Uma pedra, uma concha, sal, moedas, notas, cheques, cartões bancários, criptomoedas, NFT. Ao longo da História, têm sido inúmeros os instrumentos utilizados para facilitar as trocas em sociedade. Com o tempo, o dinheiro tornou-se quase invisível e hoje basta aproximar um telemóvel de um terminal para comprar algo. Mas o caráter prático do dinheiro não o livrou da má fama, e dele já também se disse que é "sujo", que "corrompe" e que é a origem de vários problemas. Com todas estas alterações, também mudou a forma como é encarado? Os valores que lhe estão associados, e a relação que temos com o "vil metal", mudaram? Ou permanecem iguais?
"O dinheiro continua a servir tal e qual como servia quando foi inventado: existe para o trocarmos por bens ou serviços que queremos, desejamos ou achamos que precisamos", diz Margarida Madeira, fundadora do projeto "É Tempo", dedicado à educação financeira de crianças e jovens. A experiência – Margarida foi também responsável por uma empresa de aconselhamento financeiro – diz-lhe que se atribui demasiado poder ao dinheiro. "As pessoas olham-no como uma divindade. Mas é só dinheiro."
Ainda assim, admite que o modo como o dinheiro é encarado foi mudando e acabou por contaminar, com medos e frustrações, um conceito que é acima de tudo funcional. "O projeto ‘É Tempo’ pretende dar um passo atrás e transmitir conceitos de gestão de orçamento familiar, tentando evitar alguns receios que os pais têm em relação ao dinheiro", explica. É a "terceirização" de responsabilidades, qualidades e defeitos que acaba por inquinar a relação com o dinheiro. "A maldade, a corrupção, tudo o que de negativo associamos ao dinheiro, não está no dinheiro, mas nas pessoas. O dinheiro, por si só, não traz mal nenhum ao mundo. Agora, o que fazemos com o dinheiro e os valores que lhe associamos são da nossa responsabilidade", diz. Será sempre mais fácil culpar a inflação ou os impostos pela falta de dinheiro do que lidar com essa mesma realidade, defende.