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26 de Março de 2008 às 13:59

Bolsas que sobem CMVM que desce

As percentagens têm esta particularidade: as grandes subidas são sempre pequenas se se sucedem a grandes descidas. Assim aconteceu ainda agora com as acções da Bear Stearns, que caíram 84% num dia e subiram 89% no outro: apesar do aparente reequilíbrio, a

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O exemplo serve para aprender a ler o que se passa esta semana na Bolsa. Ontem, Lisboa teve a maior subida desde que a Sonaecom lançou a OPA sobre a PT. Mas mais 3,5% hoje valem incomparavelmente menos do que valiam há dois anos.

Valem sobretudo pela esperança de que o mercado possa estar a inflectir. É demasiado prematuro afirmá-lo e a próxima ronda de apresentação de resultados, relativos ao primeiro trimestre, será importante para medir o que falta saber da crise financeira e, também, a que ponto estão os reguladores dispostos a ir para a debelar. Porque já estão a ir muito longe, intervindo directamente nas empresas.

A verdade é que há muito dinheiro parado à espera de reentrar. Cansados da volatilidade, muitos investidores saíram do mercado português em Fevereiro. Os níveis de corretagem caíram a pique. A corrida aos resgates de fundos de investimento foi de tal ordem que forçou as instituições financeiras a endividarem-se para entregarem tanto dinheiro aos investidores. Muito desse dinheiro está agora em depósitos a prazo. Em banho-maria para voltar ao mercado.

As autoridades estatais têm de facto um papel determinante. Nos Estados Unidos, a Fed assumiu o papel de bombeiro e já está a ser acusada de intervencionismo, por forçar uma compra do Bear Stearns, a preços de saldo, pela JP Morgan. E por se especular que poderá assumir directamente o risco em produtos financeiros que estão a colapsar.

Por cá, e como o Jornal de Negócios hoje noticia, a CMVM vai perder o seu director de política regulatória, que sai para uma sociedade de advogados de Lisboa, criteriosamente escolhida por não ter conflitos de interesses com quem acaba de estar no centro de procedimentos jurídicos com várias empresas cotadas. Porém, a saída de Paulo Câmara da CMVM não acontece num momento qualquer: tem lugar numa altura em que a credibilidade da CMVM nos tribunais sofreu um rude golpe.

A sentença do caso LJ Carregosa, proferida em Janeiro e agora conhecida em detalhe, arrasa o trabalho da CMVM. Todas as provas recolhidas pelo regulador foram declaradas nulas, o que foi suficiente para invalidar a condenação feita àquela corretora. Mais: a CMVM leva um raspanete e é acusada pelo juiz de recorrer a “meios enganosos” e “ofensivos da integridade moral das pessoas”, invertendo o princípio de presunção de inocência e recolhendo informação contra a LJ Carregosa que a própria estava a fornecer desconhecendo de que era arguida, o que indicia má-fé da equipa de Carlos Tavares. Tudo isto vem na sentença e não só envergonha a CMVM como lhe restringe a actuação em casos futuros.

Começa a ser crónica a doença dos reguladores portugueses terem fraca artilharia para fazer valer em tribunal as suas decisões. Quem tem um caso tão delicado como o do BCP em mãos precisa de ter mais confiança em si mesmo do que o caso da LJ Carregosa ensina.

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