes de Sousa foi casado com Mafalda Bragança, filha de Isabel Soares e Pedro Bragança, da família dos duques de Lafões, tendo o enlace, no ano de 2000, sido realizado na Igreja de Cascais, seguindo-se um jantar no Hotel Palácio Estoril.

E é precisamente entre Cascais e o Porto, com múltiplas viagens ao estrangeiro, que Paula Amorim continua a ganhar mundo e a cumprir o conselho do pai, que um dia disse: "Saiam de Mozelos [sede da Corticeira Amorim]. Lavem a cabeça no mundo. Não se deixem aprisionar pela mentalidade do caldo-verde." Então o pai Américo confiou na sua primogénita a missão de lhe suceder na liderança da maior fortuna portuguesa.

Na definição de carácter, quem a conhece coloca na bandeja das virtudes características como as de ser responsável, independente, centrada no seus objectivos e ter bom gosto. Na bandeja dos defeitos apontam-lhe o facto de ouvir pouco e ser vaidosa. Como fiel desta mesma balança uma garantia: "O seu relacionamento com o pai é de profundo respeito e admiração." Além da paixão pelos sapatos, Paula Amorim gosta de boa comida, boa mesa, enfim, do ritual da refeição, tendo uma atracção fatal por uma boa sopa. Não dispensa passeios com os filhos e aprecia um bom filme como forma de ocupar os tempos livres. Em contrapartida, na sua lista de "não gosto" encontram-se itens como acordar cedo, galinhas, multidões e confusão.

Américo: "Sou eterno"

Em 2006, Américo Amorim clamou o seu "profundo" sentido da eternidade. "O prazer que tenho hoje no trabalho é igual ao que tinha quando comecei. Às vezes, falam-me da minha sucessão e eu digo que 'sou eterno'." Então com 72 anos, Américo continuava a olhar do alto dos seus 1,80 metros como um lobo solitário.

Paula Amorim com Carlos Gomes da Silva, CEO da Galp, no terraço da sede da empresa, nas Torres de Lisboa. As cores da roupa usada nesta circunstância por Paula Amorim replicam as que constituem a imagem corporativa da petrolífera.
Amorim detestava que lhe perguntassem sobre quem iria tomar o seu lugar. Em Fevereiro de 2009, o Negócios voltava à carga sobre a mesma matéria. "Sr. Américo, podemos falar sobre a sua sucessão?" Do outro lado do auscultador, a resposta surgia em formato desafiador: "Mas eu morri?!" Contornámos então a questão: ainda não pensa na reforma? Ups!, palavra maldita. "Acha que isto [leia-se império empresarial] existe em cima de cascas de laranja?! Deixe-me trabalhar!", atirou. Conversa acabada.

Dois meses antes, em Dezembro de 2008, numa outra entrevista ao Negócios, o empresário já se tinha mostrado indisponível para abordar o tema. "Então, se me sinto bem com a minha vida, se durmo com bastante tranquilidade, se me sinto feliz da forma como vivo, se me preencho com o meu 'benchmark' na utilização do meu tempo de lazer, família e economia, porque é que eu hei-de contrariar a minha felicidade?", justificava-se.

Paula, a escolhida

Com três filhas, que aparentemente não tinham herdado do pai a vocação para liderar o grupo, Américo virou-se para os genros, para os sobrinhos, para os genros dos seus irmãos.

Nos anos 90, apostou em Jorge Armindo, que foi casado com uma sobrinha sua. Seguiu-se Rui Alegre, marido da sua filha mais velha. O divórcio com as mulheres do clã fez esfumar-se a possibilidade de um e outro subirem ao trono.

Entretanto, desde Abril de 2012 que Paula Amorim era vice-presidente da Galp Energia, sob a liderança do seu pai. A confirmação de que a filha mais velha era a escolhida por Américo como sua sucessora surgiu no final de 2011, com a criação do grupo Américo Amorim, no qual Paula assumiu então o cargo de vice-presidente.


Gosta de sapatos, do ritual da refeição, de uma boa sopa e de filmes. Na lista do "não gosto" estão itens como acordar cedo, galinhas e multidões.


Marta e Francisco Rego, marido da sua irmã Luísa, também estão na administração do grupo, que conta ainda com Fernanda, esposa de Américo, e com Jorge Seabra, ex-dono da Coelima e único da equipa exterior à família.

Em meados do ano passado, com o agravamento dos problemas de saúde de Américo, Paula Amorim substituiu o pai na presidência do grupo e em todas as suas empresas, incluindo a Galp. Este ano, a 12 de Maio, a assembleia-geral de accionistas da petrolífera aprovou a sua nomeação como presidente do conselho de administração, formalizando a transferência de poderes do pai para a filha.

