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21 de Julho de 2006 às 13:59

Para além das aparências

Diga-se já que o Jornal de Negócios defende os mesmos objectivos reformistas para a educação que Maria de Lurdes Rodrigues procura concretizar.

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E diga-se também que a dificuldade mais evidente para o sucesso da reforma, não está nos professores e nos casuais acidentes de percurso mas na inabilidade política que a ministra frequentemente revela.

Comecemos por este aspecto decisivo. Maria de Lurdes Rodrigues não tem jeito nem querer para seduzir a comunicação social, os professores, os sindicatos, os pais, os alunos, os deputados, como aliás bem se viu ontem no debate parlamentar sobre o caso dos exames do 12º ano.

A sua lógica argumentativa, a sua fadiga permanente em relação às frases feitas, aos efeitos retóricos, à lógica do remate, até a sua entoação discursiva, afastam-na do actual tempo político.

Deste ponto de vista, Maria de Lurdes Rodrigues destoa. E os deputados apreciam esse destoar que consideram ridículo e excelente motivo para escarnecer. Porque, no plenário do parlamento, as coisas continuam a passar-se segundo a boa e velha tradição republicana.

Neste sentido, à medida que o tempo vai passando, a ministra da Educação vai acumulando antipatias e obstáculos e o seu caminho vai ficando cada vez mais difícil de percorrer. E fica cada vez mais difícil imaginar como é que alguma vez ela poderá escapar do emaranhado em que se tem envolvido.

Porém, excluindo este aspecto, Maria Lurdes Rodrigues é a ministra da Educação que Portugal quer ter.

Façamos uma lista para que se perceba o alcance da afirmação: Sottomayor Cardia, Valente de Oliveira, Veiga da Cunha, José Augusto Seabra, Vítor Crespo, Fraústo da Silva, Deus Pinheiro, Roberto Carneiro, Ferreira Leite, Marçal Grilo, Júlio Pedrosa, David Justino, Carmo Seabra.

Maria de Lurdes Rodrigues compara e destaca-se porque de cada vez que age, rompe.

Rompe porque todo o seu discurso e pragmática estão focados na devolução da responsabilidade educativa às escolas e no objectivo de aumentar o sucesso escolar através da mudança de comportamentos.

É verdade que não foi a única ministra a defender estes princípios e é verdade que beneficia do trabalho dos seus antecessores. Mas a sua produtividade é, sem dúvida, muito superior.

Pode dizer-se que as aulas de substituição continuam, em muitos casos, a estar recheadas de conflitos e contradições. Mas a verdade é que a vergonha da irresponsabilidade da escola, enquanto instituição, no estímulo aos furos foi exposta com realismo.

Pode dizer-se que o inglês, a educação física e artística, e a extensão dos horários no primário estão envoltos em inúmeros atropelos e simplificações. Mas a verdade é que isso cumpre com os objectivos de qualidade que Portugal exige.

Pode dizer-se que as escolas não estão preparadas para as responsabilidades que finalmente o Ministério da Educação lhes devolveu. Mas a verdade é que as escolas são empresas que têm objectivos, metas e responsabilidades que não pertencem a mais ninguém.

Por isso, é obrigatório avaliar esta ministra para além das aparências, para além da sua inabilidade política. E, até agora, só podemos dizer que esta é a ministra que queremos.

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