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A transição de uma economia linear para uma economia circular é fundamental para se alcançar um mundo mais sustentável, mas a sociedade tem ainda um longo caminho a percorrer para conseguir aproveitar resíduos como matéria-prima de forma a deixar de extrair tantos recursos à natureza. O painel sobre "Economia Circular", na conferência ESG do Negócios Sustentabilidade 20|30, que decorreu a 20 de outubro, na Estufa Real, em Lisboa, e que contou com a moderação de Helena Pereira, professora emérita do Instituto Superior de Agronomia de Lisboa e júri do Prémio Nacional de Sustentabilidade, na categoria economia circular.
O debate deixou claro que Portugal está muito atrasado nesta matéria, com taxas de circularidade a rondar os 2%, uma das mais baixas da Europa. Mas a nível global os números também mostram baixas taxas de circularidade. O "Circularity Gap Report 2022" dá conta de que a economia linear consome atualmente cerca de 100 biliões de toneladas de materiais e desperdiça mais de 90% destes recursos, cifrando-se o nível de circularidade nos 8,6%.
Trata-se de um problema complexo que interfere com a organização das cidades, ordenamento do território e diversos "players". Ana Trigo Morais criticou também que este é um setor que está permanentemente à espera de legislação e no qual se "fazem muitos planos estratégicos, mas não se cumprem". A CEO defendeu ainda que os objetivos devem ser realistas e cumpridos, afirmando que "temos um problema grave de legislação de política pública em Portugal para o setor dos resíduos" que deveria ser mais clara. Para além disso, "chegou o tempo de agir" e para aumentar a taxa de 2% de circularidade em Portugal "temos de colaborar e gerir as interfaces de integração da atividade", acrescentou.
Numa intervenção que deve começar logo no início da linha, foi salientada também pelos oradores a importância do design de produto e da inovação como formas de reduzir o potencial de resíduos.
O debate deixou claro que Portugal está muito atrasado nesta matéria, com taxas de circularidade a rondar os 2%, uma das mais baixas da Europa. Mas a nível global os números também mostram baixas taxas de circularidade. O "Circularity Gap Report 2022" dá conta de que a economia linear consome atualmente cerca de 100 biliões de toneladas de materiais e desperdiça mais de 90% destes recursos, cifrando-se o nível de circularidade nos 8,6%.
Existe um desfasamento entre as políticas públicas e legais, entre outras barreiras. Joana Maia Dias
professora na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Com vista a reverter este modelo, Joana Maia Dias, professora na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, referiu que "temos de acelerar" para o modelo circular, porém salientou que "existe um desfasamento entre as políticas públicas e legais, entre outras barreiras, que estão desajustadas da nossa realidade". Existem, na sua perspetiva, entraves a nível técnico e tecnológico, legais, regulamentares, de mercado, políticos, económicos e sociais. Deste leque, Joana Maia Dias evidenciou "a necessidade de consciencialização e formação para a mudança de comportamentos". Porém, "o esforço das pessoas só pode ir até um determinado ponto mediante as condições que têm". professora na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Parece que ninguém no país se incomoda com o facto de repetidamente não cumprirmos metas de reciclagem. Ana Trigo Morais
CEO da Sociedade Ponto Verde
A gestão de resíduos é, de facto, um problema que o país não tem conseguido resolver. Para Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, "falta muita ambição e vontade de mudar as coisas". Acrescentando que "estou a ficar muito preocupada com o setor dos resíduos", pois "parece que ninguém no país se incomoda com o facto de repetidamente não cumprirmos metas de reciclagem e de andarmos a enterrar em aterro 64% do que resulta de todos os resíduos urbanos que produzimos", sendo que "os aterros não são a solução ambiental desejável".CEO da Sociedade Ponto Verde
Trata-se de um problema complexo que interfere com a organização das cidades, ordenamento do território e diversos "players". Ana Trigo Morais criticou também que este é um setor que está permanentemente à espera de legislação e no qual se "fazem muitos planos estratégicos, mas não se cumprem". A CEO defendeu ainda que os objetivos devem ser realistas e cumpridos, afirmando que "temos um problema grave de legislação de política pública em Portugal para o setor dos resíduos" que deveria ser mais clara. Para além disso, "chegou o tempo de agir" e para aumentar a taxa de 2% de circularidade em Portugal "temos de colaborar e gerir as interfaces de integração da atividade", acrescentou.
O plástico pode ser reciclado várias vezes, mas para isso tem de se obter um reciclado de qualidade. Carlos Rodrigues
diretor da Silvex
Como produtora de plásticos, a Silvex é um dos "stakeholders" deste setor. Consciente dos problemas que o plástico acarreta para o ambiente, considera que o problema não é do produto em si, mas sim da má gestão que tem sido feita deste bem no seu fim de vida. Neste caminho para sustentabilidade, "a empresa já produz sacos biodegradáveis, feitos a partir de amido de milho e de batata, cujo fim de vida deverá ser a compostagem", exemplificou Carlos Rodrigues, diretor da Silvex. Por outro lado, fazem também reciclagem dos plásticos. "O plástico pode ser reciclado várias vezes, mas para isso tem de se obter um reciclado de qualidade", acrescentou, pelo que a empresa construiu uma unidade que recebe plástico em fim de vida, de boa qualidade e de diversos clientes, e dão-lhe nova vida. diretor da Silvex
O setor precisa de mudar como não mudou nos últimos 20 anos. Filipa Pantaleão
diretora técnica da EGF
Filipa Pantaleão, diretora técnica da EGF, destacou também que "o setor precisa de mudar como não mudou nos últimos 20 anos". No caso da EGF, têm como ambição contribuir de forma eficaz para a meta da reciclagem, porém, "falta responsabilização no setor". Para fazer face à elevada produção de resíduos dos portugueses por dia, cerca de 1,5 kg por dia, Filipa Pantaleão considera também que é necessária colaboração entre todos os "players" do setor e mimetizar o pragmatismo dos Países Baixos. diretora técnica da EGF
Se conseguirmos estar mais perto dos clientes, tendo mais produtos frescos, também conseguimos reduzir o desperdício alimentar. Miguel Silva
COO do DIA
Miguel Silva, COO do DIA, destacou que o retalho alimentar está numa cadeia que representa em termos de produção de resíduos e de carbono cerca de 5% a 7%, "mas isto não nos retira a responsabilidade por toda a cadeia, porque 40% vem do que está relacionado com matérias-primas e quase 50% vem da parte do consumo". Estando no meio da cadeia, salientou que "se conseguirmos estar mais perto dos clientes, tendo mais produtos frescos, também conseguimos reduzir o desperdício alimentar. Toda a área da distribuição tem esta responsabilidade". O responsável deu conta de alguns bons exemplos que estão a implementar no grupo DIA, tendo iniciado um processo de transformação em 2019, com objetivos claros, tais como reduzir 20% dos seus resíduos que vão para aterro.COO do DIA
Numa intervenção que deve começar logo no início da linha, foi salientada também pelos oradores a importância do design de produto e da inovação como formas de reduzir o potencial de resíduos.