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Não há "stress"?

Se o cepticismo dos analistas que se pronunciaram sobre os resultados dos testes de resistência a 91 bancos europeus estiver correcto, o exercício terá falhado por se parecer demasiado com o sistema de ensino português.

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Mais do que avaliar com rigor, o importante é maximizar as aprovações e minimizar as reprovações.

Apesar do alívio das pressões sobre as taxas de juro da dívida soberana dos países europeus com os problemas mais graves nas contas públicas e da descida do preço dos seguros contra o incumprimento, as reticências sobre a credibilidade dos testes de "stress" andaram em crescendo nas últimas semanas. Há alguns motivos válidos para sustentar esta descrença, num processo que visou afastar receios sobre a saúde do sistema financeiro europeu.

Para dissipar dúvidas, a iniciativa poderia ter sido mais abrangente na análise aos riscos dos activos detidos pelos bancos. Mas ficou de fora parte das carteiras de obrigações, constituídas pelos títulos que as instituições detêm até à maturidade, onde se podem esconder maçãs podres capazes de contaminar as restantes. Depois, o cenário de um dos membros da Zona Euro cessar pagamentos aos credores não foi enquadrado no exame, o que subestima uma possibilidade que diversos economistas ainda não excluíram.

Há bem pouco tempo, Paul Krugman, insuspeito de fazer parte de alguma conspiração dos especuladores e das agências de "rating" contra o euro, considerou "plausível" a possibilidade de a Grécia sair da união monetária. E acrescentou que uma eventualidade deste calibre teria a potência suficiente para arrastar Espanha, Portugal e Irlanda.

Num ponto, pelo menos, os analistas menos crentes na bondade dos testes de "stress" terão razão. Numa situação em que a desconfiança atingiu uma proporção que leva a que instituições com liquidez disponível não queiram emprestar a bancos necessitados de recursos por temerem um calote, transparência e abertura deviam ser palavras-chave. Neste caso, talvez a solução mais acertada teria sido a de não deixar nada de fora e pedir aos bancos para abrirem os livros para que credores, actuais e potenciais, pudessem ver o que realmente está nos balanços.

Ainda assim, crer na catástrofe que pode vir a revelar a inutilidade do exercício já teve mais motivos de sustentação. Desde a eclosão da crise financeira, diversos bancos já reforçaram os seus capitais próprios, embora também seja certo que os mercados foram insensíveis ao facto. Sucedeu, entre outros, com os bancos portugueses que foram sujeitos a prova e que têm, ainda, a vantagem de actuarem num mercado onde a concorrência é mitigada a bem de todos.

Boa parte da saúde da Caixa, BCP, BES e BPI que os exames atestaram, fundamenta-se na circunstância de os clientes estarem dotados de grande generosidade, ainda que forçada. Aceitam subidas no preço dos créditos à habitação assim que as taxas de juro indexantes sobem, assim como se resignam a ver as suas poupanças serem remuneradas a valores baixos quando as condições de mercado justificariam melhores retornos para os seus depósitos.

Cépticos e crentes terão, a partir de hoje, a oportunidade de observarem os resultados do teste de "stress" aos testes de "stress". Se o mercado interbancário se libertar da paralisação que tem obrigado os bancos portugueses a estarem ligados à botija de oxigénio de Frankfurt, é porque a credibilidade foi reconhecida.

Caso contrário, não serão apenas as instituições financeiras objecto de suspeitas que ficarão em maus lençóis. Serão, também, as autoridades monetárias europeias e os políticos que se regozijaram com o veredicto. E, isso sim, é que seria um verdadeiro "stress".



joaosilva@negocios.pt





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