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A água é essencial à sobrevivência de todos os seres vivos. E, talvez por isso, muito se tem falado da poluição que afeta os oceanos, nomeadamente as ilhas de plástico e os microplásticos. Mas os problemas com a água vão muito para além disso. Então e as águas costeiras? São elas que estão em maior contacto com o ser humano, por exemplo. Qual o impacto de ter águas costeiras poluídas, e, com isso não saudáveis? Em que ponto isso afeta a biodiversidade envolvente e, também, o ser humano? Sobre isso Maria Santos, da Zero, lembra que é cada vez mais reconhecido o valor social, cultural, ambiental e económico que os oceanos proporcionam ao mundo inteiro e a um só país, e em especial às comunidades costeiras. "A perturbação destes ecossistemas, através da poluição e contaminação, pode pôr em causa como usufruímos das zonas costeiras, seja em contexto de lazer ou de subsistência, pois águas poluídas poderão traduzir-se em consequências para a saúde dos organismos que fazem parte dele e mantêm o equilíbrio, impactando, em última instância, a saúde das pessoas", afirma.
Saúde? Em que aspeto? Basta pensar na pesca, por exemplo. Águas costeiras poluídas afetam a saúde dos peixes que são pescados e consumidos. "Esta questão torna-se particularmente relevante para Portugal, dada a nossa localização geográfica e a ligação privilegiada ao oceano, do qual dependemos significativamente em várias vertentes, o que nos torna também particularmente vulneráveis a perturbações nos ecossistemas das zonas costeiras, daí ser essencial para o bem comum garantir a proteção e bom estado destas águas", aponta a ambientalista.
O tema é de tal forma pertinente - e tem passado relativamente despercebido - que é tema do projeto de investigação de Alex Armand, investigador da Nova SBE (Nova School of Business & Economics). Com o título de "O impacto global da contaminação das águas costeiras no desenvolvimento económico" é a primeira bolsa do European Research Council (ERC) em Economia. Trata-se de um projeto 1,4 milhões de euros de financiamento europeu por um período de 60 meses, que vai ser estudado em Portugal. Basicamente durante cinco anos Alex Armand vai avaliar o efeito da contaminação das águas costeiras no desenvolvimento económico, produzindo novo conhecimento que permitirá redesenhar as políticas de proteção ambiental.
Como refere o investigador, as águas costeiras saudáveis desempenham um papel crítico para a segurança alimentar global. "O oceano é responsável por cerca de 5% do PIB global, e os nutrientes derivados do peixe suportam a vida de mais de 3 mil milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente em países de baixo e médio rendimento", refere Alex Armand. Evidências recentes mostram que a contaminação humana das águas costeiras está a ter um impacto significativo na vida marinha. Com uma grande parte das comunidades a dependerem da pesca para sobreviver, é provável que a contaminação das águas costeiras já esteja a ter um impacto negativo no desenvolvimento socioeconómico local destes países. No entanto, o conhecimento sobre este fenómeno é ainda muito limitado.
Impacto na segurança alimentar e na economia
O impacto da poluição das águas costeira vai depender do quão dependente o país está das mesmas. Como refere Maria Santos, "no caso de países cujas dietas incluem em grande número recursos alimentares destes ecossistemas, como é o caso de Portugal enquanto um dos maiores consumidores de peixe na Europa, podemos afirmar que a segurança alimentar pode ficar comprometida pela poluição". Poluição que afeta não só os stocks dos recursos - um exemplo claro é a redução da quantidade de peixe disponível para captura a longo prazo - mas, também, a "qualidade dos próprios alimentos para consumo humano, seja por acumulação de toxinas, metais pesados ou até plástico". O impacto deste cenário é evidente para Maria Santos: menos quantidade e qualidade dos alimentos provenientes destes ecossistemas, em última instância, terão consequências económicas para quem subsiste de atividades económicas ligadas ao setor da pesca e da apanha. Mas não se ficam por aqui. "Estas consequências, por sua vez, poderão sentir-se noutros setores de atividade intimamente ligados, como é o caso do turismo, cujas atividades beneficiam da qualidade das águas costeiras. As consequências nos vários setores económicos estão encadeadas entre si e, tudo somado, poderemos assistir a impactos negativos na economia global do país", acrescenta a ambientalista da Zero.
