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Cláudia Goya, a gestora sem medo

Assertiva, aguerrida, determinada, dizem uns. Autoritária, referem outros. Antiga jogadora federada de voleibol, focada em resultados, Cláudia Goya, 46 anos, é a escolha da Altice para liderar a Meo. Será a primeira mulher a dirigir a operadora.

28 de Julho de 2017 às 11:06
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Assertiva. Determinada. De fortes convicções e pulso firme. É assim que antigos colegas da Oni Way, Galp e Microsoft e actuais amigos de Cláudia Goya definem a nova presidente executiva da Meo. Qualidades ou defeitos? Não há consenso. O perfil "forte" da gestora, que conta com mais de 20 anos de experiência em gestão de negócios, é encarado por muitos como um ponto forte de uma grande líder. Já para outros transmite a ideia de autoritarismo e, por isso, a imagem de alguém com quem pode ser difícil de trabalhar. Mas, entre os testemunhos ouvidos pelo Negócios, existe unanimidade ao considerarem que a aguerrida Cláudia Goya, antiga jogadora federada de voleibol, parece ser a líder indicada para agarrar os comandos da PT Portugal.


"É determinada e assertiva e tem fortes conhecimentos na área de marketing", diz ao Negócios José Ferrari Careto, ex-membro da administração da Oni Way, empresa por onde a antiga directora-geral da Microsoft Portugal passou entre 2001 e 2003. Conhecimentos que a licenciada em Engenharia Física, pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa, adquiriu muito cedo, quando decidiu candidatar-se a um estágio de Verão da Procter & Gamble. Na altura, tinha 22 anos e estava a frequentar o quarto ano da licenciatura. O perfil de Cláudia Goya parece ter impressionado os responsáveis da multinacional de bens de consumo, que depois convidaram a jovem licenciada a integrar os quadros da empresa, onde ficou cerca de sete anos, até ingressar na Oni Way.

"Tinha sempre ideias fora da caixa", contou outro dos antigos colegas da Oni Way, que preferiu não ser identificado, revelando ainda que, na altura, a gestora, que tinha o pelouro do marketing na operadora, chegou a desenvolver a ideia para uma solução que iria dar uma nova utilização às fotografias captadas por telemóveis. Os smartphones estavam a dar os primeiros passos no mercado e a campanha de marketing desenvolvida por Cláudia Goya seria "um género de antecipação do que é hoje o Instagram". Uma solução que, tal como a operadora móvel Oni Way, nunca chegou a avançar.

Este "know-how" no campo do marketing é apontado como uma das mais-valias para o sucesso da gestora na liderança da Meo. Será sob o seu pelouro que a operadora vai deixar cair a marca histórica PT e a insígnia Meo e adoptar a marca global Altice.

Focada nos resultados

A experiência de vida de Cláudia Goya fora de portas também ajudou a abrir os horizontes e a criatividade da gestora. Nascida e criada em Lisboa, Cláudia Goya frequentou o Colégio São João de Brito, tendo vestido mesmo a camisola de jogadora federada da equipa de voleibol da escola. Mas, ao longo da sua vida académica, viveu e estudou também nos Estados Unidos, onde se formou na escola secundária Los Altos, na Califórnia.

O desporto, aliás, é uma das paixões da nova CEO da Meo. E o facto de ter sido jogadora profissional de voleibol, dos 10 aos 25 anos, talvez tenha contribuído para o espírito aguerrido e "focado em resultados" da gestora. "A Cláudia é um pessoa com os valores certos, com uma inteligência acima da média e uma capacidade de execução muito forte", refere o amigo Mauro Xavier, antigo colega na Microsoft Portugal. "Não troca as suas convicções por nada. Depois de definir a estratégia com os seus accionistas, segue essa mesma estratégia."


Nascida e criada em Lisboa, Cláudia Goya frequentou o Colégio São João de Brito, tendo vestido mesmo a camisola de jogadora federada da equipa de voleibol da escola. Além do desporto, viajar é outra das suas paixões.


