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Em busca do verdadeiro sentido da vida

Henry David Thoreau, há quase dois séculos, observou a vida nivelada pela revolução industrial e procurou uma alternativa para todos nós. Que passava pela natureza. As suas reflexões continuam muito actuais.

13 de Agosto de 2016 às 12:30
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Henry David Thoreau, "A Vida sem Princípios", Antígona, 73 páginas, 2016



Henry David Thoreau tinha uma visão radical sobre a nossa vida. E as suas reflexões são transparentes neste livro, publicado já depois da sua morte em meados do século XIX. Claras e actuais. "A Vida sem Princípios" é um tratado perturbador que nos leva a reflectir sobre o sentido da vida, especialmente nestes tempos em que a velocidade e as comunicações nos exigem quase 24 horas por dia de trabalho, sem intervalos para relaxar e ganhar energia com algum ócio.

Aqui, Thoreau fala da necessidade de nos separarmos da sociedade como um todo e de vivermos a vida de acordo com as nossas necessidades e não com as daquela. Thoreau é taxativo: "Seria magnífico ver a humanidade, por uma vez, desfrutar do lazer. Já só há trabalho, trabalho e mais trabalho. Já não é fácil comprar um caderno liso para escrever as minhas reflexões; agora são todos pautados para inscrever os dólares e os cêntimos."

O autor defende que não devemos ser apanhados na armadilha do dinheiro. Pelo contrário, devemos usufruir da vida e saber aproveitá-la, em vez de sermos escravos do vil metal. E escreve: "Se um homem passear nos bosques por amor a estes durante metade do dia, arrisca-se a que o vejam como um mandrião; mas se passar todo o dia em actividades especulativas, arrasando as florestas para tornar a terra nua antes de tempo, será considerado um cidadão diligente e empreendedor. Como se o único interesse que uma cidade tivesse nos seus bosques fosse cortá-los!".

Thoreau propõe que procuremos uma nova rota para a nossa vida, em vez de nos comportarmos como seguidores de valores que nada têm que ver com os princípios elementares da vida e da natureza. Ele, claro, liga a vida humana à natureza, dentro de uma lógica de convívio perfeito com o planeta em que nascemos e morremos. Ele é a voz do bom senso numa sociedade baseada em falsos encantos.

Mesmo tantos anos depois de isto ser escrito, reparamos que nada parece ter mudado no essencial. Refere o autor: "Diz-se que a América é a arena onde a batalha da liberdade deve ser travada. Mas, seguramente, que não se trata aqui da liberdade num sentido meramente político. Mesmo considerando que o Americano se libertou de um tirano político, ele continua a ser escravo de um tirano económico e moral."

Thoreau recusava-se a alimentar as "expectativas sociais" que tornam a maior parte das pessoas escravas de lógicas que são totalmente alheias aos princípios elementares da vida. A "vida moderna", já naquele tempo, destruía a relação ética da relação do homem com a natureza. Não esquece esse conflito: "Este mundo é um lugar de labuta. Que azáfama! Sou acordado quase todas as noites pelo arquejar da locomotiva. Isso interrompe os meus sonhos."

Tudo se reconduz, de resto, e na sua visão, à necessidade de amar. E isso tem que ver com a contemplação, com a possibilidade de usufruir do tempo sem os constrangimentos da correria em busca de pretensas necessidades que não são mais do que meras ilusões. A busca da felicidade é, para ele, o guia da nossa existência. E ele parece ter sido completamente desvirtuado com as lógicas de trabalho e de "sucesso" que se foram entranhando no nosso ADN, como se isso fosse o fulcral para termos alguma paz. E para sermos reconhecidos pelos outros, ou seja, pela sociedade.

Este livrinho é um prazer. E uma forma de nos interrogarmos sobre o sentido da vida.


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