O ser humano é o principal culpado
Mas o que está a poluir as águas costeiras e o que podemos fazer para eliminar (ou pelo menos atenuar) essa poluição? A explicação é relativamente fácil de encontrar: o ser humano. "De uma forma geral, as atividades humanas são a principal causa dos vários tipos de poluição das águas costeiras", afirma Maria Santos, que acrescenta que vários tipos de poluição e de diversos pontos de origem, como por exemplo a poluição por substâncias químicas que têm origem por via terrestre através de efluentes e descargas industriais não tratadas, ou originárias de descargas ou derrames de poluentes de embarcações, por via marítima. A melhor forma de alterar isto é investir no controlo e fiscalização destas atividades. Para Maria Santos são medidas essenciais para se prevenir os problemas gerados por estes tipos de poluição.
Além destas há ainda que contar com o lixo marinho, que é hoje uma das principais fontes de poluição. E aqui incluem-se os plásticos que chegam ao oceano tanto por via terrestre como por via marítima. "Em primeira instância, a redução da produção de resíduos é uma medida essencial para travarmos este tipo de poluição diretamente na fonte. Depois, é necessário atuar nas políticas e estratégias de gestão de resíduos, apostando no cumprimento das metas de reciclagem, adotando urgentemente os princípios de economia circular", explica Maria Santos. Ao que Alex Armand acrescenta que "as águas costeiras são contaminadas por uma grande variedade de poluentes: resíduos plásticos, derrames de petróleo, produtos químicos, resíduos humanos, nutrientes e pesticidas da agricultura, para citar alguns".
É certo que o Governo é um dos principais defensores das águas costeiras. A começar, desde logo, pelo seu papel legislador e fiscalizador. "A nível legislativo, o Governo é não só responsável por implementar políticas nacionais e/ou locais mas também por transpor as políticas europeias nesta matéria, como é o caso da Diretiva Quadro da Água, que estabelece quadro de ação comunitária no domínio da política da água, incluindo as águas costeiras. Esta diretiva europeia prevê especificamente que os Estados-membros são responsáveis pelo combate à poluição, garantindo o controlo da qualidade e a monitorização do estado das águas costeiras", aponta Maria Santos.
Mas isso não quer dizer que todas as medidas e todas as ações de proteção recaiam apenas sobre o governo. Como refere a ambientalista as ONG também têm um papel a desempenhar, nomeadamente no sentido de acompanhar a transposição e a implementação das políticas e programas nesta matéria, garantindo o cumprimento das metas estabelecidas. "Focando a um nível de atuação local, as ONG, pelo trabalho de base que fazem com a sociedade civil (atuando até em sinergia com entidades do Governo), o seu papel surge no sentido da sensibilização e educação para estas questões, tentando aproximar as pessoas ao problema, levando-as a refletir conscientemente sobre o seu próprio papel e atuação individual na proteção das águas costeiras", refere. E depois há o indivíduo. Cabe a todos nós velar por um melhor ambiente. Isto consiste em ter em atenção o nosso comportamento diário. E, nesse ponto, o projeto de investigação de Alex Armand vai dar um contributo importante porque vai, efetivamente, quantificar os vários impactos da poluição das águas costeiras. Os dados recolhidos não só darão uma visão económica da situação (que, neste momento é deficitária), como ajudarão as políticas de proteção do meio ambiente. Porque, como mencionado no Programa Sustentável da ONU Objetivos de Desenvolvimento, o conhecimento nesta área é crucialmente necessário nestes tempos desafiadores para o oceano.
