Opinião
O espirro chinês
O tempo esfriou subitamente no início do ano, no quente e expansionista clima empresarial e chinês. Aquilo que seria, há uns anos, um evento local é agora um sinal de alerta em vários mercados, entre eles o português.
As autoridades chinesas, ou seja, a complexa teia de poderes que, em última análise, culmina no Governo e no Partido Comunista Chinês, lançaram uma série de medidas destinadas a limitar a saída de capitais do país. O motivo oficial é a estabilidade do sistema financeiro chinês, devido ao receio de que vários grandes grupos locais estejam a crescer demasiado, demasiado depressa, e a um preço demasiado elevado, no exterior. Mas, fora da China, ninguém sabe realmente. Há razões de política interna na base das medidas? É o Estado a lembrar às empresas quem manda?
Depois de um 2016 que bateu todos os recordes, com fusões e aquisições transfronteiriças de mais de 222 mil milhões de dólares - muito acima do PIB português -, os negócios travaram a fundo em 2017. Nalguns casos por menor apetite dos grandes compradores, noutros porque algumas transacções simplesmente caíram, depois de grupos chineses não terem conseguido garantir a saída do dinheiro. A situação está de tal forma que, em vários negócios, o vendedor deixa sempre de reserva uma outra proposta não-chinesa, para o caso de a oferta mais elevada acabar por não se conseguir materializar.
As transacções não pararam totalmente. Basta ver a compra de 5% da Tesla pela Tencent e até o negócio desta semana, do investimento de 356 milhões de euros da JD.com na Farfetch. Mas, no caso português, a preocupação não é tanto com o travão a novos negócios. É se as investigações das autoridades podem, de alguma forma, colocar em causa os investimentos já feitos.
Do que se conhece, foram pedidos esclarecimentos sobre a Fosun (Fidelidade, BCP, Luz Saúde), a HNA (TAP), o Wanda Group, a Anbang (que esteve na corrida ao Novo Banco) e os compradores do AC Milan. As autoridades querem saber a exposição que os bancos do país têm a estas entidades e ver à lupa os créditos que lhes foram concedidos. A pergunta é simples: e se essa inspecção concluir que houve irregularidades ou até um simples risco excessivo? As soluções podem ir da mera obrigação de desalavancar até coisas mais esotéricas e para já especulativas, como a venda apressada de alguns activos. Nestas matérias, Pequim não prima pela previsibilidade.
Estamos no início do processo. Esperemos que o espirro chinês não seja sinal de uma gripe a caminho de Portugal.
Depois de um 2016 que bateu todos os recordes, com fusões e aquisições transfronteiriças de mais de 222 mil milhões de dólares - muito acima do PIB português -, os negócios travaram a fundo em 2017. Nalguns casos por menor apetite dos grandes compradores, noutros porque algumas transacções simplesmente caíram, depois de grupos chineses não terem conseguido garantir a saída do dinheiro. A situação está de tal forma que, em vários negócios, o vendedor deixa sempre de reserva uma outra proposta não-chinesa, para o caso de a oferta mais elevada acabar por não se conseguir materializar.
Do que se conhece, foram pedidos esclarecimentos sobre a Fosun (Fidelidade, BCP, Luz Saúde), a HNA (TAP), o Wanda Group, a Anbang (que esteve na corrida ao Novo Banco) e os compradores do AC Milan. As autoridades querem saber a exposição que os bancos do país têm a estas entidades e ver à lupa os créditos que lhes foram concedidos. A pergunta é simples: e se essa inspecção concluir que houve irregularidades ou até um simples risco excessivo? As soluções podem ir da mera obrigação de desalavancar até coisas mais esotéricas e para já especulativas, como a venda apressada de alguns activos. Nestas matérias, Pequim não prima pela previsibilidade.
Estamos no início do processo. Esperemos que o espirro chinês não seja sinal de uma gripe a caminho de Portugal.
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