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Três milhões de pessoas já se deslocaram dentro dos EUA por riscos climáticos

Condições meteorológicas extremas estão a tornar partes do país inóspitas, esperando-se que mais 7,5 milhões se mudem nos próximos 30 anos. Valores das propriedades e a sua viabilidade comercial estão a ser afetados.

19 de Dezembro de 2023 às 10:39
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As alterações climáticas já estão a obrigar milhões de pessoas em todo o mundo a abandonar as suas casas para se refugiarem da subida do nível do mar, das secas devastadoras e de outros efeitos do aquecimento global.

Uma realidade que não acontece só nos países menos desenvolvidos, uma vez que essa migração também está a acontecer em países como os EUA, devido às condições meteorológicas extremas que estão a tornar partes do país praticamente inóspitas, de acordo com uma nova análise

Cerca de 3,2 milhões de americanos já se mudaram devido ao risco crescente de inundações, segundo a First Street Foundation. O relatório, publicado nesta segunda-feira na revista Nature-Communications, destaca o surgimento de "Áreas de Abandono Climático", que são locais onde a população local diminuiu entre 2000 e 2020 devido aos riscos associados às alterações climáticas.

Muitas dessas zonas situam-se em regiões do país que também registaram um aumento da migração nas últimas duas décadas, incluindo Estados como a Florida e o Texas. Estas comunidades correm o risco de entrar numa espiral económica descendente, uma vez que a perda de população provoca um declínio nos valores das propriedades e nos serviços locais, concluiu o relatório.

"Parece haver vencedores e perdedores claros no que diz respeito ao impacto do risco de inundação na mudança populacional ao nível do bairro", disse Jeremy Porter, diretor de Investigação sobre Implicações Climáticas da First Street Foundation, num comunicado. E acrescentou: "As implicações a jusante são enormes e afetam os valores das propriedades, a composição dos bairros e a viabilidade comercial, tanto positiva como negativamente."

Os investigadores utilizaram os dados mais recentes do Gabinete dos Censos sobre a contagem total da população para 2020 e aplicaram a informação aos dados de risco de inundação específicos das propriedades da First Street Foundation. Através deste processo, foram encontrados "pontos de inflexão" em que os limiares de elevado risco de inundação tiveram um impacto direto na alteração da população em vários graus.

Existem 113 milhões de pessoas que vivem em áreas onde o risco de inundação já está a afetar a escolha de habitação e, nos casos mais extremos, são observáveis "Áreas de Abandono Climático".

Estas zonas de abandono climático constituem atualmente mais de 818 000 blocos de recenseamento e registaram uma perda líquida acumulada de mais de 3,2 milhões de habitantes entre 2000 e 2020, diretamente atribuída às inundações. Mais 7,5 milhões de pessoas deverão também deslocar-se nos próximos 30 anos.

 

Estas zonas de abandono climático emergentes são constituídas por quarteirões que deverão atingir o "ponto de viragem" do risco num futuro próximo e, subsequentemente, registar uma diminuição de 24% da população até 2053.

"A exposição da população nos próximos 30 anos é uma preocupação séria", afirmou Evelyn Shu, analista de investigação sénior da First Street Foundation e principal autora do estudo. "Durante décadas, optámos por construir e desenvolver em áreas que acreditávamos não apresentarem riscos significativos, mas devido aos impactos das alterações climáticas, essas áreas começam muito rapidamente a parecer-se com áreas que evitámos no passado".

 

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