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Temos presidente!

José Manuel Durão Barroso foi ontem em Estrasburgo confirmado como o próximo presidente da Comissão Europeia. É cedo para se saber se vai ser bom ou mau. Também não é isso que mais interessa. Neste momento, o que interessa é que um português chegou ao top

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Sim, eu sei. Esta a afirmação é de alto risco. Uns já estarão a dizer que sou «provinciano», outros a considerar-me um «ingénuo». Outros ainda, europeístas mais inflamados, porventura com insultos impossíveis de aqui serem reproduzidos.

Gostava, no entanto que todos tivessem tido a oportunidade de, nestes dias, acompanhar a imprensa espanhola. E a forma como, sem excepção, os meus companheiros de ofício foram «noticiando», não o desempenho de Barroso diante os eurodeputados, mas a eleição do presidente do Parlamento Europeu, que o precedeu.

Concorreram três candidatos. Mas, para a imprensa espanhola, não havia melhores e piores, não havia competentes ou azelhas. Havia um espanhol e dois alvos a abater. Ganhou o espanhol. Ninguém se pôs a debater as suas qualidades. Era espanhol, o lugar é importante, e isso é que interessa. Ponto final.

Em Portugal, não. Mesmo quando está em causa a eleição de um dos nossos para o mais elevado cargo do Executivo da União Europeia, o pessoal entretém-se a discutir o sexo dos anjos.

Se deveria ou não ter ido. Se fugiu por egoísmo ou por covardia. Se vai ser um presidente autónomo ou um refém dos países grandes. Se é o homem certo para o lugar. Ou se ele é o tal «mínimo denominador comum».

Isto é. Os portugueses não precisam de inimigos. Tratam de, sozinhos, desvalorizar os nossos produtos. Seja ele um candidato a presidente da Comissão Europeia. Seja um par de sapatos para exportação. Seja o que for.

Ao contrário, os espanhóis que se digladiam internamente, que mantêm e alimentam rivalidades regionais que transformam a nossa «guerra Porto - Lisboa» numa brincadeira de criança, unem-se perante desafios externos.

À excepção da Catalunha, todas as nações espanholas puxam para o mesmo lado, quando se trata de afirmar o país no plano internacional.

Em contrapartida, os artigos mais jocosos, os perfis mais depreciativos sobre Barroso escritos na imprensa internacional, basearam-se, não em relatos de adversários estrangeiros ou ideológicos, mas em testemunhos de patrícios.

É inútil fazer a análise psicossomática ou psicanalítica deste nosso comportamento colectivo. Ou contrapor às possíveis acusações de «provincianismo» outros insultos ou juízos de valor.

Bastam os resultados. A Espanha acaba de eleger o seu terceiro presidente do PE. Tem Solana como senhor PESC. Tem o influente comissário dos Assuntos Económicos. Um dos seis executivos do BCE é seu. O topo do FMI pertence-lhe.

Espanha tem uma influência internacional que a sua dimensão não justifica. O nosso país não é só pequeno. Tem é gente que se torna pequena quando Barroso, ou outro, consegue ser grande.

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