Uma faceta corroborada por outros antigos colegas, mas encarada por alguns como uma característica de autoritarismo. "As coisas tinham de ser à maneira dela, não era uma pessoa fácil para trabalhar. É muito focada em resultados e pouco orientada para as pessoas", disse um antigo colega, que preferiu o anonimato. Nem todos concordam. Segundo Mauro Xavier, actual quadro da Microsoft, "para a Cláudia, as pessoas são o primeiro activo". Razão pela qual acredita que a nova CEO da Meo "vai conseguir dar a volta e trazer paz social" à empresa, que nos últimos meses vive em clima de tensão com os sindicatos, no seguimento da implementação de algumas práticas laborais como a transferência de trabalhadores para outras empresas. Outra colega da Microsoft revelou que Cláudia Goya é "muito sensata" e chegou mesmo "a lutar" pela permanência de alguns profissionais na tecnológica.

Neste campo, mais uma vez, as opiniões divergem: o facto de a gestora ser considerada "assertiva" pode ser prejudicial nas reuniões com os sindicatos se não mostrar alguma abertura ao diálogo. Outros consideram que, por ser "aguerrida" e "justa", conseguirá adaptar-se aos desafios que tem pela frente. "Foi uma óptima aquisição pela Altice", sublinha um antigo colega. "Foi a escolha perfeita", dizem outros.

A gestora discreta

Depois de passar pela Galp Energia, onde foi responsável pelo negócio de retalho e contribuiu para o lançamento das lojas Tangerina, Cláudia Goya transitou para a Microsoft Portugal. Começou a trabalhar no departamento de marketing, mas cerca de um ano depois foi convidada para assumir o cargo de directora-geral da subsidiária portuguesa.


Foi nestas funções que Cláudia Goya enfrentou alguns dos maiores desafios profissionais da sua carreia. Estávamos em 2009, o país lidava com a crise económica e, a par com as restantes subsidiárias da gigante norte-americana, a empresa tinha de abraçar a transformação digital e alterar o modelo de negócio, passando os softwares de gestão para a "cloud".

Mas a "assinatura" de Cláudia Goya na Microsoft não ficou por aqui. Um dos principais marcos, que ainda hoje é visível na empresa, foi "a introdução de uma nova forma de gestão assente na mobilidade", conta outra antiga colega. Depois de a empresa ter transferido a sede do Tagus Park para o Parque das Nações, "de forma a estarem mais perto dos clientes", uma iniciativa impulsionada por Cláudia Goya, a gestora decidiu pegar no modelo internacional que o grupo estava a implementar um pouco por toda a parte e dar-lhe o seu cunho, tendo acabado com o uso de papel na empresa e criado escritórios "livres", ou seja, sem estarem adjudicados a alguém.

Apesar de ter estado na liderança da Microsoft num dos períodos mais agitados da empresa, Cláudia Goya fez sempre questão de ter cuidado em conciliar a vida familiar com a pessoal. "Todos os dias ia levar os filhos à escola de manhã e fazia questão de jantar sempre com eles. Nem que depois tivesse de voltar ao trabalho, a partir de casa", relataram pessoas próximas da gestora.

Quando acabou o mandato de três anos à frente da Microsoft Portugal, em 2012, Cláudia Goya foi convidada para integrar a equipa da subsidiária brasileira como directora da área operacional (COO). Uma função que deixou em Julho de 2014 e cuja saída motivou, por parte da Microsoft Brasil, um processo no tribunal de trabalho. Os motivos da saída e do processo não são conhecidos, até porque, como fonte oficial da empresa respondeu ao Negócios, não podem comentar "processos judiciais em andamento".

Da vida pessoal de Cláudia Goya também pouco se sabe. Nem o que fez durante estes dois últimos anos, desde que saiu do Brasil até ter assumido a liderança da Meo na semana passada. "É uma pessoa discreta", apontou uma amiga e antiga colega da gestora. Depois da "total prioridade" que dá aos seus três filhos, Cláudia Goya não dispensa o exercício físico. Aliás, quando estava na Microsoft, corria diariamente e participava todos os anos na Meia Maratona de Lisboa. Hoje, participa ocasionalmente em corridas.

O cuidado com a imagem é outra das preocupações da gestora, que não gosta de ser fotografada, principalmente em entrevistas. A preferência pela discrição poderá agora ter os dias contados, com os holofotes mediáticos e políticos a apontar para a operadora comprada pela Altice em Junho de 2015.


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