Foi casa e sala de estar de músicos e artistas como Bob Dylan, Mark Twain, Andy Warhol, Janis Joplin e Leonard Cohen - que viria a compor o tema "Chelsea Hotel No. 2" após a morte da icónica cantora norte-americana. Construído entre 1883 e 1885, o grande edifício de tijolos vermelhos é um marco histórico de Nova Iorque e do mundo inteiro. Hoje, a história e as histórias são outras.
Situado em 222 West 23rd Street, entre a Sétima e a Oitava Avenida, em Manhattan, o Chelsea Hotel foi inaugurado como edifício de apartamentos "premium" e era então um dos prédios mais altos de Nova Iorque. Foi mesmo projetado para ser um dos primeiros arranha-céus. Em estilo neogótico, desenhado pelo ateliê Hubert, Pirsson & Company, foi tendo diferentes donos e, nos primeiros anos do século XX, funcionava sobretudo como hotel residencial, atraindo então uma efervescente comunidade artística.
Por lá passaram nomes como Jim Morrison, Arthur Miller, Patti Smith, Dylan Thomas e William S. Burroughs, entre tantos outros. Eram cada vez mais os residentes e convidados famosos do Chelsea Hotel, que conquistava assim o estatuto de lugar mítico e imortal. Foi espaço de criação, de muitas festas, de álcool e drogas. Foi lugar de vida e de morte, como são todos os lugares, mas ali com mais excentricidade.
Foi lá que morreu o poeta Dylan Thomas. Sid Vicious, baixista da banda Sex Pistols, foi encontrado morto no seu quarto em 1979. Um ano antes, tinha sido acusado do assassinar a namorada, Nancy Spungen - o incidente ocorreu no quarto 100 do Chelsea Hotel. O músico britânico estava em liberdade condicional e morreu de overdose.
Mas também foi no Chelsea Hotel que Arthur Miller escreveu algumas das suas peças; foi lá que Dylan compôs parte das suas músicas e que William S. Burroughs produziu algumas das suas obras. Foi também naquele hotel que, nos anos 60, Arthur C. Clarke escreveu o argumento para o filme "2001: Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick. O autor britânico morava então no "Room 1008", onde hoje vive Rita Barros.
A fotógrafa portuguesa mora no Chelsea Hotel desde 1984 e, ao longo de vários anos, foi retratando os vizinhos. Esses retratos estão reunidos no livro "Chelsea Hotel. Quinze Anos", publicado em 1999. No prefácio, Rita Barros partilha o ambiente do dia a dia: "Manhã de ressaca. O elevador não funciona. Desço as escadas do 10.º andar para ir buscar o correio. Por acaso encontro Herbert Huncke. Está contente com a exposição no Whitney sobre os Beats. Viva (superstar) grita com Stanley. Esqueço o correio e vou beber um café com Steve, um dos empregados do hotel. De volta, dou com Bon Jovi à minha frente. Que homem tão bonito…"
Rita é também testemunha das voltas e reviravoltas do Chelsea Hotel, que é hoje sobretudo um hotel de muitos dólares, onde vivem alguns arrendatários, após várias lutas, também em tribunal. O espaço icónico foi gerido durante 50 anos por Stanley Bard, que era uma espécie de "Robin Wood" dos hóspedes artistas. Em 2007, foi afastado da gestão do hotel, que passou depois por diferentes administrações e proprietários. Em 2011, foi vendido a um grupo de investidores liderado por Joseph Chetrit. O espaço continuou a mudar de mãos e reabriu em 2022 como hotel de luxo.