Outros sites Medialivre
Notícia

Bruxelas apanha o primeiro Ominbus da simplificação no ESG. E há mais a caminho

Só com as regras apresentadas com o pacote Omnibus, a Comissão Europeia estima poupanças totais nos custos administrativos anuais das empresas de cerca de 6,3 mil milhões de euros, No entanto, o pacote não está imune a críticas.

Olivier Matthys / Lusa-EPA
  • Partilhar artigo
  • ...

Primeiro Bruxelas complicou (e muito) as obrigações de reporte das empresas ao nível do impacto e da aplicação dos critérios ambientais, sociais e de governance (ESG), e agora quer simplificar. Mas sem desregular, garante a Comissão Europeia. Do lado do tecido empresarial europeu - e depois de anos às voltas com as regras apertadas da Taxonomia Europeia para Atividades Sustentáveis, muitas "dores de caçeça" para entender e implementar a Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativa e a Diretiva de Devida Diligência em Sustentabilidade Corporativa, - pode agora ser esperado algum alívio nas exigências de reporte.  

O objetivo da UE era forçar as empresas a embarcar na "ambição" da neutralidade carbónica até 2050 e reduzir emissões poluentes próprias e das suas cadeias de abastecimento para que essa meta seja alcançável. Para as grandes empresas, a obrigação de comunicar as ações desenvolvidas em termos ambientais, sociais e de governance tem início já em 2025 (em relação ao ano fiscal de 2024), enquanto as pequenas e médias empresas, aquelas que não têm sede na UE e as que fazem parte de setores tipicamente com elevadas emissões deverão começar a fazê-lo um ano mais tarde.  

Perante as queixas e críticas das empresas - que se dizem "estranguladas" por uma longa lista de medidas regulatórias que acabam por impactar o crescimento, inovação e criação de emprego -, em novembro a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu "reduzir o peso" da regulação europeia em matéria de sustentabilidade que recai sobre as empresas. E cumpriu: na semana passada a responsável apresentou o pacote legislativo Omnibus, que na prática vem rever e simplificar as normas europeias de sustentabilidade. Além de aliviar as empresas, o objetivo é proteger a competitividade dos 27, numa altura em que, do outro lado do Atlântico, os EUA sob a liderança de Donald Trump estão a fazer marcha-atrás em tudo o que diz respeito ao ESG. 

O Omnibus tem ainda de passar pelo crivo do Parlamento e do Conselho Europeu, mas caso seja aprovado, a Comissão prevê que estas propostas levem a "poupanças totais nos custos administrativos anuais de cerca de 6,3 mil milhões de euros".

"Este pacote corre o risco de criar uma lacuna desastrosa de dados em termos de ESG em todo o continente", constituindo um "pesadelo para os investidores responsáveis para os consumidores". Giorgia RazatoDiretota de Finanças Sustentáveis da T&E

A proposta recolhe elogios, mas não está isenta de críticas. O que para uns representa um alívio na regulação e um passo em frente para uma Europa menos burocrática e mais ágil, outros encaram como uma ameaça que pode vir a apagar anos de luta para assegurar uma transição energética e social sólida. É o caso de Giorgia Ranzato, diretora de Finanças Sustentáveis da T&E que acredita que "este pacote corre o risco de criar uma lacuna desastrosa de dados em termos de ESG em todo o continente", constituindo um "pesadelo para os investidores responsáveis para os consumidores". "Este novo pacote esvazia a responsabilidade corporativa", disse, citada pela Reuters. 

"O Omnibus não é apenas sobre simplificação de regras, é uma melhoria estratégica. As empresas de média dimensão verão as obrigações de reporte reduzidas, mas o que importante comunicar irá manter-se", argumenta por seu lado, Champion Olatunji, especialista em Sustentabilidade e Energia da norte-americana Liteon Corporation, citado pela Forbes. 

Por seu lado, Inna Amesheva, diretora de Soluções Regulatórias em ESG da alemã ESG Book (também em declarações à Forbes, sublinha que "a atual taxonomia europeia demasiado complicada e não serve o seu prpopósito, porque não cobre todas as atividades económicas que podem ser consideradas sustentáveis, o que faz com que a ferramenta não tenha muito valor para os mercados finnaceiros. A simplificação agora proposta - bem como os reportes voluntários - podem ajudar".  

O que muda para as empresas? 

Para começar, no que diz respeito à Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativa, o novo pacote corta em cerca de 80% o número de companhias abrangidas e adia dois anos a sua aplicação (até 2028), aliviando sobretudo as PME e apontando os holofotes para as "empresas de maior dimensão e com maior impacto nas pessoas e no ambiente". O Omnibus excluiu desta diretiva empresas com menos de mil trabalhadores e com receitas abaixo dos 50 milhões de euros ou lucros abaixo dos 25 milhões. Cai também a obrigatoriedade reporte no âmbito da taxonomia europeia para as empresas que continuem a ser abrangidas por esta diretiva e que tenham receitas líquidas anuais inferiores a 450 milhões de euros. 

Em termos da Diretiva de Devida Diligência em Sustentabilidade Corporativa, com o Omnibus o prazo para a sua adoção é adiado pelo prazo de um ano (passando para julho de 2028) e faz com que as empresas sejam responsáveis apenas pelas emissões dos fornecedores diretos, e não de toda a cadeia de abastecimento. 

6,3mil milhões 
Com a simplificação das regras, a Comissão Europeia estima que as
empresas poupem, no total, 6,3 mil milhões de euros em custos
administrativos anuais. 

Há ainda a ter em conta um ajuste importante no principal indicador-chave de desempenho de sustentabilidade - baseado na taxonomia - que é tido em conta pelos bancos: o chamado rácio dos ativos ecológicos (RAE), que deixa de ser relevante para as empresa excluídas Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativa. "Isto vai facilitar a vida das empresas, assegurando que nos mantemos firmes no rumo dos nossos objetivos de descarbonização", disse Von der Leyen, prometendo mais esforços de simplificação no reporte ESG no futuro.  

Mais notícias