Extremamente discreta e muito "fashion", com o 12.º ano e a frequência do curso de Gestão Imobiliária na Escola Superior de Actividades Imobiliárias, Paula desperta desconfiança junto de meio mundo. "Não tem historial na área dos petróleos e algumas pessoas ainda a vêem como herdeira de Américo Amorim e alguém ligada ao mundo da moda", pelo que "ainda não tem estatuto, tem noção disso e está empenhada em afirmar-se", afiança um seu colaborador, sob anonimato. E está preparada para assumir a sucessão? "Sem dúvida", assegura um interlocutor que tem acompanhado o seu percurso. "Durante duas décadas absorveu com o pai os valores e o respeito pela forma de estar numa empresa." Quanto à sua presença na Galp sabe que é "uma responsabilidade e tem uma noção muito clara da sua representação institucional, estratégica em Portugal e no mundo em que se insere".

"Pós-graduada em Américo Amorim"

Também sob anonimato, um amigo de Paula elogia a "chairwoman" da Galp: "Conhece os assuntos todos como agora na Galp", onde prescindiu da remuneração, que entrega a causas sociais - "intervém na área social, mas nunca divulga as causas que apoia", enaltece a mesma fonte, que qualifica a primogénita de Américo como "muito simpática, muito agradável, divertida, conversadora".

Já o empresário Jorge Armindo não encontra defeitos em Paula, que diz conhecer desde os 10 anos. "A Paula Amorim tem vindo a consolidar as suas qualidades de liderança acrescidas de uma nova experiência, denotando um espírito empresarial, o que na minha opinião faz dela uma sucessora à altura das exigências das funções de responsabilidade que tem vindo a assumir", considera o presidente da Amorim Turismo.


Armindo diz ainda que Paula "sabe delegar e exerce uma liderança assente numa grande confiança nas pessoas que com ela colaboram", sendo "de fácil trato, não deixando por isso de ser exigente e determinada", ressalva. Mais: "Não quer absorver ou substituir-se ao trabalho dos executivos. Gosta de trabalhar em equipa."

Em Outubro passado, aquando da sua primeira aparição pública como presidente da administração da Galp, Paula garantiu que nada iria mudar na relação entre o accionista de referência e a gestão executiva. "Não vai mudar absolutamente nada. Estou aqui num sentido de continuidade", disse. Instado a comentar a relação com a "chairwoman" da companhia, o CEO, Carlos Gomes da Silva, assegurou que "vai ser fácil".

Jorge Armindo não dá crédito a quem não encontra mérito na subida de Paula a líder do império nascido com a Corticeira Amorim. "Américo Amorim nunca lhe facilitou a vida na preparação da sucessão" e "a Paula Amorim fez uma pós-graduação em Américo Amorim", tendo "nos últimos anos acompanhado Américo Amorim em Angola, Moçambique e Brasil".

Líder da maior fortuna de Portugal

Presidente do Grupo Américo Amorim, Paula está agora aos comandos do destino de um império que, entre muitos outros activos, controla a líder mundial do sector da cortiça (Corticeira Amorim), a maior empresa portuguesa (Galp), o Banco Único (36,4%), em Moçambique, o Banco Luso-Brasileiro (43%), no Brasil, e 25% da marca de roupa de luxo Tom Ford. E detém vastas áreas de montado de sobro, complementadas com outras culturas, no Alentejo, e a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, no Douro.

Nos últimos anos, Américo Amorim reforçou a sua paixão pelos negócios da natureza, investindo na agricultura em África e no Brasil. Em Moçambique, na região da Zambézia, o grupo participa, em consórcio, num projecto de exploração de cerca de 19 mil hectares de terra, com várias culturas, especialmente de soja, arroz e feijão.

No Brasil, na região da Baía, o grupo é dono de um extenso coqueiral com cerca de 120 mil coqueiros, garantindo uma produção anual de 10 milhões de cocos.


Está preparada para a sucessão? "Sem dúvida. Durante duas décadas absorveu com o pai os valores e o respeito pela forma de estar numa empresa", diz quem sabe. 


Este vasto coqueiral faz parte do projecto imobiliário e turístico que o grupo Amorim detém no estado da Baía - um na Praia do Forte, outro em Maraú, envolvendo 30 milhões de metros quadrados, com frente de praia de cerca de 9,6 quilómetros, que prevê a construção de três hotéis, quatro centenas de moradias e mais de mil apartamentos.

Américo Amorim é o homem mais rico de Portugal e o 385.º do mundo, de acordo com o último "ranking" da Forbes. A fortuna do empresário nortenho aumentou entre 2016 e 2017 em cerca de 300 milhões de dólares (267,5 milhões de euros) para um total de 4,4 mil milhões de dólares (aproximadamente quatro mil milhões de euros).

Tudo isto é Amorim, tudo isto está sob a liderança de Paula. "Eu não tenho grandes fórmulas de gestão. Sou muito mais adepta do trabalho do que da gestão. Aposto na galvanização das pessoas, que são o mais importante do negócio", disse Paula Amorim, há cerca de 11 anos, numa entrevista à revista Exame.

Na mesma altura, em declarações à revista Máxima, Paula defendeu que "a mulher tem condições de desempenhar funções de gestão e liderança com grande naturalidade, serenidade e confiança, aliadas a uma intuição e sensibilidade próprias do temperamento feminino". Paula Amorim é assim a sucessora de Américo Amorim, o homem que um dia, ao Negócios, soltou uma das suas mais célebres frases: "Não sou rico, sou trabalhador." 


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