- Partilhar artigo
- ...
Os líderes associativos Jorge Cardoso Gonçalves e Macário Correia integraram o painel dedicado à água.
No papel, Portugal não tem falta de água, o grande problema está no desperdício e na esfera da decisão política. A acusação é do presidente da Associação de Regantes do Sotavento Algarvio, que participou num painel dedicado aos recursos hídricos na conferência sobre ambiente que marcou o arranque da quinta edição da Iniciativa Negócios Sustentabilidade 20|30.
Com o Algarve e o sudoeste alentejano a terem problemas recorrentes de abastecimento, Macário Correia não tem dúvidas de que "não há uma carência de água, há uma carência de decisões". E dá um exemplo: "No passado fim de semana, ganhamos 30 hectómetros nas barragens do sotavento para regar 1000 hectares durante o ano de 2025. Não acontecia assim há 20 anos".
No mesmo painel, o presidente da Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos, Jorge Cardoso Gonçalves, confirmou que o país tem água suficiente para o consumo. "Em termos de disponibilidade hídrica, em Portugal é relativamente elevada e compara bem com alguns países da Europa", afirmou, acrescentando que existe "acima de tudo um desequilíbrio entre disponibilidades e necessidades e um desequilíbrio territorial". "Há duas realidades. Numa, a disponibilidade está acima da necessidade e noutra região nem tanto", enfatizou Jorge Cardoso Gonçalves, adicionando ainda outro dado: "temos um aumento contínuo da pressão sobre as massas de água que acontece por uma evolução natural e é multissetorial e é inerente ao desenvolvimento das comunidades".
O país, na opinião do responsável, tem de conviver com estas questões num cenário de adaptação climática. "Não me parece que exista uma resposta única. Quando os problemas são complexos, normalmente as soluções não são simples. Não há uma bala de prata para resolver os problemas da gestão da água", concluiu.
Resíduos são "dos maiores desafios" do país
Se na água os problemas são complexos, o setor dos resíduos urbanos não fica atrás, com o Governo a admitir que este "é um dos maiores desafios do país", tendo em conta as metas de reciclagem que continuam por cumprir, os aterros quase cheios, entre outros obstáculos, como por exemplo as tarifas demasiado baixas cobradas aos portugueses pela recolha, separação e tratamento do seu lixo.
Em média, este serviço custa a uma família perto de oito euros por mês numa fatura da água de 32 euros. Questionado sobre se este é um valor demasiado baixo, e até onde poderia ser aumentado, Fernando Leite, CEO da Lipor, lembra que "é difícil alterar os regimes tarifários ao nível das autarquias". E a dificuldade adensa-se perto de "ciclos eleitorais". Com as autárquicas marcadas para outubro de 2025, o responsável diz que o próximo ano será complicadíssimo, porque o poder de discussão das entidades gestoras junto das autarquias será muito limitado". No final de contas, nenhuma câmara quer aumentar as tarifas e arriscar perder votos.
"Precisamos de uma revolução nas metodologias e na prestação de serviço que a autarquia fornece ao cidadão. As pessoas estarão dispostas a pagar mais se o serviço for melhor", refere, dando como um bom exemplo o município da Maia.
Já Marta Neves, administradora da EGF e presidente da executiva da Valorsul, frisou que os oito euros pagos pelo serviços de resíduos estão aquém da média da UE. "A tarifa deve ser refletida no consumidor, mas as câmaras acomodam o valor nos orçamentos e não o transmitem para as faturas das famílias", admite, defendendo a lógica do poluidor/pagador. "As pessoas não têm consciência do que custa recolher e tratar os resíduos urbanos".
A terminar o painel, Cristina Sousa Rocha, investigadora do LNEG, deu exemplos de formas de retirar valor do que já não queremos: através dos sistemas de depósito e recolha de garrafas (que tardam no país), da reconversão de equipamentos elétricos e eletrónicos, com destaque para o design das embalagens que pode facilitar na triagem, por exemplo.