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Os bancos dos EUA alinharam-se com a política ambiental de Trump.
Não foi preciso o candidato republicano tomar posse para as instituições financeiras começarem a alinhar a sua imagem pública com a conhecida interpretação de Donald Trump no que toca à sustentabilidade. Além de seis dos maiores bancos dos Estados Unidos terem deixado a Aliança da Banca para a Neutralidade Carbónica (NZBA, na sigla em inglês), também a Aliança das Gestoras de Ativos para a Neutralidade Carbónica (NZAM, em inglês) anunciou uma pausa após a saída da maior gestora de ativos do mundo, a BlackRock.
O contágio chegou também aos bancos centrais e a Reserva Federal norte-americana (Fed) deixou de estar, em meados de janeiro, na Rede de Bancos Centrais e Supervisores para a Ecologização do Setor Financeiro (NGFS, na sigla em inglês). O banco central liderado por Jerome Powell justificou a saída com base no aumento da abrangência de temas que “estão fora do mandato” da Fed.
CEO da Systemic
Sofia Santos, CEO da Systemic, argumenta ao Negócios que a saída pode ser antes vista como um “tema político”, uma vez que a Fed “nunca foi pró-ativa nos temas climáticos e sempre foi muito conservadora no reconhecimento de que os temas climáticos são temas de crescimento económico”. A justificação política também se aplica aos restantes bancos.
“É uma consequência do atual enquadramento institucional político”, uma vez que Donald Trump “até é agressivo e ameaçador para as empresas que têm preocupações com as alterações climáticas”, afirma Sofia Santos. Nos primeiros dias como Presidente dos Estados Unidos, o republicano retirou os EUA do Acordo de Paris e suspendeu projetos de energias verdes. Simplificando, “a saída parece coerente com a essência destes grandes bancos: comunicarem que estão alinhados com algo que lhes traz algumas vantagens”.
Várias instituições financeiras viram-se envolvidas em processos em tribunal em estados de liderança republicana por terem reduzido o financiamento a setores mais poluidores, o que “criou um ruído político e social muito grande”, diz António Baldaque da Silva, diretor executivo do Center for Sustainable Finance da Católica. Inicialmente “tinha sido resolvido com os bancos a clarificarem que estavam a dar mais informação e produtos aos clientes”, mas o “barulho” gerado após a eleição de Donald Trump voltou a colocar o assunto em cima da mesa.
“As temáticas ambientais são extremamente polarizadas nos Estados Unidos” e andam “ao sabor dos ventos políticos e ideológicos”, nota Filipa Saldanha, diretora de sustentabilidade do Crédito Agrícola. Esta acaba assim por ser “uma atitude pragmática dos bancos e gestoras de ativos ao dizerem que não vale a pena estar neste ruído, que impacta a reputação”, conclui António Baldaque da Silva.