Saúde? Em que aspeto? Basta pensar na pesca, por exemplo. Águas costeiras poluídas afetam a saúde dos peixes que são pescados e consumidos. "Esta questão torna-se particularmente relevante para Portugal, dada a nossa localização geográfica e a ligação privilegiada ao oceano, do qual dependemos significativamente em várias vertentes, o que nos torna também particularmente vulneráveis a perturbações nos ecossistemas das zonas costeiras, daí ser essencial para o bem comum garantir a proteção e bom estado destas águas", aponta a ambientalista.
O tema é de tal forma pertinente - e tem passado relativamente despercebido - que é tema do projeto de investigação de Alex Armand, investigador da Nova SBE (Nova School of Business & Economics). Com o título de "O impacto global da contaminação das águas costeiras no desenvolvimento económico" é a primeira bolsa do European Research Council (ERC) em Economia. Trata-se de um projeto 1,4 milhões de euros de financiamento europeu por um período de 60 meses, que vai ser estudado em Portugal. Basicamente durante cinco anos Alex Armand vai avaliar o efeito da contaminação das águas costeiras no desenvolvimento económico, produzindo novo conhecimento que permitirá redesenhar as políticas de proteção ambiental.
Como refere o investigador, as águas costeiras saudáveis desempenham um papel crítico para a segurança alimentar global. "O oceano é responsável por cerca de 5% do PIB global, e os nutrientes derivados do peixe suportam a vida de mais de 3 mil milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente em países de baixo e médio rendimento", refere Alex Armand. Evidências recentes mostram que a contaminação humana das águas costeiras está a ter um impacto significativo na vida marinha. Com uma grande parte das comunidades a dependerem da pesca para sobreviver, é provável que a contaminação das águas costeiras já esteja a ter um impacto negativo no desenvolvimento socioeconómico local destes países. No entanto, o conhecimento sobre este fenómeno é ainda muito limitado.
As consequências nos vários setores económicos estão encadeadas entre si e, tudo somado, poderemos assistir a impactos na economia global do país Maria Santos, Ambientalista da Zero
O objetivo do projeto é o de identificar, nos vários países, a variação exógena na contaminação da água costeira, determinada pelas descargas poluentes nos rios e pelas mudanças climáticas nas últimas cinco décadas. A análise dos dados deverá permitir fornecer a primeira evidência global do efeito da contaminação das águas costeiras no desenvolvimento da primeira infância, com foco particular no papel da nutrição; determinar como a contaminação das águas costeiras afeta as atividades económicas locais, concentrando-se no padrão de pesca e nos indicadores de desenvolvimento económico geral; e investigar os efeitos colaterais da contaminação das águas costeiras que estão a ter impacto no desenvolvimento económico local, que incluem mudanças nas posições políticas, o aumento da violência relacionada com a insegurança alimentar e a migração de zonas rurais para zonas urbanas.Impacto na segurança alimentar e na economia
O impacto da poluição das águas costeira vai depender do quão dependente o país está das mesmas. Como refere Maria Santos, "no caso de países cujas dietas incluem em grande número recursos alimentares destes ecossistemas, como é o caso de Portugal enquanto um dos maiores consumidores de peixe na Europa, podemos afirmar que a segurança alimentar pode ficar comprometida pela poluição". Poluição que afeta não só os stocks dos recursos - um exemplo claro é a redução da quantidade de peixe disponível para captura a longo prazo - mas, também, a "qualidade dos próprios alimentos para consumo humano, seja por acumulação de toxinas, metais pesados ou até plástico". O impacto deste cenário é evidente para Maria Santos: menos quantidade e qualidade dos alimentos provenientes destes ecossistemas, em última instância, terão consequências económicas para quem subsiste de atividades económicas ligadas ao setor da pesca e da apanha. Mas não se ficam por aqui. "Estas consequências, por sua vez, poderão sentir-se noutros setores de atividade intimamente ligados, como é o caso do turismo, cujas atividades beneficiam da qualidade das águas costeiras. As consequências nos vários setores económicos estão encadeadas entre si e, tudo somado, poderemos assistir a impactos negativos na economia global do país", acrescenta a ambientalista da Zero.
