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Falta de investimentos climáticos nos mercados emergentes coloca setor financeiro “numa encruzilhada”

Mais de um quarto dos bancos das economias em desenvolvimento não oferece nenhum financiamento climático. Banco Mundial pede ação coletiva e mais investimento privado.

30 de Agosto de 2024 às 11:40
A situação de seca em Espanha é a mais grave desde que há registos.
Albert Gea/Reuters
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Os empréstimos para investimentos relacionados com o clima representam menos de 5% das carteiras gerais dos bancos nos mercados emergentes e economias em desenvolvimento (EMDE, na sigla em inglês) e mais de um quarto não oferece nenhum financiamento climático, de acordo com um novo relatório do Banco Mundial. 

A situação, segundo o Banco Mundial, coloca o setor financeiro "numa encruzilhada", uma vez que nas economias em desenvolvimento os bancos dominam o setor financeiro, ao contrário do que acontece nas economias avançadas, onde este é mais diversificado.

Prevê-se que as alterações climáticas tenham um impacto significativo nas oportunidades económicas e nos resultados do desenvolvimento nos EMDE, exigindo um investimento muito superior ao que recebem atualmente, assinala o Banco Mundial.

"Os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento enfrentam défices de financiamento substanciais em investimentos com baixas emissões de carbono e resilientes às alterações climáticas. Temos de intensificar a ação climática e atrair o investimento privado para os países mais necessitados", afirma Axel van Trotsenburg, diretor-geral sénior de Política de Desenvolvimento e Parcerias do Banco Mundial. "Isto exige uma ação coletiva e o setor bancário é indispensável neste processo de transição. Pode desempenhar um papel fundamental no financiamento de uma via de desenvolvimento verde, hipocarbónico e sustentável", acrescenta.

A nível mundial, as autoridades bancárias estão a testar novas abordagens para apoiar o financiamento do clima, sem comprometer os objetivos da estabilidade do setor financeiro. Por exemplo, a adoção de taxonomias ecológicas e sustentáveis - um sistema de classificação que identifica atividades e investimentos destinados a levar os países a atingir objetivos ambientais específicos e outros – é visto pelo Banco Mundial como essencial para aumentar os empréstimos relacionados com o clima. Atualmente, estas abrangem apenas 10% dos EMDE, em comparação com 76% das economias avançadas.

"A adaptação é subfinanciada - apenas 16% do financiamento nacional e internacional da luta contra as alterações climáticas nas economias de mercado emergentes e em desenvolvimento é canalizado para a adaptação. Desta pequena parte, 98% são recursos públicos ou financiamento oficial", afirma Pablo Saavedra, vice-presidente do Banco Mundial para a Prosperidade, em comunicado.

"Para além de um maior volume de empréstimos bancários destinados à luta contra as alterações climáticas, a redução desta lacuna exige mercados de capitais e de seguros mais amplos nas economias em desenvolvimento, a fim de proporcionar um financiamento essencial a longo prazo para infraestruturas críticas resistentes às alterações climáticas. É também importante melhorar o acesso financeiro das pessoas, em especial dos grupos vulneráveis", acrescenta Saavedra.

O relatório Finanças e Prosperidade 2024 é a edição inaugural de uma série anual que examina a evolução e as vulnerabilidades do setor financeiro nas economias em desenvolvimento.

Com base nos novos dados, o relatório destaca uma divergência na resiliência e estabilidade dos setores financeiros. Uma análise a 50 países, que representam 93% do total dos ativos bancários nos EMDE, revelou que 30% destes países enfrentam riscos elevados para o setor financeiro nos próximos 12 meses. A maioria não dispõe de um quadro político adequado nem de capacidade institucional para fazer face aos desafios da estabilidade financeira.

O relatório também chama a atenção para a detenção excessiva de dívida pública pelos bancos nacionais, "um calcanhar de Aquiles para algumas economias", particularmente aquelas com políticas macroeconómicas mais fracas, que enfrentam desafios de sustentabilidade da dívida pública. Entre 2012 e 2023, a exposição dos bancos à dívida pública registou um aumento de mais de 35%.

O relatório recomenda que os países reforcem os amortecedores bancários com bastante antecedência, operacionalizem as redes de segurança financeira, realizem testes de stress e ponham em prática uma série de ferramentas essenciais. Estes incluem fortes mecanismos de gestão de crises entre agências, assistência de liquidez de emergência totalmente operacional, quadros robustos de resolução de crises bancárias e sistemas de seguro de depósitos adequadamente financiados para reduzir a probabilidade de tensões financeiras e de repercussões na economia em geral.

 

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