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09 de Junho de 2006 às 13:59

Mundialex

Um tipo verdadeiramente inteligente como Johan Cruijff disse um dia que o futebol é um jogo em que «Ganha a equipa que marcar mais um golo que a outra». E a sua audiência, perante tamanha sapiência, rendeu-se. É que, em todos os outros desportos com bola,

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Aliás, não sei se antes se depois de ter escrito «O Macaco Nu», Desmond Morris afirmava mesmo que «As raízes da nossa Tribo do Futebol mergulham fundo no nosso passado primitivo». Esta teoria antropológica fez o seu caminho pois, inegavelmente, a humanidade reconhece que os seus mais primitivos instintos emergem em época de campeonatos mundiais e que, em mais nenhum domínio, os povos se unem tribalmente frente à televisão. Agora, porque é o futebol e não o jogo do berlinde, que está na matriz genética da população mundial, ainda está por explicar.

Mas há quem pense diferente. O senhor Tom Weir não vai em conversas destas. Diz ele: «O resto do mundo adora futebol? Odiar o futebol é mais americano do que a tarte de maçã feita pela nossa mãe». Portanto, ficamos a saber que a teoria de Desmond Morris, que era obviamente inglês, cobre apenas parte da teoria darwiniana da evolução das espécies desportivas.

Pete Davies acrescenta ainda uma pitada shakespeariana à questão. Para ele, «Futebol é drama». Não há qualquer justiça neste desporto. O que conta são os azares, as circunstâncias casuais, as criminosas decisões erradas. E tem razão! Afinal, o campeonato do mundo não é mais do que uma telenovela de emoções com efeitos colaterais.

Se não, vejamos que, ainda há dias, três reputados economistas, a saber Alex Edmans do MIT, Diego Garcia de Dartmouth e Oyvind Norli da Norwegian School of Management, divulgaram um profundo estudo em que demonstravam a forte afinidade entre os resultados desportivos de um país a nível internacional e os mercados de capitais. E concluíam que uma derrota pode levar a uma queda do índice bolsista desse país.

É claro que esta é a versão economicista da coisa. Luis Suarez não precisou de grandes funções econométricas para se fazer entender: «Na América Latina, a fronteira entre o futebol e a política é vaga. Há uma longa lista de governos que caíram ou foram removidos após a derrota da selecção nacional». Lula da Silva que se cuide. Pois caso o Brasil venha a vencer o Mundial 2006 ainda se arrisca a ganhar as próximas eleições.

Deste ponto de vista, o nosso estimado George Orwell também achava que «O futebol, parece-me, não é realmente jogado pelo prazer de dar pontapés na bola mas, outrossim, uma espécie de combate».

Mas Orwell tinha uma certa tendência para ver apenas o lado negro da história. Stanley Rous, mesmo no período mais pessimista da Guerra Fria e da Guerra do Vietnam, achava exactamente o contrário «Num mundo frequentado pelas bombas de hidrogénio e de napalm, o campo de futebol é um lugar em que a sanidade e a esperança se mantêm intocáveis».

O optimismo de Rous não tem, porém, grande sentido. Já vimos demasiadas vezes a insanidade a tomar conta do futebol.

Mas regressemos ao grande mestre. Cruijff dizia também que: «Tem de se rematar, caso contrário não se consegue marcar». Pois é. O futebol é o único desporto com bola em que é preciso rematar!

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