"O Juramento dos Cinco Lords" é uma história de vingança que parte da bizarra morte de Lawrence num acidente de moto que nunca foi esclarecido e que surge aqui como um crime que, muitos anos depois, terá consequências trágicas.

Muito do que é hoje o poroso e conflituoso Médio Oriente é obra de homens como T. E. Lawrence, conhecido como Lawrence da Arábia, que definiram e criaram alianças que depois os políticos da época utilizaram a seu belo prazer para desenhar as fronteiras da discórdia de hoje. Foi ele, de resto, que escreveu: "Todos os homens sonham, mas não da mesma forma. Os que sonham de noite, nos recessos poeirentos das suas mentes, acordam de manhã para verem que tudo, afinal, não passava de vaidade. Mas os que sonham acordados, esses são homens perigosos, pois realizam os seus sonhos de olhos abertos, tornando-os possíveis". Lawrence é o fantasma que percorre toda a nova aventura de Blake e Mortimer, a criação poderosa de Edgar P. Jacobs, continuada agora por Yves Sente e André Juillard, "O Juramento dos Cinco Lords". É uma história de vingança que parte da bizarra morte de Lawrence num acidente de moto com bicicletas, que nunca foi esclarecido, e que aqui surge como um crime que, muitos anos depois, vai ter consequências trágicas.

O tenente do MI5, Alister Lawless, está convencido de que Lawrence quer publicar as suas memórias, que seriam lesivas da segurança britânica, e que é um traidor comunista, pelo que acaba por lhe roubar o original do livro e, depois, o manda matar. E é isso que nos transporta para o universo dos anos 50, onde Blake e Mortimer se movem, porque é impossível modernizá-los como se tem feito, por exemplo, a James Bond. Tudo começa com uns roubos misteriosos no Museu Ashmolean, o mais velho museu universitário do mundo, que tem a ver com Lawrence, que também foi arqueólogo. Vários lordes, com conexões entre si, são entretanto assassinados. E é aí também que se regressa às origens de Francis Blake, que estudou em Oxford, o mundo de amizades sólidas para toda a vida. Onde também andaram os lordes assassinados consecutivamente. O professor Mortimer é convidado para uma palestra no Museu Ashmolean de Oxford, sob o tema "A Ciência moderna ao serviço da Arqueologia". E é aí que todos os caminhos se cruzam.

O ambiente é sombrio como os de todas as aventuras de Blake e Mortimer. E depois tem o toque especial de uma ligação à história britânica e à vida fascinante de Lawrence. Mais, Yves Sente e André Juillard seguem com primor o legado gráfico de Edgar P. Jacobs, um dos grandes mestres da época de ouro da Banda desenhada franco-belga, que trocou a ópera por Blake e Mortimer). Todo esse mundo, com um estilo e uma mentalidade muito próprias, continuam aqui neste álbum que é um prazer para todos os que gostam de mergulhar nos anos 50 e também nas pranchas de BD de dois dos seus mais especiais intérpretes e heróis. "O Juramento dos Cinco Lords" é uma viagem quase romântica a um mundo onde tudo era cinzento. Sem as cores demasiado óbvias dos dias de hoje.