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O município de Cascais vai proceder nesta sexta-feira à largada de veados no Parque Nacional Sintra-Cascais (PNS-C), como parte de um plano alargado de reordenamento da paisagem natural do concelho. O plano conta com várias medidas, entre as quais a construção de uma paisagem mosaico com vista a tornar a paisagem mais resiliente e adaptada aos efeitos das alterações climáticas e resistente aos incêndios.
Esta gestão da área natural de Cascais está a ser construída em conjunto com os proprietários locais e com o cofinanciamento do programa europeu Life, que vai permitir investir no terreno cerca de três milhões de euros ao longo seis anos.
Desde 2022 que Cascais tem procurado promover a reintrodução de grandes animais herbívoros, que em tempos já fizeram parte da paisagem. As vacas maronesas e os cavalos garranos são duas espécies recém introduzidas neste território, para atuar na gestão da paisagem orientada para o combate às alterações climáticas, através da manutenção de pastagens. "Não se trata de eliminar por completo os matos, mas sim criar diversidade. Por parcelas, num sistema de rotação, estes animais vão fazendo o seu papel naturalmente criando oportunidades para o controlo do fogo", explica e edilidade em comunidade.
Este ordenamento "já deu frutos", na medida em que um fogo ocorrido em julho de 2023 no PNS-C progrediu lentamente e permitiu, a par da geolocalização dos animais, retirar os cavalos Sorraia do cercado em boas condições.
O conceito de renaturalização (rewilding, no termo utilizado em inglês) tem vindo a ganhar popularidade, como forma de conservação da natureza e gestão da paisagem. Esta técnica é eficaz na recuperação das dinâmicas naturais do ecossistema, garantindo melhores resultados na biodiversidade ao longo prazo, como a promoção de habitats.
Exemplo disso é o trabalho que Cascais tem estado a fazer na encosta da Peninha, onde cavalos garranos e vacas maronesas foram libertadas para trabalhar em conjunto. Estes animais vivem em regime livre e percorrem as paisagens em manada.
"O seu contributo traduz-se na fertilidade dos solos, na redução da carga de biomassa e na criação de condições para que outras espécies de fauna e flora selvagem possam também ali reaparecer e prosperar, como é o caso do lírio e da orquídea, e também do coelho e da perdiz. Estes animais não se reduzem a ser só consumidores de bem-material vegetal. Eles por si só têm uma grande vantagem porque acrescentam valor. Transportam sementes de um lado para o outro e matéria orgânica nas suas fezes, que são enriquecedoras por terem a capacidade acumular 1,5 tonelada de matéria orgânica no solo, outra vez, e assim recuperar o ciclo natural", explica a autarquia de Cascais.
Com o fim da atividade agrícola na região, houve uma "alteração significativa" do uso do solo, que explica a relação direta com o aumento da floresta e zonas de matos. Por essa razão, para a edilidade, "é importante ganhar experiência em práticas como esta, mais sustentáveis, e que estão, de forma natural, mais adaptadas ao impacto das alterações climáticas".