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Este ministro não é viável

Freitas foi ficando muito parecido com Soares. Nas ideias, nas atitudes, no radicalismo. Há duas coisas, porém, que nunca conseguirá imitar do seu antigo rival político: a idade e o estatuto. Por isso, a Soares tudo se desculpa. Por isso, com Freitas, o d

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Mas não pode um professor de Direito ter opiniões sobre o processo de construção política da Europa? Claro, pode e deve. É bom para a democracia que os professores de Direito, de Economia, de Apicultura e de Artes Mágicas tenham e difundam opiniões. O problema de Portugal é ter sociedade civil ausente, não em excesso.

Sucede que o professor Freitas não é um simples membro da sociedade civil. Já foi, quando estava perto de se tornar um ícone do Bloco de Esquerda. Agora tem responsabilidades.

É ministro! Por acaso, o principal ministro que Sócrates tem para lidar com os assuntos onde lhe deu agora para divulgar as «opiniões pessoais».

E, por mero acaso, vão no sentido exactamente oposto às «opiniões» do primeiro-ministro, do Governo, do Presidente da República, do PS, do PSD. Ou terá sido um acaso que, entre todos os órgãos de soberania e no meio de todos os partidos, apenas tenha recebido a aclamação do PC e do Bloco?

O professor Freitas até podia ter dimensão para ser ministro das relações internacionais deste Governo. Tem presença, fala bem inglês, já viajou muito e é provável que até trate por «tu» bastantes chefes de Estado e de Governo.

O problema é que, desde o princípio, o Governo socialista parece não ter dimensão suficiente para acomodar o ego deste seu ministro.

Aliás, isso até ficou evidente ainda antes de tudo ter começado. No dia em que Sócrates anunciava ao país a sua equipa, estava o senhor professor a explicar ao «Expresso» que só aceitara o convite depois de o primeiro-ministro lhe ter submetido a lista de todos os outros ministros.

Poucos perceberam a ida de Diogo Freitas do Amaral para o Governo do engenheiro Sócrates. Mas só o próprio não percebia que precisava mais ele do Governo do que o Governo precisava dele. Não foram precisos três meses para confirmar este tremendo erro de «casting».

No seu mandato já apresenta dois troféus: um cineasta que consumia haxixe num país do Golfo Pérsico; um ex-primeiro-ministro destacado para um alto cargo na ONU. Sendo até hoje pouco claro o papel que o MNE efectivamente assumiu na libertação de um e na eleição de outro.

Fora isso, sobra pouco. A ameaça de veto ao IV Quadro Comunitário de Apoio. Uma visita ao Brasil. E um beijinho em Condollezza Reice.

Espanha é a primeira, a segunda e a terceira prioridade da diplomacia, pela voz do primeiro--ministro. O ministro da Economia apoiou retaliações comerciais à China, mas não ouvimos o MNE destacar a importância estratégica da China para a Europa, na zona mais dinâmica do planeta.

Mas tem opinião sobre o Tratado europeu: «Já não é viável». É a opinião que também tenho. Sobre o mesmo Tratado e sobre este MNE.

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