Notícia
Em busca do verdadeiro sentido da vida
Henry David Thoreau, há quase dois séculos, observou a vida nivelada pela revolução industrial e procurou uma alternativa para todos nós. Que passava pela natureza. As suas reflexões continuam muito actuais.
Henry David Thoreau, "A Vida sem Princípios", Antígona, 73 páginas, 2016
Henry David Thoreau tinha uma visão radical sobre a nossa vida. E as suas reflexões são transparentes neste livro, publicado já depois da sua morte em meados do século XIX. Claras e actuais. "A Vida sem Princípios" é um tratado perturbador que nos leva a reflectir sobre o sentido da vida, especialmente nestes tempos em que a velocidade e as comunicações nos exigem quase 24 horas por dia de trabalho, sem intervalos para relaxar e ganhar energia com algum ócio.
O autor defende que não devemos ser apanhados na armadilha do dinheiro. Pelo contrário, devemos usufruir da vida e saber aproveitá-la, em vez de sermos escravos do vil metal. E escreve: "Se um homem passear nos bosques por amor a estes durante metade do dia, arrisca-se a que o vejam como um mandrião; mas se passar todo o dia em actividades especulativas, arrasando as florestas para tornar a terra nua antes de tempo, será considerado um cidadão diligente e empreendedor. Como se o único interesse que uma cidade tivesse nos seus bosques fosse cortá-los!".
Thoreau propõe que procuremos uma nova rota para a nossa vida, em vez de nos comportarmos como seguidores de valores que nada têm que ver com os princípios elementares da vida e da natureza. Ele, claro, liga a vida humana à natureza, dentro de uma lógica de convívio perfeito com o planeta em que nascemos e morremos. Ele é a voz do bom senso numa sociedade baseada em falsos encantos.
Mesmo tantos anos depois de isto ser escrito, reparamos que nada parece ter mudado no essencial. Refere o autor: "Diz-se que a América é a arena onde a batalha da liberdade deve ser travada. Mas, seguramente, que não se trata aqui da liberdade num sentido meramente político. Mesmo considerando que o Americano se libertou de um tirano político, ele continua a ser escravo de um tirano económico e moral."
Thoreau recusava-se a alimentar as "expectativas sociais" que tornam a maior parte das pessoas escravas de lógicas que são totalmente alheias aos princípios elementares da vida. A "vida moderna", já naquele tempo, destruía a relação ética da relação do homem com a natureza. Não esquece esse conflito: "Este mundo é um lugar de labuta. Que azáfama! Sou acordado quase todas as noites pelo arquejar da locomotiva. Isso interrompe os meus sonhos."
Tudo se reconduz, de resto, e na sua visão, à necessidade de amar. E isso tem que ver com a contemplação, com a possibilidade de usufruir do tempo sem os constrangimentos da correria em busca de pretensas necessidades que não são mais do que meras ilusões. A busca da felicidade é, para ele, o guia da nossa existência. E ele parece ter sido completamente desvirtuado com as lógicas de trabalho e de "sucesso" que se foram entranhando no nosso ADN, como se isso fosse o fulcral para termos alguma paz. E para sermos reconhecidos pelos outros, ou seja, pela sociedade.
Este livrinho é um prazer. E uma forma de nos interrogarmos sobre o sentido da vida.