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Fundos ESG mostram mais defesas face ao vírus

Os fundos que têm em atenção princípios de sustentabilidade na hora de investir também sentiram o forte abalo da pandemia nos mercados. Apesar disso, mesmo em tempo de crise, mostraram-se mais resilientes do que os pares tradicionais.

28 de Maio de 2020 às 15:00
A pandemia de covid-19 trouxe a “oportunidade” de testar a resiliência dos fundos ESG em tempos de crise.
A pandemia de covid-19 trouxe a “oportunidade” de testar a resiliência dos fundos ESG em tempos de crise. Fabrizio Bensch/Reuters
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A pandemia de covid-19 veio abalar profundamente os mercados, com os índices de referência da Europa aos Estados Unidos a mostrarem quedas que chegaram quase aos 40%. Contudo, existiram também surpresas positivas e, de acordo com as gestoras e agências financeiras, os fundos sustentáveis foram uma delas.

O sell-off que acompanhou a pandemia ofereceu a oportunidade para “testar” a teoria de que os investimentos sustentáveis teriam um comportamento satisfatório em situações de aperto nos mercados, defende a Shroders. Para a gestora, os resultados são “dignos de nota”, uma vez que “as ações com um melhor perfil de sustentabilidade tiveram um melhor desempenho em termos de preço”. A Allianz GI partilha da mesma visão, afirmando que “a vasta maioria” das suas estratégias sustentáveis “suplantaram o desempenho do geral dos índices”.

A sustentar estas afirmações, a Shroders apresenta alguns dados. Segundo a gestora, a quarta parte das ações europeias que melhor classificam em termos de sustentabilidade afundaram 29% desde o pico vivido nos mercados, a 17 de fevereiro, até ao dia 23 de março. No mesmo período, a fatia das 25% consideradas menos sustentáveis, derraparam uma média de 38%. E a recuperação também foi mais acentuada no primeiro grupo: subiram 19% entre 23 de março e 17 de abril, que compara aos 17% de retoma do segundo conjunto.

Ou seja, os fundos que optaram por investir em entidades que estão mais bem avaliadas em termos ambientais, sociais e de governo (ESG, na sigla inglesa), mostraram-se mais resilientes ao impacto da covid-19, tanto nos Estados Unidos como na Europa, aponta a Morningstar.

Este comportamento “verifica-se um pouco por todas as regiões, e faz parte de uma tendência mais prolongada”, avalia a Aberdeen Standard Investments, assinalando que, em termos globais, os fundos que adotam alguma forma de estratégia ESG têm tido um melhor desempenho não só agora, mas ao longo dos últimos cinco anos. Desde o quarto trimestre de 2018 que o índice norte-americano S&P500 não consegue levar a melhor quando comparado às empresas que ocupam a fatia superior dos rating ESG da Sustainalytics, quando dividido em cinco partes.

O Negócios fez o levantamento dos 10 fundos acionistas que, em abril, tinham um melhor rating atribuído pela Morningstar no que toca ao rácio retorno/risco (5 estrelas) mas que, simultaneamente, não se destacavam nos critérios ESG, classificando com dois globos ou menos, numa escala de zero a cinco globos, em que o nível cinco corresponde ao melhor desempenho de sustentabilidade. Comparando estes 10 fundos com outros 10 que, além de 5 estrelas, contavam 5 globos, o que se verifica é que a rentabilidade média dos mais sustentáveis, entre 2017 e 2019, é algo superior, de 12,48%, face aos 12,03% dos menos sustentáveis.

Já no que toca aos meses de janeiro a abril, que balizam a pandemia, a comparação entre estes dois grupos não vai ao encontro das conclusões dos especialistas: os 10 fundos com 2 ou menos globos apresentam uma rentabilidade de 16,87% contra os -6,18% do grupo mais sustentável.

A Morningstar ressalva, contudo, que há aqui uma distinção importante a ser feita: os fundos aos quais é atribuída a pontuação máxima em termos de ESG, os 5 globos, não são necessariamente fundos que escolham os investimentos com base em critérios sustentáveis – simplesmente, acabam por classificar bem tendo em conta o desempenho ESG do grosso da carteira, mas podem acabar por investir em empresas que não se enquadrem no perfil ESG, pelo que não são fundos ESG no sentido mais puro do termo.

O “fator ESG”

A questão seguinte é: mas onde vão buscar os fundos ESG o músculo para se destacarem? A diretora de Estratégias Passivas e Research de Sustentabilidade na Morningstar, Hortense Bioy, fala de uma combinação de fatores. Primeiro, a tendência que há para que os fundos ESG se afastem de setores como o petróleo e gás ou as indústrias, mais castigados durante a pandemia. Ao invés, estes fundos optam muitas vezes por setores que escaparam ao vírus, como a tecnologia ou a saúde.

Além disto, as entidades que melhor classificam em termos ESG são geralmente grandes empresas, com folhas de balanço mais conservadoras, menos endividadas , e que geram menos controvérsia. Neste sentido, os típicos investimentos ESG serão mais resistentes a quebras generalizadas nos mercados.

 

ESG mais forte já antes da pandemia
Comparação das rentabilidades ativos ESG face aos tradicionais

Durante a pandemia, os fundos classificados como mais sustentáveis tiveram melhor desempenho que os tradicionais, mas a diferença não é de agora. Já entre 2017 e 2019 os fundos com melhores resultados ao nível da sustentabilidade (5 globos) se destacavam.

 

 

29%
Quebra
As ações ESG de topo caíram 29% na pandemia, abaixo das menos sustentáveis.

 

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