Ser militar já não é uma opção interessante para a maioria dos jovens portugueses. Ao longo dos anos, tem sido cada vez mais difícil reter e atrair elementos nos três ramos das Forças Armadas. Esta falta de recursos humanos põe em causa a defesa e a soberania do país, numa altura em que há uma guerra na Europa. O alerta tem vindo a ser feito por algumas altas patentes militares, que querem uma discussão pública sobre o regresso do serviço militar obrigatório (SMO) ou um outro modelo adaptado à realidade atual.
Gouveia e Melo, o chefe do Estado-Maior da Armada, escreveu há uma semana um artigo de opinião no Expresso onde alertava que neste contexto de guerra na Ucrânia "iremos viver tempos perigosos" e "ignorá-los não é uma opção". Nesse mesmo texto, admitia que poderia vir a ser necessário "reequacionar o serviço militar obrigatório, ou outra variante mais adequada" de forma a "não só equilibrar o rácio despesa/resultados, mas também para gerar uma maior disponibilidade da população para a defesa". Eduardo Ferrão, chefe do Estado-Maior do Exército, em declarações ao mesmo jornal, também defendeu que a medida devia ser "estudada e avaliada sob várias perspetivas".
O modelo da profissionalização das Forças Armadas, que entrou em vigor em 2004 com o fim efetivo do serviço militar obrigatório, não resultou em pleno para garantir os recursos humanos necessários para assegurar as missões dentro e fora do país. Atualmente, o efetivo militar português é constituído por 21 mil elementos, quando o número previsto para a estrutura é 32 mil.