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O desenvolvimento acelerado da economia digital pode representar "um fracasso" para o ambiente, alerta a Organização das Nações Unidas (ONU), tendo em conta o Relatório da Economia Digital 2024, elaborado pela agência comercial da ONU (UNCTAD, na sigla em inglês).
Os dados indicam que o consumo de energia da mineração de criptomoedas aumentou 34 vezes entre 2015 e 2020, atingindo cerca de 121 terawatts-hora, mais do que a quantidade consumida pela maioria dos pequenos países. O relatório salienta também que para produzir um computador de 2 kg são necessários 800 kg de matérias-primas e que um smartphone, desde a produção até à eliminação, requer cerca de 70 quilogramas.
"O crescimento de tecnologias como a inteligência artificial e a mineração de criptomoedas aumentou significativamente o consumo de energia", afirma Rebeca Grynspan, diretora da UNCTAD, sublinhando que "o consumo de energia da mineração de criptomoedas é mais do que a Bélgica ou a Finlândia consomem por ano".
Perante estes dados, a UNCTAD insiste que o impacto ambiental negativo deste setor próspero deve ser "levado mais a sério" e abrandado pelo investimento em energias renováveis.
Os dados mostram que a economia digital está a crescer. As vendas anuais de smartphones mais do que duplicaram desde 2010, atingindo 1,2 mil milhões em 2023. Prevê-se que os dispositivos da Internet das coisas (IoT) aumentem 2,5 vezes desde 2023, atingindo 39 mil milhões em 2029. Novos dados de 43 países, que representam cerca de três quartos do PIB global, mostram que as vendas de comércio eletrónico empresarial cresceram quase 60% de 2016 a 2022, atingindo 27 biliões de dólares.
Embora a fase de produção seja a mais impactante - gerando cerca de 80% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) dos smartphones - os danos ambientais ocorrem ao longo de todo o ciclo de vida dos dispositivos e da infraestrutura das TIC, incluindo através do comércio eletrónico.
Os resíduos digitais estão a crescer mais rapidamente do que as taxas de recolha. Os resíduos de ecrãs e de pequenos equipamentos informáticos aumentaram 30% entre 2010 e 2022, atingindo 10,5 milhões de toneladas. A eliminação incorreta conduz à poluição e a outros riscos para a saúde e o ambiente, salienta a UNCTAD.
A procura crescente de transmissão, processamento e armazenamento de dados para novas tecnologias como a cadeia de blocos, a inteligência artificial (IA), as redes móveis de quinta geração (5G) e a IdC está a aumentar as emissões. Por exemplo, estima-se que o sector das TIC tenha emitido entre 0,69 e 1,6 gigatoneladas de equivalente CO2 em 2020, o que corresponde a 1,5 % a 3,2 % das emissões mundiais de gases com efeito de estufa.
"Falamos muito sobre a forma como as tecnologias digitais podem reduzir a utilização de papel e melhorar a eficiência energética e podem ajudar a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa nos setores dos transportes e da construção, da agricultura e da energia, mas não se fala tanto do lado negativo", afirma Rebeca Grynspan, insistindo que a digitalização é "altamente materialista" para além de exigir grandes quantidades de eletricidade rica em carbono.
A UNCTAD observa que a resolução destas questões exige reformas políticas, inovações tecnológicas e a ação de todas as partes interessadas - decisores políticos, empresas e consumidores - para tornar os modelos de negócio mais circulares, a logística mais eficiente do ponto de vista energético, as embalagens mais sustentáveis e o consumo mais responsável.
O Relatório Economia Digital 2024 apresenta sugestões de políticas que abrangem os minerais preciosos utilizados para fabricar dispositivos eletrónicos. Destaca também que a abordagem das pegadas energética e hídrica da digitalização exige esforços coordenados das empresas tecnológicas e dos decisores políticos para melhorar a eficiência energética e reduzir a utilização de água.
O relatório conclui também que os países desenvolvidos geram 3,25 kg de resíduos digitais por pessoa, em comparação com menos de 1 kg nos países em desenvolvimento e apenas 0,21 kg nos países menos desenvolvidos, o que serve como mais um indicador da distribuição desigual dos benefícios que a digitalização traz.