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30 de Abril de 2004 às 13:14

Sem margem de manobra

No âmbito da sua missão institucional, rigorosa e serena, o Banco de Portugal veio apagar a luz ao fundo do túnel que o Governo andava a propagandear. A retoma económica continuará adiada, a consolidação orçamental não está feita, não há margem para a int

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No âmbito da sua missão institucional, rigorosa e serena, o Banco de Portugal veio apagar a luz ao fundo do túnel que o Governo andava a propagandear.

A retoma económica continuará adiada, a consolidação orçamental não está feita, não há margem para a intervenção da política orçamental, não é altura para se pensar em redução de impostos, não é razoável falar-se de aumento de salários na função pública ou das pensões.

Pior, é necessário elaborar uma medida extraordinária para garantir a sustentabilidade da Segurança Social. A idade de reforma tem de ser aumentada.

Se bem se entende a linguagem do Boletim Económico de Março, elaborado pelo Banco de Portugal, não há ainda um indicador económico que permita ao país concluir que a retoma já tenha uma data marcada.

Os portugueses não podem olhar para esse dia futuro como farol da sua condução dos assuntos empresariais e das suas decisões financeiras familiares.

Mais precisamente, Portugal só pode começar a pensar no que deve fazer quando houver retoma, depois da retoma ter verdadeiramente chegado.

E ela chegará, com elevado grau de probabilidade, quando também chegar aos nossos principais parceiros comerciais e estes começarem a aumentar sustentadamente as encomendas ao nosso país.

Além disto, o Banco de Portugal concluiu que o défice orçamental de 2003, excluídas as medidas extraordinárias, atingiu os 5,3% do PIB e que a economia se contraiu 1,2%. Valores já anteriormente ventilados e que agora passam a ser números oficiais. Necessariamente desagradáveis.

É evidente que diante desta nova avaliação do Banco de Portugal não se pode esperar que o Governo, especialmente Durão Barroso, Manuela Ferreira Leite e Carlos Tavares, venha agora desfazer a campanha psicológica com que tem andado a tentar devolver a confiança aos portugueses.

Neste momento, tudo o que podemos esperar dos nossos governantes é um comportamento de avestruz. Manutenção do discurso que tem vindo a ser feito, a continuação do aumento das promessas de natureza eleitoral, uma crescente dificuldade para dominar a agenda política e para produzir sérias reformas estruturais.

O Governo acabou por cair na armadilha que ele próprio montou e agora parece impossível fazer marcha atrás. Mas atenção! Não é tempo de lavar roupa suja e de atirar culpas de um lado para o outro.

Agora é tempo de perceber que, apesar de tudo, o Governo não tem solução para o problema económico e orçamental do país. E é tempo de perceber que a crise económica só tem duas soluções. A tecnocrática e a política.

A tecnocrática, preferida pelas instituições de natureza financeira e económica, diz-nos que é necessário apertar mais o cinto, poupar mais, despedir, adiar a idade de reforma ... e esperar.

A alternativa de que os portugueses dispõem neste momento é a política. E neste sentido é necessário que Portugal seja especialmente criativo e suficientemente inovador.

Não basta mudar de governantes. É necessário transformar a forma de fazer política, precipitar a mudança no seio parlamentar, provocar entendimentos reformistas de impacto estrutural.

Jorge Sampaio já disse tudo sobre este assunto. A maioria parlamentar e o Governo têm condições para trilhar o novo caminho. Serão chumbados se não o fizerem.

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