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Rui Neves - Jornalista ruineves@negocios.pt 20 de Novembro de 2013 às 00:01

Não se pode estar direito quando se tem a espinha torta

Portugal é um avião com quatro motores (consumo público, consumo privado, investimento e exportações) em que três estão engasgados e apenas um funciona, o das vendas de bens e serviços ao exterior. Distinto cumpridor da cartilha da troika, e sem conseguir atenuar os efeitos da austeridade, o Governo agarrou-se ao único reactor capaz de manter o País a uma altitude suficiente para não se despenhar.

Foi preciso batermos no fundo para se descobrir a suprema importância das exportações, da prioridade em produzir/vender mais lá fora do que incentivar o que se consome cá dentro, de quanto é fundamental tornar eficiente o sistema de transportes e de logística do território nacional. O Governo passa agora a vida a dar loas aos exportadores, elevando até a reindustrialização a desígnio nacional.

Enquanto no Terreiro do Paço se brincava aos aviões e aos contentores, o Norte e o Centro foram dando ao pedal. É aqui que mora o motor das exportações nacionais (56,1% do total) e onde se gera excedentes da balança comercial de bens – no ano passado, o superavit das duas regiões foi de quase sete mil milhões de euros, valor que se traduziu numa taxa de cobertura das importações pelas exportações de 137%. Já as restantes regiões tiveram um défice de quase 18 mil milhões de euros, equivalente a 47% do valor das importações. E é o Norte e o Centro que concentram 72% das empresas industriais do País.

Apesar de serem as regiões que apresentam maior orientação exportadora, sendo a partir daqui que deverá ser feita a reindustrialização da economia portuguesa – não se vai fazer em zonas onde não há indústria, certo? -, o PIB "per capita" do Norte e do Centro corresponde apenas a 82,3% da média nacional. São as tais malditas assimetrias, neste caso de rendimento!

E é com este pano de fundo que o Governo, ao criar um grupo de trabalho para desenhar o plano de infra-estruturas do País para o próximo ciclo de fundos comunitários, voltou a fazer borrada. Como é que é possível ter deixado de fora as CCDR, entidades centrais na elaboração de estratégias integradas de desenvolvimento regional, e as associações empresariais de base regional?

Furiosas com a decisão governamental, as CCDR do Norte e do Centro decidiram então, em parceria com a AEP e o CEC, apresentar o seu plano de intervenções prioritárias em infra-estruturas para reforçar o caudal exportador das duas regiões. Convocaram uma conferência de imprensa para o efeito.

Porém, à última hora, o líder da CCDR Norte cancelou o evento. Bastou um telefonema de um governante para calar todo este ímpeto regional. Dos quatro parceiros, o presidente da AEP foi o único que manifestou o seu desagrado pelo sucedido. Já o seu homólogo do CEC, que não convenceu ninguém com explicações abaixo de medíocres, anuiu em assumir o papel de culpado pelo cancelamento da sessão. É este o tipo de líderes que o Norte e o Centro têm. Infelizmente. Em "Portugal, Portugal", Jorge Palma canta que "Não se pode estar direito quando se tem a espinha torta..."

*Coordenador do Negócios Porto

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