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Rui Neves - Jornalista ruineves@negocios.pt 10 de Abril de 2013 às 00:01

É meu e vosso este fado?

A primeira edição portuguesa do inenarrável "reality show" Big Brother, que passou na TVI em 2000, teve três grandes figuras: Zé Maria, um tímido e desconcertante rapaz de Barrancos, que acabou por ganhar a coisa; Marco, que ficou conhecido por ter dado um pontapé numa colega do programa, gesto que lhe valeu a abertura do principal jornal da estação; e uma criatura do público que aparecia nos dias de expulsão de concorrentes a gritar: "Só me apetece é ganir!"

Olhemos à nossa volta. Para mal dos nossos pecados, os portugueses encaixam-se, mais ou menos, nesta paleta de personagens. Há os que, sem razões para fazer alarido, vão escapando por entre o granizo da crise económica; outros preferem partir para a luta – em casa, na rua, na empresa, em todo o lado, ameaçando "partir tudo" e até fazer "um novo 25 de Abril"; e, depois, temos uma imensa maioria que, sem saber o que fazer para mudar a situação, limita-se a lamentar o seu destino, a lastimar a desgraça do povo.


Esta maioria (praticamente) silenciosa já perdeu a esperança, já em nada nem em ninguém confia, nem mesmo naqueles que vêm para a rua gritar em sua defesa. Sente-se perdida e angustiada. Há quem beba para esquecer, há quem se medique para não morrer. E todos parecem ganir (sim, porque há cada vez mais gente a gemer com a vida de cão que leva) ao som de uma guitarra:

É meu e vosso este fado

Destino que nos amarra

Por mais que seja negado

Às cordas de uma guitarra

Sempre que se ouve o gemido

De uma guitarra a cantar

Fica-se logo perdido

Com vontade de chorar

Ó gente da minha terra

Agora é que eu percebi

Esta tristeza que trago

Foi de vós que recebi

Que fazer? "Talvez f....", canta o Abrunhosa. Por que não? Dizê-lo e, sobretudo, fazê-lo liberta as abençoadas endorfinas, que nos relaxam e dão prazer. Ao menos isso. Ao som de Sérgio Godinho. Sinta isto:

Enfim duma escolha

faz-se um desafio

Enfrenta-se a vida de fio a pavio

Navega-se sem mar,

sem vela ou navio

Bebe-se a coragem

até dum copo vazio

E vem-nos à memória

uma frase batida

Hoje é o primeiro dia

do resto da tua vida



*Coordenador do Negócios Porto

Visto por dentro é um espaço de opinião de jornalistas do Negócios

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