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Um abrigo Seguro

É daquelas coisas que todos gostamos de ouvir. Gostaríamos ainda mais de ver. Mas, infelizmente, será quase impossível. E, por isso, António José Seguro é autor de mais uma promessa, que dá um óptimo título, mas que tem um grau de dificuldade incalculável.

 

O líder do PS, numa visita à Associação Cais, assumiu o compromisso "de, no espaço de uma legislatura, criar as condições de modo que os portugueses que vivem na rua deixem de o fazer".

 

Não há quem se atravesse a dizer que esta é uma promessa que não gostaria de ver cumprida. Mas António José Seguro não a devia fazer, pela imprevisibilidade e pela dificuldade que encerra.

 

Como vai fazê-lo? Com que nível de desemprego se consegue uma acção destas? Com que nível de economia é possível prometer acabar com as pessoas na rua? Com que nível de austeridade?

 

Interrogações que ficam. Ficam, no entanto, escamoteadas por um título. Um título que soa bem. No meio da declarações, Seguro defendeu a articulação da Segurança Social com Misericórdias, associações e autarquias para criar respostas multifunções para resolver o problema dos sem-abrigo.

 

Porque é que esta articulação ainda não existe? Porque consideram os sem-abrigo que existem demasiadas regras e burocracia nos apoios? Que tipo de apoios são dados? Nem sempre o problema se resolve atirando-se com dinheiro para o meio. Nem sempre o problema se resolve com leis e regras.

 

Uma coisa é certa. Os sem-abrigo aumentaram. Aumentaram por culpa da crise. Aumentaram por culpa do desemprego. Do isolamento social. E de outros problemas. Será que tentamos perceber a razão destas pessoas estarem sem tecto?

 

Portugal tem, segundo os últimos números divulgados, mais de 4400 pessoas a viver nas ruas. Cada uma tem a sua razão. Razão que leva, em alguns casos, a ficar na rua há anos. No inquérito realizado pela Santa Casa em Lisboa, um sem-abrigo vive na rua há 40 anos. E há 23 pessoas que vivem sem tecto há mais de 20 anos. Terá Seguro pensado também nestas pessoas?

 

O problema é grave. Não se pode jogar às palavras com ele. Não se pode prometer o que não se pode cumprir.

 

Jornalista

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