Opinião
Estratégia falhada
Era o negócio mais aguardado do último ano. Desde que o BCP recomprou à Eureko a totalidade do capital da Seguros & Pensões, operação anunciada no final de 2002, que se aguardava que o grupo encontrasse comprador para os seus activos do sector segurad
Era o negócio mais aguardado do último ano. Desde que o BCP recomprou à Eureko a totalidade do capital da Seguros & Pensões, operação anunciada no final de 2002, que se aguardava que o grupo encontrasse comprador para os seus activos do sector segurador.
Depois de uma falsa partida (no final de 2003, o negócio estava praticamente fechado com a Axa, e o ano começou com o BCP a anunciar a ruptura do negócio, ao que consta por questões de preço), o assunto fica resolvido. Ou quase.
O compasso de espera provocado pela ruptura com os franceses acabou por revelar-se benfazejo. Jardim Gonçalves vende por melhor preço e arrecada o consolo adicional de ter mantido uma fatia importante do sector em mãos portuguesas. Tão portuguesas que são do Estado. O banqueiro que, nos anos 80, abandonou a presidência do estatal BPA para fundar um banco privado, contribui agora para reforçar a hegemonia da Caixa no sector segurador. Império e Bonança juntam-se agora ao rol de marcas históricas do sector como a Fidelidade e a Mundial Confiança, que já pertencem à Caixa.
Mas se Jardim Gonçalves pode ir para férias mais aliviado, a resolução do problema não deixa de representar o epílogo de uma estratégia falhada. A entrada no sector dos seguros, encetada com a criação da Ocidental, reforçada depois com a entrada no grupo da Bonança (por aquisição do BPA) e da Império (Banco Mello) foi acompanhada de uma forte aposta estratégica no sector, que culminou com a vice-presidência da Eureko.
Tão grande foi a ambição como grande a queda., que arrasou um dos seus delfins. O BCP reconhece não ter vocação nem competência para gerir seguros e concentra-se naquilo que sabe fazer, a força de vendas dos seus balcões, o que justifica a manutenção de uma posição de 50%, embora sem participação na gestão, nas empresas de seguros vida, em associação com a Fortis (que venceu na recta final dos franceses da CNP, já presentes na Global). Concentra-se, portanto, na «bancassurance», o ponto de partida para a entrada nos seguros, de onde nunca deveria ter saído.
Se depois de uma década de experimentações, os banqueiros parecem chegados à conclusão de que banca e seguros, apesar da sua componente financeira, não são bem o mesmo «métier» (até o BES admite alienar a Tranquilidade, a sua seguradora histórica e a porta de entrada para a reconstituição do grupo) como entender este interesse do banco de Estado pelos seguros, quando acabou há pouco de digerir a Mundial Confiança?. De acordo com o seu presidente e responsável pela área de negócios, já é o terceiro maior «player» à escala ibérica. Por muito que isso valha, António de Sousa bem sabe que é nos seguros de vida que a Caixa mais precisa de crescer e que a integração das novas empresas vai ter um preço.
E que se esta concentração pode passar na Concorrência, não deixa de ser anacrónico que quase metade do sector segurador de ramos reais esteja nas mãos do Estado. Depois de duas décadas de privatizações.