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18 de Abril de 2006 às 13:59

Demasiado caro

Os combustíveis já subiram cerca de 10% desde o princípio do ano e deram um forte contributo para a subida da inflação. As petrolíferas fazem repercutir os aumentos dos preços do petróleo nas gasolinas mais cedo e mais depressa do que parece necessário e

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Desde 2002 que estamos a assistir a este fenómeno da subida continuada do preço do petróleo e tudo indica que o movimento não vai parar tão depressa. Sendo uma matéria-prima importada, todo o aumento de preço no mercado internacional se traduz por uma transferência de rendimento para o exterior sem qualquer compensação económica. Mas não só. A inflação importada também dificulta as exportações e convida o Banco Central Europeu a intervir, que é aliás o que se está a passar este ano, embora por si só não seja o motivo exclusivo que justifica a «correcção» continuada e em alta dos juros europeus.

De todas as formas, os consumidores não pagam apenas os combustíveis mais caros e o consequente aumento do preço das mercadorias e serviços. Pagam também a correcção financeira através do aumento de juros. E a pergunta que sobra é se em Portugal se pode fazer alguma coisa quanto a isso, se há alguma forma de moderar os aumentos dos combustíveis, se há alguma maneira de escapar ao problema.

Fernando Pinto e a sua equipa na TAP têm uma história para contar. Em pouco tempo, transformaram a transportadora aérea numa empresa a sério e, não fossem os continuados aumentos dos combustíveis, a TAP poderia apresentar resultados excitantes. Apesar da criatividade da gestão, apesar da velocidade de adaptação à subida dos combustíveis, a gestão da TAP não consegue «enganar» a brutalidade do aumento do petróleo.

No início de 2002, até custa a acreditar, o barril de petróleo Brent custava cerca de 20 dólares e ontem já valia 71,4 dólares e ultrapassava o preço do Crude. De uma maneira simplista, um litro de petróleo custa agora tanto como custavam 3,5 litros há quatro anos. Mesmo introduzindo a obrigatória correcção cambial, no início de 2002 o dólar valia 1,15 euros e agora só vale 0,85, o panorama não se altera substancialmente.

Este crescimento dos preços parece indicar que os países produtores serão os principais beneficiados com a escalada mas todos os organismos internacionais afastam essa hipótese. Quem tem vindo a ganhar crescentemente é a cadeia industrial, comercial e financeira que se coloca a jusante dos produtores. Os investidores financeiros que têm apostado na valorização dos futuros sobre petróleo, as refinarias que têm aumentado visivelmente as margens de negócio e, na maior parte dos países, os Estados que taxam proporcionalmente os produtos petrolíferos.

Nesta situação, notícias que dão conta da existência de planos americanos e britânicos para uma intervenção militar no Irão contribuem decisivamente para a escalada dos preços dos combustíveis beneficiando os vendedores (refinarias), prejudicando os compradores (os países dependentes) e nada concedendo aos países produtores.

Trata-se portanto de uma questão política que carece de solução política e quanto a ela Portugal só pode usar a diplomacia.

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