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Joaquim Vieira: Um político que corre atrás do prejuízo, não é um estadista

Mário Soares faria cem anos a 7 de dezembro. Para marcar a data, Joaquim Vieira lançou uma nova edição da biografia não autorizada do fundador do PS, intitulada "Mário Soares: uma vida", que foi revista e aumentada com novos factos e com os últimos anos de vida do político. O "bochechas", como era popularmente conhecido, tinha uma "relação muito laxista com a justiça", diz o jornalista. E defendeu Sócrates na prisão, quando este foi detido no âmbito da Operação Marquês, porque "tinha uma dívida de gratidão".
Filipa Lino e Mariline Alves - Fotografia 22 de Novembro de 2024 às 11:00

O que vem acrescentar este livro ao que já tinha publicado antes sobre a vida de Mário Soares? O que é que ainda não se sabia?

O livro tem mais 250 páginas que a primeira edição, que foi publicada em 2013, quando Mário Soares ainda era vivo. Houve mais quatro anos de vida que foram acrescentados. A parte mais substancial do que acrescento é um diário que ele passou a escrever a partir dos anos 1940, a que eu não tinha tido acesso e que descobri que existia através de um documentário sobre o Mário Soares, que se chamava Memórias do Portugal Futuro, que foi realizado pelo sobrinho dele, o Mário Barroso. Esse diário é muito interessante porque mostra o ponto de vista íntimo do Soares sobre os acontecimentos que foi vivendo ao longo dos anos, antes e depois do 25 de Abril.

 

Esse diário mudou a sua perspetiva sobre Mário Soares?

Não direi que mudou. Mas completa. Achei curiosa a reflexão que ele fez sobre certos acontecimentos. Esses escritos confirmavam a sua postura pública sobre as coisas. Mas, sendo um otimista inveterado para as pessoas com quem falava no discurso público, no diário, por vezes, mostrava que tinha dúvidas. Em certas situações, não estava tão crente na possibilidade de sucesso. Isso aconteceu, por exemplo, nas eleições presidenciais de 1986, que foi um ponto de viragem na carreira política do Mário Soares, em que ele jogou tudo na vitória ou na derrota.

 

E, nesse diário, o que escreveu?

Confessava mais as suas dúvidas, as suas hesitações, as suas angústias. O diário revela também que ele, desde a juventude, tinha mais ou menos uma vida planeada para o espaço público, para a intervenção política. Era uma coisa muito pensada por ele. E preparou-se para isso. Em adolescente, era um estudante um pouco desleixado, pouco ligado aos livros e aos estudos. O pai, que tinha o Colégio Moderno, arranjou-lhe três tutores para tentar interessá-lo mais pelos estudos. Um deles foi Álvaro Cunhal, outro foi o Álvaro Salema, que estava ligado ao PCP, e o outro foi o filósofo Agostinho da Silva. Esses tutores tiveram uma certa influência na formação da consciência política de Soares, impedindo que se dispersasse por muitos centros de interesse diferentes: as mulheres, as namoradas, a boa vida, os cafés, os amigos...

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