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A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) excluiu o Parque Nacional de Doñana da sua Lista Verde devido a má gestão, fazendo desta a primeira reserva natural excluída desta lista, anuncia a agência de notícias espanhola EFE.
A decisão baseia-se no facto de "de momento, o local não cumprir o padrão da Lista Verde da IUCN", conforme indica a organização internacional.
A expulsão foi dada conta por carta ao Ministério da Transição Ecológica no dia 1 de dezembro, conforme confirmou esta segunda-feira a ministra Teresa Ribera à EFE. A ministra manifestou-se, porém, confiante de que as medidas desenhadas para o parque, que contemplam a compra de terrenos pelo Estado, têm "um impacto muito importante na redução das pressões que poderiam desenvolver-se a partir da atividade de irrigação no ambiente socioeconómico".
"O importante é trabalhar contra o relógio para poder recuperar a qualidade de vida do ecossistema, para poder recuperar uma Doñana viva", indicou, ao mesmo tempo que destacou que esta organização também se transferiu para o Governo, de forma a reabilitar o espaço natural e diversificar a economia dos municípios envolventes.
A ministra advertiu que nenhuma cultura ilegal será "amnistiada" enquanto a ajuda à zona estiver a ser implementada. "A primeira medida é o cumprimento da legislação em vigor e isto significa que a configuração geográfica vai continuar como antes, fechando os poços ilegais - foram fechados mais de 400 poços ilegais – e procurando reduzir essa pressão com as multas correspondentes", disse à chegada a Bruxelas para participar num Conselho de Ministros Europeus do Ambiente.
Por sua vez, o Governo da Andaluzia diz não ter sido notificado sobre a decisão. O ministro da Sustentabilidade, Ambiente e Economia Azul do Governo da Andaluzia, Ramón Fernández-Pacheco, detalhou à EFE que a UICM não notificou esta administração da referida exclusão e que a gestão do parque nacional "não tem conhecimento de que inspetores desta organização se tenham deslocado a Doñana para ver a realidade deste espaço". "Não nos parece credível que uma organização de tal prestígio tenha trabalhado com base em boatos provenientes de um relatório de terceiros, em vez de ir ao território", acrescentou.
As organizações conservacionistas representadas no Conselho do Parque de Doñana também já comentaram a decisão. O coordenador do Gabinete Técnico do WWF para Doñana, Juanjo Carmona, disse à EFE que a exclusão é "um sinal do mau rumo que este espaço natural está a tomar devido às políticas de Juanma Moreno e da Junta da Andaluzia".
"Doñana voltou à estaca zero porque não passou na avaliação do grupo de especialistas. Isto porque o presidente da Junta da Andaluzia, Juanma Moreno, "está mais preocupado com a amnistia aos irrigadores ilegais que esgotaram o aquífero de Doñana do que com a conservação de um espaço natural único no mundo. Não bastam meras declarações, não bastam palavras de ordem, a direcção deveria ter cumprido os seus deveres e não cumpriu", frisou.
A SEO/BirdLife, que considera a exclusão "correta", espera que esta medida gere "uma reação de emergência por parte das administrações envolvidas, que seja algo temporário e que sirva para dar passos firmes no sentido da recuperação da zona húmida, de forma a regressar novamente a esta lista dos espaços naturais mais valiosos do planeta."
Recorde-se que, no passado mês de julho, foi tornado público um relatório elaborado por dez especialistas desta organização internacional que indicou que o parque andaluz só havia passado em 17 dos 50 indicadores necessários para constar da Lista Verde, o primeiro padrão global de boas práticas de gestão para áreas protegidas.
A UICN sustenta que apesar da agora exclusão da Lista Verde, Doñana continua a ser candidata à inclusão, no futuro, neste grupo de 61 áreas protegidas no mundo que cumprem critérios de conservação para garantir que a vida selvagem e os ecossistemas possam sobreviver, prosperar e trazer valor às comunidades.