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17 de Janeiro de 2008 às 13:59

O cabo do medo

Com algum simplismo, pode dizer-se que o mercado não reagiu bem à eleição de Santos Ferreira e à clarificação do poder no BCP. O tombo do título na abertura da bolsa foi expressivo e a recuperação ao longo da sessão não evitou que fechasse a perder 6%. Ma

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Essa é uma possibilidade de que Carlos Santos Ferreira não dispõe. Os prejuízos do Citigroup de 9,8 mil milhões de dólares foram apresentados pelo novo CEO, Vikram Pandit, que os considerou “inaceitáveis”. Uma afirmação mais fácil de fazer por alguém que está a chegar e pode sobrecarregar o legado do seu antecessor, Chuck Prince, pois quanto pior este for, melhor será a sua recuperação. Só que, na assembleia do BCP, Filipe Pinhal fez questão de dar aos accionistas indicadores sobre as contas de 2007, desafiando a fúria da CMVM, mas deixando claro o seu desempenho. E é esse o ponto de partida da nova liderança do BCP.

Santos Ferreira não tem pela frente tarefa fácil, embora a sua liderança venha pôr fim à dispersão em que viveu a gestão do banco no últimos meses. Este é o pior momento para fazer o “turn around”, com a crise de liquidez que afecta o sistema financeiro a nível internacional.

Pinhal também falou sobre isso aos accionistas, ao reconhecer que o próprio banco estudou os activos de que pode dispor para fazer face a eventuais problemas de liquidez e de solvabilidade, incluindo participações financeiras, património imobiliário ou, até, operações no exterior. Percebe-se que falar em aumentos de capital na actual conjuntura seria suicídio.

É errado pensar que o BCP é um caso único na banca portuguesa. É um caso único na situação de instabilidade, que se prolongou de forma insólita e assumiu proporções inesperadas. Mas todos os bancos estão sujeitos a uma conjuntura excepcional que está a prejudicar o funcionamento dos mercados interbancários, onde os bancos se financiam para as operações de curto e médio prazo. E de todos os bancos portugueses, a Caixa pode ser o menos vulnerável.

Estamos a viver uma crise de confiança. Os bancos não emprestam uns aos outros porque não conhecem a qualidade do balanço dos concorrentes. E a situação não vai melhorar enquanto não forem fechadas as contas de 2007 e ficar esclarecida a dimensão das perdas. Se ficar.

Por tudo isto, há já quem compare a situação actual com a crise bancária que se seguiu à grande depressão de 1929, porque agora, como há 80 anos, é o sistema financeiro que está na  origem das dificuldades da economia, pelo menos para fora dos Estados Unidos.

A Reserva Federal americana tem sinalizado os mercados para futuras descidas das taxas de juro, como sempre mais reactiva do que o Banco Central Europeu. Não se sabe se será suficiente para evitar que a economia norte-americana entre em recessão. E até os candidatos presidenciais, sobretudo os democratas, já apresentaram pacotes para apoiar as famílias sobreendividadas, numa altura em que começa a perceber-se que os problemas podem não se limitar ao crédito à habitação mas alastrar aos cartões de crédito e outras formas de financiamento ao consumo.

É o cabo do medo no sistema financeiro. Enquanto ele não estiver dobrado, não haverá paz para ninguém.

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