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Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade e Miguel Maya, CEO do BCP
Mais importante do que o possível impacto da nova era Trump no combate global às alterações climáticas, são as consequências dos fenómenos extremos e o posicionamento europeu face à próxima liderança norte-americana. Estas foram algumas das ideias defendidas pelos CEO do BCP, Miguel Maya, e da Fidelidade, Rogério Campos Henriques, num dos debates incluídos no arranque da quinta edição da iniciativa Negócios Sustentabilidade 20|30. A primeira de quatro conferências decorreu esta quarta-feira, em Lisboa, e foi dedicada ao ambiente.
"Gostava de desdramatizar", começou por afirmar Miguel Maya quando questionado sobre os efeitos da eleição do empresário - que deverá voltar a tirar os EUA do Acordo de Paris - no combate às alterações climáticas, preferindo destacar que "há o Presidente Trump e há as instituições. Tem a ver com as empresas. E mais de 60% das empresas mais relevantes dos Estados Unidos têm um compromisso ‘net zero’ para 2050", algo que Maya acredita que não será colocado em causa. "Pode haver políticas públicas que vão condicionar e dificultar, mas não vão impedir que o país como um todo combata as alterações climáticas".
Miguel Maya prefere realçar que o importante é a reação europeia. "Vamos pensar que os EUA vão atrasar a transição. Há uma coisa que parece certa, dificilmente vamos cumprir as metas definidas nos ‘timings’ definidos", alertou. E quando se adivinha uma alteração de comportamento no sistema financeiro norte-americano na hora de conceder crédito - pode tornar-se menos exigente nos critérios ambientais - Maya vê aí uma oportunidade: "Isso deve-nos fazer desistir da nossa agenda? Acho que não. É uma oportunidade para a Europa criar vantagens competitivas e depois a questão é como é que nos protegemos relativamente a operadores que não têm as mesmas regras. Isso não implica um abrandamento da legislação e do enquadramento regulatório, mas que haja condições de concorrência equivalentes", destacou.
Também o CEO da Fidelidade desdramatizou a vitória de Trump. "Este movimento é imparável", disse Rogério Campos Henriques sobre o combate às alterações climáticas. "Alguns países vão fazer de forma mais lenta, mas não há nenhum país que não esteja a fazer este caminho", realçou.
O CEO da seguradora entende que é "muito importante que discutamos não só a descarbonização, mas a capacidade de adaptação dos territórios, das empresas, das populações aos fenómenos climáticos" e que "as empresas precisam de olhar para a adaptação como uma prioridade. Identificar os riscos que os fenómenos extremos podem ter no negócio".
Campos Henriques referiu estatísticas sobre o custo dos fenómenos extremos que têm aumentado em Portugal, cuja frequência e severidade está a crescer. "Aumentou de forma evidente nas últimas décadas. O custo dos fenómenos extremos nos últimos dez anos foi 60% superior ao custo médio".
E insistiu no tema antigo da preparação do país para lidar com desastres. "Em Portugal há um défice de proteção tremendo", constatou. "No país, mais de 50% das habitações não têm nenhum seguro. E quando olhamos para os fenómenos sísmicos, nem 20% das habitações têm cobertura e isso seria muito importante".
O país discute há décadas a possibilidade de criação de um fundo para riscos sísmicos e catástrofes naturais. A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões promete entregar ao Governo uma proposta nesse sentido.