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2€ em 100 km? Portugueses de olho nos carros elétricos

O termo está no top das pesquisas de sustentabilidade, o país lidera nas intenções de compra na Europa e as vendas de carros elétricos estão a bater recordes. O cenário está montado para a transição na mobilidade. O que falta para mais portugueses darem o passo? Dinamização do mercado de usados e expansão dos postos de carregamento.

18 de Maio de 2022 às 12:30
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Não há dúvidas de que os portugueses estão cada vez mais interessados em carros elétricos. A prova começa logo nas pesquisas que fazem no Google. O motor de pesquisa divulgou recentemente que, no campo da sustentabilidade, o termo "carro elétrico" foi o terceiro mais pesquisado pelos portugueses entre janeiro e fevereiro deste ano, logo a seguir aos termos "veganismo" e "energia solar". Já um estudo divulgado pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) no passado mês de fevereiro situa os portugueses em segundo lugar, numa Europa a 27, com mais de 80% a admitirem que vão optar por veículo elétrico ou híbrido na hora de comprar um carro novo. Neste inquérito, a média europeia desta intenção está nos 67%.

134%Vendas
O primeiro trimestre de 2022 teve um aumento de 134,26% no número de matrículas de elétricos de novos de passageiros.
Passemos agora das intenções à prática. No primeiro trimestre de 2022, dados fornecidos pela ACAP - Associação Automóvel de Portugal indicam que houve um aumento de 134,26% no número de matrículas de veículos ligeiros de passageiros elétricos novos (BEV) em comparação com o período homólogo. Tal representou 10,6% das vendas de BEV nos primeiros três meses do ano. De salientar, no entanto, que os veículos a gasolina continuam a liderar as preferências, com 39% das aquisições neste trimestre. Do bolo, 19% são veículos a gasóleo, sendo que esta opção caiu (-17%) em relação ao ano passado. Em comparação com o primeiro trimestre de 2021, os híbridos HEV (híbrido elétrico) e PHEV (híbrido plug-in) registaram aumentos acima dos 30%.

Perante todo este cenário, Teresa Ponce de Leão, presidente do conselho de administração da Associação Portuguesa do Veículo Eléctrico (APVE), considera que "o mercado automóvel está a responder positivamente aos veículos elétricos", acrescentando que "a estimativa é atingirmos 20% de vendas de elétricos nos próximos três anos".

A razão para o crescente interesse nos motores elétricos? São várias. Para além da contribuição para um mundo menos poluente, que leva muitos condutores a darem este passo, existe uma justificação bem prática. Por cada 100 km percorridos, um carro elétrico gasta 2€ se carregado em casa durante a tarifa bi-horária, enquanto, pela mesma distância, um carro movido a gasolina gasta 11,38€ e se for movido a gasóleo gasta 7,98€. Estas são as contas mais recentes disponibilizadas pela UVE - Associação de Utilizadores de Veículos Eléctricos e foram feitas já tendo em conta a volatilidade dos preços dos combustíveis e da eletricidade que estamos a viver atualmente (ver infografia). Além do maior custo por 100 km, a instabilidade atual do mercado dos combustíveis também deixa nervoso qualquer um que dependa da mobilidade automóvel no dia a dia.

Outra razão a favor dos 100% elétricos é o incentivo estatal à aquisição. Este "insere-se no trajeto de descarbonização da mobilidade, componente fundamental do combate às alterações climáticas e um contributo essencial para o compromisso assumido por Portugal de atingir a neutralidade carbónica até 2050", referiu o gabinete de imprensa do Ministério do Ambiente e da Ação Climática (MAAC) ao Negócios. Em 2022, o apoio à aquisição é de 4.000€ para ligeiros de passageiros novos e de 6.000€ para veículos comerciais novos. De salientar que este ano também está disponível um incentivo para carregadores em condomínios multifamiliares com ligação à Rede Mobi.E. O incentivo é de 80% do valor de aquisição do carregador, até ao máximo de 800€, ao qual pode acrescer 80% do valor da instalação elétrica associada ao carregador adquirido, até um máximo de 1.000€. De assinalar que o Fundo Ambiental também apoia a aquisição de bicicletas, motociclos e outros dispositivos de mobilidade pessoal elétricos.

E o mercado de usados?

