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McKinsey lança relatório sobre transformação económica necessária para atingir descarbonização em 2050

O relatório, com mais de 200 páginas, antecipa a possibilidade de a transição para um cenário de zero emissões líquidas carecer de uma "redistribuição massiva da mão-de-obra".

25 de Janeiro de 2022 às 09:57
Vítor Mota
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Se, de um lado, implicaria um aumento anual de 3,5 biliões de dólares em gastos de capital em ativos físicos, de outro, permitiria um saldo de 15 milhões novos empregos diretos e indiretos, entre os que iriam ser gerados e os que iriam ser perdidos. Estes são exemplos de quanto pode custar e valer a transformação económica necessária para que o mundo atinja a meta de zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2050, de acordo com um estudo publicado esta terça-feira pela McKinsey & Company.

Uma das principais conclusões do relatório é o de que "a transição seria universal", ou seja, "todos os setores económicos e países seriam afetados à medida que são revistos todos os sistemas de energia e de uso da terra que sustentam as economias e que são responsáveis por gerar emissões".

E, neste contexto, que a escala da transformação económica seria "significativa". "Os gastos de capital em ativos físicos totalizariam cerca de 275 biliões de dólares até 2050 – aproximadamente 9,2 biliões de dólares por ano – ou um aumento de 3,5 biliões nos gastos anuais que são hoje feitos, à medida que diminuem as atividades responsáveis por emissões elevadas e aumentam as atividades com emissões mais baixas". Existiria, no entanto, uma mudança de paradigma: "Por exemplo, hoje 65% dos gastos com energia e terra vão para produtos responsáveis por um elevado nível de emissões", sendo que, no futuro, 70% iriam para produtos com baixas emissões e as infraestruturas necessárias, revertendo a tendência atual".

O relatório, com mais de 200 páginas, antecipa ainda a possibilidade de a transição para um cenário de zero emissões líquidas carecer de uma "redistribuição massiva da mão-de-obra" que resultaria, por um lado, em "cerca de 200 milhões de empregos diretos e indiretos gerados" e, por outro, "em 185 milhões perdidos até 2050".

Para alcançar a descarbonização até essa data, a McKinsey & Company estima também que seria preciso antecipar as mudanças, com a próxima década a mostrar-se "decisiva". Assim, sinaliza, "os gastos, que hoje rondam os 6,8% do PIB, aumentariam para 8,8% entre 2026 e 2030, antes de diminuírem", ao passo que os custos de produção de eletricidade aumentariam de imediato, mas cairiam depois de atingirem o pico".

A consultora adverte, porém, que "o impacto da transição seria sentido de forma desigual entre setores, países e comunidades". "Os mais expostos seriam os setores com produtos ou operações com elevados níveis de emissões; países com rendimentos mais baixos ‘per capita’ e aqueles com grandes recursos de combustíveis fósseis; e comunidades cujas economias locais dependem de setores expostos", refere a consultora, apontando que correspondem atualmente a cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

Já outros 10% do PIB estão em setores cujas cadeias de fornecimento têm emissões elevadas, como, por exemplo, a construção, diz a McKinsey & Company. A consultora observa ainda que "famílias com rendimentos mais baixos por todo o mundo poderão ser mais afetadas". Não só "pelo aumento do custo da eletricidade a curto prazo", mas também "pelos custos relacionados com o capital que possam vir a necessitar para aquisição de produtos com emissões mais reduzidas, como novos aquecedores ou carros elétricos".

A consultora alerta, no entanto que, "a transição acarreta riscos se não for bem gerida, inclusive de escassez de energia e de aumento de preços". "Se não for feita a tempo ou ocorrer de forma abrupta, a transição aumenta o risco de ativos estagnados e de deslocalização de trabalhadores". Ainda assim, ressalva, "os resultados seriam muito piores sem nenhuma medida: alcançar zero emissões líquidas e limitar o aquecimento a 1,5 °C evitaria os impactos mais catastróficos das alterações climáticas".

 

"Os riscos a curto prazo de uma transição mal pensada não podem ser ignorados", alerta Bruno Esgallhado, sócio da McKinsey e líder para a área da sustentabilidade na Península Ibérica, citado no mesmo comunicado enviado às redações. "A transição económica para alcançar zero emissões líquidas será complexa e desafiadora, mas é necessária. A questão agora é se o mundo pode agir com ousadia e aumentar a resposta e o investimento necessários na próxima década", enfatiza.

Para a McKinsey, mesmo apesar de os impactos serem distribuídos de "forma desigual, "uma transição ordenada oferece oportunidades de crescimento e benefícios duradouros que vão para além da descarbonização", além de que "pagaria dividendos, incluindo o potencial para uma descida a longo prazo nos custos de energia, melhores resultados para a saúde e para a conservação do capital natural".

"As áreas de crescimento poderiam ser operações mais eficientes com base na descarbonização e a criação de novos mercados para produtos de baixa emissão de carbono", elenca a consultora, na mesma nota que acompanha o estudo.

 

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