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O futuro das indústrias marítimas vai estar no centro da discussão da 10ª Cimeira Mundial dos Oceanos, que este ano se realiza em Lisboa, entre os dias 27 de fevereiro e 1 de março, onde serão discutidos temas como as finanças azuis, ciência e dados oceanográficos, plásticos, shippping, aquacultura, energia e turismo. "O mar pode ser no século XXI uma carta fundamental da humanidade para a descarbonização e é um pouco nesse sentido que eu acho que os próprios setores económicos estão a começar a alinhar", disse ao Negócios Tiago Pitta e Cunha, administrador executivo da Fundação Oceano Azul.
A agenda centra-se na forma como as indústrias baseadas nos oceanos podem minimizar o seu impacto, bem como nas soluções baseadas na natureza para restaurar os oceanos.
Tendo em conta que o transporte marítimo é responsável por 5-7% das emissões mundiais de gases de efeito de estufa (GEE) e que 90% do comercio internacional é feito por mar, para o responsável da Fundação Oceano Azul, "os transportes marítimos são uma grande parte do problema", que deve ser solucionado para se atingir os objetivos de proteção do planeta.
A cimeira, organizada pela revista The Economist Impact, traz à capital mais de 180 oradores e 1500 participantes de indústrias oceânicas, de dezenas de países, para abordar o progresso dos maiores desafios que o oceano enfrenta, nomeadamente as alterações climáticas, perda de biodiversidade e poluição.
As discussões políticas de alto nível, na também chamada World Ocean Summit, vão estar no centro das sessões plenárias. "O grande desafio é conseguir fazer negócios no mar que sejam compatíveis com o Pacto Ecológico Europeu e com o Acordo de Paris, portanto, com toda esta transição para uma economia verde", sublinha Pitta e Cunha.
A cimeira vai contar com intervenções de nomes como Peter Thomson, enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para os Oceanos, Amina Mohammed, presidente do Grupo de Desenvolvimento Sustentável da ONU e Angela Paolini Ellard, diretora-geral adjunta da Organização Mundial do Comércio.
Simultaneamente, em Nova Iorque, está a decorrer a reunião intergovernamental para discutir a criação do Tratado da ONU sobre Biodiversidade Marinha de Áreas Fora da Jurisdição Nacional (BBNJ, sigla em inglês), um documento que há anos está em discussão. Porém, Pitta e Cunha não tem "grandes esperanças" num acordo "com as condições necessárias para salvar o alto mar". Desde logo, porque "é necessário toda uma governação que não está prevista no tratado para permitir que se tomem depois as medidas. Os oceanos não têm sequer um painel intergovernamental como tem as alterações climáticas. Se não existe um painel de cientistas para os oceanos, como é que vamos decidir em que zonas do alto mar criar áreas marinhas protegidas. Estas decisões têm de ser tomadas com base na ciência".
Uma das versões do BBNJ que pode sair vencedora desta reunião em Nova Iorque é o alto mar vir a ser partilhado e governado por organizações regionais de pesca, o que, para Tiago Pitta e Cunha, "é um absurdo no sentido em que estas organizações foram criadas para gerir pescarias no alto mar, portanto, não têm a capacidade científica de compreender e reconhecer quais são as regiões do alto mar que têm de ser protegidas".