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Rui Neves - Jornalista ruineves@negocios.pt 27 de Março de 2013 às 00:01

Ave César, os gregos agradecem

Pela quarta vez no último ano, Visto por Dentro uma tragédia chamada Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC). Porque estamos perante um dos mais graves crimes económico-sociais cometidos em Portugal.

Estivesse a empresa instalada em Lisboa, ou perto da capital, e há já muito tempo que o problema estaria sanado. Porque seria politicamente incomportável ao Terreiro do Paço conseguir conviver paredes meias com uns estaleiros onde dia após dia, nos últimos dois anos, há 625 trabalhadores do Estado que o único trabalho que fazem é esticarem o braço para picar o ponto.


Mas como os ENVC ficam longe da sede do Poder Central, a meio caminho da Galiza, o Governo – este e os que o precederam – nunca tentou enfrentar o touro de frente. O lançamento da reprivatização da empresa foi uma espécie de pega de cernelha, que ameaça acabar mal: o ministro Aguiar-Branco assumiu o papel de cernelheiro, mas esqueceu-se de convocar o respaldo da rabejadora Comissão Europeia. Resta saber se Bruxelas vai perdoar a ousadia e consentir que a pega seja definitivamente consumada.

A Empordef, "holding" estatal que detém os ENVC, decidiu entretanto entregar uma participação na Procuradoria-Geral da República (PGR) alegando dúvidas na argumentação utilizada pela Atlânticoline para rescindir o contrato do "ferry" Atlântida. Recorde-se que este é o famigerado barco que, devido a ter uma velocidade ligeiramente inferior à contratada, foi rejeitado pela cliente, com os ENVC a encaixarem um prejuízo, inicialmente superior a 40 milhões de euros, que já vai em 70 milhões de euros (incluindo o Anticiclone, navio ainda em blocos).

A Empordef demorou quase quatro anos para descobrir que, afinal, tem dúvidas sobre a rescisão deste contrato. Que miserável defesa dos interesses nacionais. Eu escrevi "nacionais"? Mas a Atlânticoline não é portuguesa? É. E não é uma empresa estatal açoriana? É. E então? Aí é que o touro torce o rabo: o Governo Regional dos Açores, que era até há pouco tempo liderado por Carlos César, mostrou-se sempre irredutível na sua decisão.

Mais: desde que rasgou o contrato com os ENVC, em 2009, a Atlânticoline já gastou 21 milhões de euros no fretamento de navios da grega Hellenic Seaways, que ganhou recentemente o concurso para prestar o mesmo serviço em 2013 e 2014, por mais nove milhões de euros. Os gregos agradecem, Portugal continental que se lixe!

*Coordenador do Negócios Porto

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