Muitos particulares e empresas não têm capacidade financeira para adquirir um veículo elétrico novo, mesmo que o desejem fazer, não podendo desta forma usufruir do apoio estatal. Sobre esta questão, o Ministério do Ambiente explica que "só são admitidos veículos novos por ser objetivo deste apoio o incremento do número de veículos elétricos no conjunto da frota total de veículos em Portugal". "De facto, nesta fase não se atribuem apoios a veículos usados, uma vez que tal significaria apenas uma troca de propriedade e não um aumento do número de veículos elétricos na frota nacional. O número de veículos elétricos em circulação em Portugal continua a ser uma parte diminuta face à frota de veículos com motores a combustão, pelo que o Governo continua a incentivar a descarbonização da frota automóvel através dos apoios do Fundo Ambiental, bem como de benefícios fiscais e outros apoios aos veículos de emissões nulas, incluindo o apoio à aquisição e instalação de carregadores em condomínios."

As duas associações contactadas olham para esta questão com expectativa. "A existência de um incentivo à aquisição de veículos 100% elétricos usados permitiria a um leque mais alargado de potenciais interessados na adoção de um veículo elétrico com um custo inferior. Permitiria acelerar ainda mais a transição para a eletrificação de transportes rodoviários ligeiros", refere Henrique Sanchez, presidente do Conselho Diretivo da UVE. No entanto, destaca, isso "levanta alguns problemas regulatórios que teriam de ser acautelados, pois esse veículo poderia já ter recebido um incentivo aquando da sua venda em novo". "Teria de obedecer a regras que impeçam a duplicação de incentivos para uma mesma viatura, pois o que se pretende é a introdução no parque automóvel de mais viaturas."

Já para Teresa Ponce de Leão, da APVE, a razão para não existir apoio a usados prende-se com o facto de "o mercado de usados ser emergente e incipiente e ainda não existir enquadramento legal para o efeito", mas acrescenta: "Estamos a prestar atenção a esta questão e muito em breve teremos uma proposta que divulgaremos". Segundo o último Relatório do Estado do Ambiente, a frota elétrica de veículos ligeiros de passageiros não ultrapassava os 3% em 2021, apesar de se registarem aumentos crescentes.

15 mil postos de carregamento em 2025

2.444Postos
A rede de acesso público disponibiliza 2.444 postos e 4.507 pontos de carregamento, segundo a Mobi.E.
A frota elétrica só se desenvolverá com a disseminação da rede de carregamentos pelo país. Atualmente, a rede de acesso público disponibiliza 2.444 postos e 4.507 pontos de carregamento, segundo a Mobi.E, a entidade gestora da rede de abastecimento de mobilidade elétrica nacional.

Para Teresa Ponce de Leão, "é necessário que existam mais pontos de abastecimento embora não consideremos que esta falta seja um entrave à aquisição de veículos. Cabe a cada autarquia gerir os seus estacionamentos públicos e ponderar reservar espaço aos veículos ecológicos. Para além do espaço público, é importante facilitar a instalação de carregadores em espaços privados, principalmente nas habitações ou nos locais de trabalho".

Também a UVE vê como essencial a expansão dos postos existentes no país. Henrique Sanchez salienta que "neste momento, a rede pública de carregamento registou picos de utilização em simultâneo que não ultrapassam os 30%, embora nas grandes áreas metropolitanas e nos principais eixos rodoviários urge o aumento da capacidade instalada".

Ao Negócios, Luís Barroso, presidente da Mobi.E, adiantou que a entidade gestora "se encontra agora a finalizar mais dois projetos-piloto, integrados no Programa de Estabilização Económica e Social aprovado pelo Governo, que visa a criação de 10 hubs de carregamento e 12 postos de carregamento ultrarrápido envolvendo um total de 22 cidades, 102 postos de carregamento, dos quais 52 são rápidos ou ultrarrápidos (potência igual ou superior a 50 kw) e os restantes são semirrápidos (potência de 22 Kw)".

Tal como aconteceu no ano passado, o crescimento da infraestrutura de carregamento irá ser realizada através de investimento público municipal e investimento privado, em função das políticas de mobilidade de cada município ou dos planos de investimento dos operadores de pontos de carregamento, "com o objetivo de se atingirem os 15 mil postos no final de 2025", destaca Luís Barroso. E na medida em que o país apresenta características muito díspares no que toca à atração de investimento, o presidente da Mobi.E garante que a entidade "poderá pontualmente vir a intervir preferencialmente em zonas pouco atrativas para o investimento municipal e para o investimento privado ou de forma a garantir que se cumpra o objetivo fixado para o final de 2025".



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