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Descoberta de produção de oxigénio em mar profundo pode impactar a sua exploração mineira

Descoberta inovadora associada aos nódulos polimetálicos encontrados no fundo do mar desafia o que se sabe sobre a forma como o oxigénio chega às profundezas do oceano e como é produzido.

23 de Julho de 2024 às 10:46
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Cientistas descobriram que é produzido oxigénio no mar profundo através de um processo associado a nódulos polimetálicos e na ausência total de luz solar. Esta descoberta verificada no Oceano Pacífico desafia o que se sabe sobre a forma como o oxigénio chega às profundezas do oceano e como é produzido. Pode também ter implicações importantes na exploração mineira em águas profundas que está atualmente em análise. 

Até agora, pensava-se que o oceano profundo era oxigenado pelo sistema global de correntes oceânicas, semelhante a uma correia transportadora, que transporta águas ricas em oxigénio da superfície para o mar profundo. Os resultados do novo estudo publicado na última edição da revista Nature Geoscience desafiam esta noção, documentando a produção de oxigénio no fundo do mar. A descoberta foi feita durante experiências realizadas na área da licença NORI-D da Zona Clarion-Clipperton (CCZ), a primeira área-alvo para a exploração mineira em mar profundo, a mais de 4.000 metros abaixo da superfície. 

Enquanto estudavam a atividade biológica em torno dos nódulos polimetálicos na área da licença NORI-D, os cientistas fizeram a descoberta de que, em vez de os níveis de oxigénio diminuírem ao longo do tempo, em alguns locais triplicaram em apenas dois dias. Investigações posteriores descobriram que estes nódulos polimetálicos podem ser capazes de produzir tensão suficiente para dividir as moléculas de água em hidrogénio e oxigénio, um processo conhecido como eletrólise da água do mar. Este fenómeno, nunca antes observado no oceano profundo, parece ser exclusivo destes nódulos do mar profundo.

"A descoberta de que um processo associado aos nódulos polimetálicos está a produzir oxigénio, numa área visada pela indústria mineira de águas profundas, dá mais apoio à necessidade urgente de uma moratória. Esta investigação realça o muito que ainda temos para descobrir e aprender sobre o mar profundo e levanta mais questões sobre o impacto que a extração mineira pode ter na vida e nos processos do mar profundo", refere Sofia Tsenikli, líder da campanha global da Deep Sea Conservation Coalition (DSCC) sobre mineração em águas profundas.

Recorde-se que se está na iminência de se começar a explorar o mar profundo para extrair minerais para satisfazer a procura das transições enérgicas e digital. Sendo que vários países, incluindo Portugal, defendem uma moratória para se poder conhecer melhor o eventual impacto desta prática. Manifestando-se contra esta atividade, "é arrogância humana continuar a insistir na exploração mineira destes nódulos que estão a produzir oxigénio potencialmente vital num ecossistema extraordinariamente importante e único", acrescenta Sofia Tsenikli.

Atualmente desconhece-se de que forma a remoção ou o abafamento destes nódulos devido às operações de extração mineira em águas profundas e às plumas de sedimentos associadas poderão influenciar a produção de oxigénio no fundo do mar e quais poderão ser os impactos na vida e nos processos do mar profundo, incluindo o ciclo do carbono.

Para Lisa Levin, do Scripps Institution of Oceanography, "este é um excelente exemplo do que significa ter o oceano profundo como uma fronteira, uma parte relativamente inexplorada do nosso planeta. Há ainda novos processos a descobrir que desafiam o que sabemos sobre a vida no nosso oceano. A produção de oxigénio no fundo do mar pelos nódulos polimetálicos é uma nova função do ecossistema que tem de ser considerada ao avaliar o impacto da exploração mineira em águas profundas. Estes resultados sublinham a importância de promover a investigação científica independente sobre o mar profundo em todo o oceano global, a fim de informar a política relativa ao oceano profundo".

As descobertas podem também ter implicações mais vastas na compreensão de como e onde a vida na Terra começou, e se este processo pode estar a ocorrer noutros planetas. "O facto de o oxigénio poder ser produzido independentemente do mundo da superfície tem implicações muito interessantes para a distribuição da vida animal, não só nos oceanos, mas também, potencialmente, para além do nosso planeta", afirma Jeff Marlow, coautor do estudo.

O oxigénio fornece energia suficiente para a sobrevivência de organismos grandes como os animais, pelo que um processo que produza oxigénio sem luz solar poderia permitir que formas de vida maiores habitassem as águas profundas e escuras de mundos oceânicos. "Normalmente, centrámos a procura de vida para além da Terra em micróbios que utilizam produtos químicos reduzidos para obter energia - essa ainda pode ser a melhor abordagem, mas este resultado mostra que pode ser sensato alargar a nossa perspetiva", acrescenta o investigador.

 

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