O ser humano é o principal culpado
Mas o que está a poluir as águas costeiras e o que podemos fazer para eliminar (ou pelo menos atenuar) essa poluição? A explicação é relativamente fácil de encontrar: o ser humano. "De uma forma geral, as atividades humanas são a principal causa dos vários tipos de poluição das águas costeiras", afirma Maria Santos, que acrescenta que vários tipos de poluição e de diversos pontos de origem, como por exemplo a poluição por substâncias químicas que têm origem por via terrestre através de efluentes e descargas industriais não tratadas, ou originárias de descargas ou derrames de poluentes de embarcações, por via marítima. A melhor forma de alterar isto é investir no controlo e fiscalização destas atividades. Para Maria Santos são medidas essenciais para se prevenir os problemas gerados por estes tipos de poluição.
Além destas há ainda que contar com o lixo marinho, que é hoje uma das principais fontes de poluição. E aqui incluem-se os plásticos que chegam ao oceano tanto por via terrestre como por via marítima. "Em primeira instância, a redução da produção de resíduos é uma medida essencial para travarmos este tipo de poluição diretamente na fonte. Depois, é necessário atuar nas políticas e estratégias de gestão de resíduos, apostando no cumprimento das metas de reciclagem, adotando urgentemente os princípios de economia circular", explica Maria Santos. Ao que Alex Armand acrescenta que "as águas costeiras são contaminadas por uma grande variedade de poluentes: resíduos plásticos, derrames de petróleo, produtos químicos, resíduos humanos, nutrientes e pesticidas da agricultura, para citar alguns".
É certo que o Governo é um dos principais defensores das águas costeiras. A começar, desde logo, pelo seu papel legislador e fiscalizador. "A nível legislativo, o Governo é não só responsável por implementar políticas nacionais e/ou locais mas também por transpor as políticas europeias nesta matéria, como é o caso da Diretiva Quadro da Água, que estabelece quadro de ação comunitária no domínio da política da água, incluindo as águas costeiras. Esta diretiva europeia prevê especificamente que os Estados-membros são responsáveis pelo combate à poluição, garantindo o controlo da qualidade e a monitorização do estado das águas costeiras", aponta Maria Santos.
Mas isso não quer dizer que todas as medidas e todas as ações de proteção recaiam apenas sobre o governo. Como refere a ambientalista as ONG também têm um papel a desempenhar, nomeadamente no sentido de acompanhar a transposição e a implementação das políticas e programas nesta matéria, garantindo o cumprimento das metas estabelecidas. "Focando a um nível de atuação local, as ONG, pelo trabalho de base que fazem com a sociedade civil (atuando até em sinergia com entidades do Governo), o seu papel surge no sentido da sensibilização e educação para estas questões, tentando aproximar as pessoas ao problema, levando-as a refletir conscientemente sobre o seu próprio papel e atuação individual na proteção das águas costeiras", refere. E depois há o indivíduo. Cabe a todos nós velar por um melhor ambiente. Isto consiste em ter em atenção o nosso comportamento diário. E, nesse ponto, o projeto de investigação de Alex Armand vai dar um contributo importante porque vai, efetivamente, quantificar os vários impactos da poluição das águas costeiras. Os dados recolhidos não só darão uma visão económica da situação (que, neste momento é deficitária), como ajudarão as políticas de proteção do meio ambiente. Porque, como mencionado no Programa Sustentável da ONU Objetivos de Desenvolvimento, o conhecimento nesta área é crucialmente necessário nestes tempos desafiadores para o oceano.