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A presidente da Comissão Europeia defende que é necessário colocar a natureza nos balanços económicos das empresas. No seu discurso de abertura na Conferência DLD sobre a Natureza, hoje em Munique, na Alemanha, Ursula Von der Leyen salientou que "há uma consciência crescente de que a natureza intacta tem um valor económico. A natureza está a começar a figurar nos planos de negócios das nossas empresas".
Von der Leyen exemplificou com o caso de uma companhia de seguros holandesa, que está a oferecer descontos aos clientes que instalem telhados verdes. "Isso tornará a casa e todo o bairro mais seguros. Drenará o excesso de chuva e melhorará a vida útil do telhado. Assim, não só é bom para os pássaros e as abelhas, mas também para reduzir os custos futuros da companhia de seguros", acrescentando que "isto mostra que é possível uma abordagem diferente, no sentido de uma economia que encoraje as pessoas a servir a natureza, para que a natureza possa servir-nos a todos".
Von der Leyen sublinhou que para que este novo tipo de economia cresça e prospere é necessário estabelecer políticas e cumpri-las, não esquecendo de apoiar quem possa ser afetado por elas. "Nos últimos cinco anos, transformámos os nossos objetivos climáticos em lei. Temos um conjunto completo de regras claras em vigor. Mas, enquanto as implementamos, temos também de incentivar aqueles que fazem um esforço suplementar. Para além de regras, precisamos de recompensas. Porque proteger a natureza também deve ser interessante do ponto de vista económico", referiu.
Exemplificou com a situação dos agricultores europeus que se têm revoltado com algumas das leis de proteção da natureza que consideram pô-los em desvantagem competitiva em relação ao resto do mundo. "O debate sobre o futuro da agricultura na Europa tem sido frequentemente aceso, como se não conseguíssemos conciliar os interesses dos agricultores com os interesses da natureza. Mas a natureza é o meio de subsistência dos agricultores. Toda a sua vida depende de solos saudáveis, de águas limpas e do trabalho vital dos polinizadores. Os agricultores sabem-no melhor do que ninguém", assinalou.
Desde o ano passado, foram convocados agricultores, grupos ambientalistas, indústria alimentar e associações de consumidores, o setor financeiro e a ciência, ou seja, todas as partes interessadas, para uma mesa redonda, denominada Diálogo Estratégico sobre o Futuro da Agricultura na Europa. "O diálogo mostrou que temos muito mais pontos em comum do que se pensava. Por exemplo, os agricultores estão entre as primeiras vítimas das alterações climáticas e da perda da natureza. Ao mesmo tempo, porém, as estruturas e práticas agrícolas podem alimentar estas crises. Por conseguinte, a agricultura sustentável é um instrumento extremamente importante para apoiar uma agricultura que funcione em sintonia com a natureza", referiu a presidente da Comissão Europeia.
Por isso, defendeu um sistema eficiente de recompensas e incentivos. "Só se os agricultores puderem viver das suas terras é que investirão em práticas mais sustentáveis. E só se atingirmos juntos os nossos objetivos climáticos e ambientais é que os agricultores poderão continuar a ganhar a vida". Na sua perspetiva, "precisamos de novos instrumentos financeiros para compensar os agricultores pelos custos adicionais da sustentabilidade e para os compensar por cuidarem da terra, da água e do ar. É altura de recompensar aqueles que servem o nosso planeta".
A líder da Comissão Europeia salientou também o papel dos créditos da natureza para fazer funcionar um sistema que alie interesses económicos e naturais. "Podemos criar um mercado para restaurar o nosso planeta. Quase parece demasiado bom para ser verdade", referiu, exemplficando com uma empresa de água, para a qual a saúde de uma nascente é um ativo vital, ou uma empresa frutícola que depende do trabalho essencial dos polinizadores. "Precisamos de canalizar receitas vitais para todos aqueles que estão a prestar serviços ecossistémicos. Já estão a decorrer trabalhos nas Nações Unidas e noutros locais para definir uma norma global para os créditos da natureza. Este é um primeiro passo essencial para alargar este mercado em crescimento. E estamos a trabalhar intensamente com os Estados-Membros para desenvolver os primeiros projetos-piloto de apoio a este processo", avançou.
Ursula von der Leyen congratulou-se também com o facto de metade da eletricidade consumida atualmente na União Europeia provir de fontes renováveis, segundo mostra o Relatório sobre o Estado da União da Energia 2024, e haver uma menor dependência da Rússia. "Atualmente produzimos mais eletricidade a partir do vento e do sol do que a partir de todos os combustíveis fósseis combinados. A era dos combustíveis fósseis russos dominantes na Europa acabou de vez", referiu no seu discurso.