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22 de Novembro de 2010 às 11:00

"As mentiras", segundo João Lagos

Na semana passada, o Negócios noticiou as dificuldades financeiras da João Lagos Sports. João Lagos convocou uma conferência de imprensa para desmentir a notícia e assinou um artigo de opinião em que, mais do que ao jornal, me pôs em causa a mim

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Na semana passada, o Negócios noticiou as dificuldades financeiras da João Lagos Sports, que levaram à contratação, pelo Grupo Espírito Santo, de um novo líder para a gestão da empresa. João Lagos convocou uma conferência de imprensa para desmentir a notícia e assinou um artigo de opinião em que, mais do que ao jornal, me pôs em causa a mim.

Primeiro: o artigo de opinião. É um texto impulsivo de quem dispara em legítima defesa. João Lagos está errado mas condescendo com as ofensas que me fez e, a isso, não lhe respondo publicamente: não se bate num homem quando ele está caído. Não desejava nem passei a desejar mal a João Lagos.

Segundo, a conferência de imprensa. Nela, João Lagos vitimizou-se mais do que esclareceu. Mas pôs em causa a seriedade e o trabalho de profissionais deste jornal. E, pela relação que existe entre o Negócios e os seus leitores – muito mais importantes do que João Lagos e do que eu próprio -, aqui fazemos a verificação, que confirma que o essencial da notícia está correcto.

1) BES não é o maior accionista da JLS
Este foi o erro do Negócios. Ao contrário do que escreveu, o BES não se tornou o maior accionista da JLS. Tem 19,5% do capital.

2) “Não estamos falidos”
João Lagos “desmentiu” várias coisas que não foram escritas no Negócios, incluindo esta. O que a notícia diz, e não foi nem podia ser desmentido, é que a empresa Hera Sistemas de Vedação e Segurança apresentou um pedido de insolvência da João Lagos Sports. Mas o Negócios até podia tê-lo questionado: a empresa tem capitais próprios negativos (o que também não foi nem podia ser desmentido) o que é formalmente uma situação de falência técnica.

3) Maior credor da JLS é uma entidade pública
“É totalmente falso que o BES seja o principal credor da João Lagos Sports”, disse João Lagos. É-o “uma entidade pública”. A João Lagos Sports tem um passivo de 13,1 milhões de euros (o que também não foi nem podia ser desmentido), mais do que todas as receitas de um ano. Daquele valor, cerca de sete milhões são a fornecedores, o que inclui um grande grupo de dívidas vencidas de dezenas de milhares de euros e um pequeno grupo de grandes credores além da banca, como uma “entidade pública” de comunicação social e uma empresa de catering, falhas de pagamento a organizações desportivas e a uma Federação nacional.

4) Quem contratou Pedro Rebelo Pinto?
João Lagos garante: “Fui eu que convidei Pedro Rebelo Pinto para assumir a gestão. Não foi o BES que o nomeou.” Na véspera, Pedro Rebelo Pinto afirmara ao Negócios: “Fui contactado pelo BES no sentido de poder dar uma ajuda a algumas das suas empresas. Uma delas é a João Lagos Sports”. João Lagos não desmente, pois, o Negócios, mas o seu futuro presidente executivo.

5) João Lagos Sports vai ser reestruturada
João Lagos explicou que o seu grupo vai ser reestruturado em empresas satélite. Não disse como. Não é por partir um problema em vários que ele se resolve. A situação financeira da empresa precisa de uma coisa: capital, próprio ou alheio. Se assegura que a sua empresa vai sobreviver, é porque há um novo apoio que ainda não é conhecido.

Estes são os factos. Lamentamos que João Lagos não tenha querido responder aos contactos, telefonemas e “emails” que lhe enviámos antes de publicar a notícia, o que certamente teria evitado o único erro da notícia: a posição accionista do BES. Porque não foi nem podia ser desmentido: a João Lagos Sports está em falência técnica, tem um pedido de insolvência apresentado por um credor, vai ser reestruturada, terá um novo presidente executivo, o BES assumiu protagonismo nessa reestruturação – e não conseguirá sobreviver às dificuldades sem novos apoios.

Só não fracassa quem não tenta. Como já escrevi, João Lagos tem levado o nome de Portugal alto no desporto. Por isso conquistou o que se pode chamar de “boa imprensa”. Mas esse mimo que lhe demos, inclusive no Negócios, pelo êxito desportivo das suas organizações não nos inibe de noticiar o seu insucesso económico. Até pelos seus credores, incluindo o Estado que sempre o apoiou mais do que a qualquer outro concorrente seu.

No ténis, quem falha o ás tem um segundo serviço. Mas não tem terceiro. Espero que a João Lagos Sports não falhe a sua oportunidade. De João Lagos não guardo rancores. Desejo-lhe boa sorte. Mas desejo, sobretudo, que deixe de precisar da sorte. Não é só por ele, é pelas dezenas de credores a quem deve dinheiro, de trabalhadores a quem deve salários, pelos accionistas que com ele investem, pelo Estado que o apoia. E, sim, pelo desporto português.



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