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A sustentabilidade não é um tema novo na agenda dos investidores. E se as gestoras já vinham a reforçar a sua oferta de fundos que seguem critérios sociais, ambientais e de governo das sociedades (ESG, na sigla em inglês), esta aposta apenas tenderá a aumentar, na sequência do surto da covid-19. Se há uns meses as preocupações ambientais surgiam em destaque, as valências social e de governo deverão ganhar agora especial relevância.
São cada vez mais os que confiam as suas poupanças a produtos sustentáveis, com as entradas nestes fundos a contrariarem o ritmo de investimento negativo nos fundos de ações. Segundo os dados da EPFR, partilhados pelo Abanca, enquanto os fundos de ações registaram um volume de entradas e saídas nulo, os fundos de ações ESG captaram 40 mil milhões de dólares em 2020. Já as entradas semanais em fundos ESG de obrigações registaram um recorde na primeira semana de maio, acumulando subscrições de 5.400 milhões de dólares nas últimas seis semanas. E o volume de entradas deverá continuar a aumentar, com o investimento sustentável a revelar-se um escudo contra as fragilidades criadas pela pandemia.
“O impacto da covid-19 nos mercados e na economia também está a realçar as questões relacionadas com o ESG, como o direito dos trabalhadores, o bem-estar dos funcionários e a redução das emissões de carbono”, destaca Amanda Young. Para a responsável global pelo investimento responsável da Aberdeen Standard Investments, “o choque económico agudo da pandemia aumentou a urgência da necessidade de abordar questões como a mudança climática e a desigualdade social”.
Um ambiente marcado pela instabilidade que, na opinião da gestora, favorece empresas com melhor rating ESG, sobretudo aquelas que dão especial atenção ao governo das sociedades e aos aspetos sociais.
“O governo – o ‘G’ da sigla ESG – vai ser crucial para [aumentar] as hipóteses de as empresas atravessarem a crise em boa forma”, nota Amanda Young, acrescentando que ao “identificar estas empresas, os gestores de estratégias de ESG podem oferecer aos investidores a perspetiva de investir num futuro melhor e mais sustentável”.
Álvaro Cabeza, responsável pelo negócio em Portugal e Espanha da UBS AM, não tem qualquer dúvida de que o investimento sustentável vai aumentar no pós-covid, com os investidores a procurarem empresas mais robustas e com menor risco. “Os investidores já estão à procura das empresas que vão deter depois da crise, aqueles modelos de negócio mais resilientes com melhor ‘governance’, que vão ser mais valiosos”, explica.
O Abanca é outra das entidades que vê a sustentabilidade como algo incontornável na gestão de ativos. Para o banco, mais do que uma filosofia de investimento, uma estratégia com base em critérios ESG é “o passo natural no mundo dos investimentos em face da preocupação da sociedade com aspetos como a redução da pegada ambiental, com o impacto das suas ações (por exemplo reciclar), como preocupar-se com o bem-estar social (por exemplo a igualdade de oportunidades laborais independentemente de aspetos como o género, origem ou etnia) ou como exigir uma boa gestão”.
Mário Pires, responsável pelo mercado português da Schroders, concorda que “apesar de vivermos tempos extraordinários, as tendências estruturais de longo prazo em como construímos companhias mais sustentáveis e como lidamos com problemas como as mudanças climáticas não estão a mudar de forma significativa”.
E é por isso que a sustentabilidade continua entre as prioridades da gestora, cujo foco é “identificar negócios geridos de forma sustentável, compreender os riscos e as oportunidades das mudanças ambientais e sociais” e trabalhar com as empresas, ajudando-as a melhorar os seus comportamentos, mantendo um papel ativo enquanto investidor.
Europa na vanguarda
Apesar de ser evidente o crescente interesse no investimento sustentável, a procura não é idêntica em todas as regiões, com a Europa a liderar. De acordo com um estudo recente da Schroders, realizado junto de 650 investidores institucionais, o investimento sustentável é uma prioridade. Dos inquiridos metade admite que aumentou a sua exposição a estes investimentos nos últimos cinco anos, sendo que na Europa esta percentagem sobe para 63%, em comparação com apenas 36% na região da Ásia-Pacífico.
Olhando para o futuro, 75% dos investidores globais diz que o investimento sustentável vai aumentar, com os investidores europeus a surgirem novamente em destaque, com 84% a prever mais investimento que segue as métricas ESG.
“Graças ao acesso melhorado a dados e o progresso na metodologia, o mundo do investimento deverá ser capaz, nos próximos anos, de medir melhor e guiar o impacto social e ambiental nos seus investimentos”, antecipa Jean-Philippe Desmartin.
Segundo o diretor do investimento responsável da Edmond de Rothschild Asset Management, a gestora gere atualmente 3,5 mil milhões de euros em fundos SRI (investimento socialmente responsável), sendo que apenas no último ano o fundo SRI de ações da Zona Euro registou um volume de subscrições líquidas de 200 milhões de euros. E Jean-Philippe Desmartin não tem dúvidas de que este é o caminho: “Não há tempo para complacência ou ‘greenwashing’”
Responsável pelos mercados de Portugal e Espanha da UBS Asset Management
Responsável global pelo investimento responsável da Aberdeen Standard Investments
Diretor do investimento responsável da Edmond de Rothschild Asset Management