Opinião
A "Macron-mania" e o Brexit com dor
A primeira volta das legislativas francesas não só confirmou como acentuou uma profunda transformação da paisagem política.
O partido República em Marcha de Macron arrasou com a direita e deixou o PS em cinzas. Com um senão: uma abstenção recorde a que a oposição já se agarra para travar a hegemonia do novo delfim de França.
A abstenção. Nicolas Beytout põe, no L'Opinion, água fria no êxtase. "Nem os seus 24% da primeira volta da eleição presidencial, nem os 50% de abstenção deste domingo dão a ilusão de uma França convertida à 'Macron-mania'. O chefe do Estado poderá naturalmente estar satisfeito: em breve terá mão livre para agir e reformar o país. Mas atenção ao que quiseram dizer com o seu gesto todos os eleitores que preferiram ir à pesca em vez de defenderem as suas ideias: a renovação política está longe de estar conseguida."
Paul-Henri du Limbert deixa o aviso: "A Frente Nacional prosperou com os fracassos da direita e da esquerda. Se, reunindo uma e a outra, Emmanuel Macron também falhar, é fácil adivinhar quais as forças que então se meterão em marcha..."
A retumbante vitória de Macron nas legislativas é vista como um novo sopro de esperança na União Europeia. O francês consegue a maioria com que Theresa May sonhou. Gideon Rachman faz, no Financial Times, a leitura cruzada: "Macron precisa de mostrar aos eleitores franceses que deixar a UE só traz dor. Se, ao mesmo tempo, for capaz de reconstruir a parceria franco-germânica no coração da UE, poderá ser capaz de recuperar a popularidade do projecto europeu em França." Mais uma vez, seria bom que não falhasse.
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